São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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Crise ensina à Coréia do Sul lição sobre globalização

Atual turbulência financeira está mostrando ao país a importância de diversificar exportações e importações

Os 4 principais compradores de produtos sul-coreanos (Hong Kong, EUA, Japão e China) respondem por quase metade do total

DENYSE GODOY
ENVIADA ESPECIAL À CORÉIA DO SUL

Os visitantes são recebidos no imenso parque industrial da Hyundai em Ulsan, na região sudeste da Coréia do Sul, com um vídeo no qual a empresa orgulhosamente exibe sua história, suas atividades, seus produtos e planos. Aos 41 anos, é a quinta maior montadora do mundo. As fábricas da Índia e da China produzem como nunca, e novas unidades estão sendo construídas na Rússia e na República Tcheca.
Tanta eloqüência tem como objetivo provar que a Hyundai é uma marca global. Entretanto, na peça publicitária não se diz palavra sobre o Brasil, onde a companhia se prepara para construir uma segunda fábrica -a primeira é fruto de parceria com o grupo de concessionárias automobilísticas Caoa-, a América Latina, a África ou a Oceania. Inquirido a respeito, o representante do departamento de relações públicas que comanda a apresentação responde, sem graça, que não sabe quando o vídeo foi elaborado. Certamente essas outras partes do mundo são importantes na estratégia da montadora, apressa-se a acrescentar.
É a força do hábito. Os conglomerados sul-coreanos, chamados "chaebols", sempre concentraram a sua atenção nos EUA e nos vizinhos China e Japão. Da Samsung o mercado brasileiro somente conhece os aparelhos eletrônicos -poucos sabem que a empresa também tem forte atuação no setor de construção civil.

Laços
Mas ressaltar que há, sim, grande interesse em estabelecer e fortalecer laços comerciais com outras nações não é mero esforço retórico. A atual crise financeira está mostrando à Coréia do Sul a importância de diversificar exportações e importações.
Os quatro principais compradores de produtos sul-coreanos -China, EUA, Japão e Hong Kong- respondem por aproximadamente 46,5% do total; no caso do Brasil, por exemplo, essa parcela é de 36%. Cerca de metade do PIB (Produto Interno Bruto) da Coréia do Sul vem das exportações, um dos mais elevados índices do planeta. Aí reside a grande preocupação dos "chaebols". Só a Hyundai viu as suas vendas para o mercado norte-americano, origem de um quarto do seu faturamento, caírem 25% em setembro. "É essencial que as companhias ampliem seu foco, e a América Latina deve ser prioridade", diz Chung Kyu Ho, professor emérito da Universidade Hankuk de Estudos Internacionais.

Festivais
Na próxima semana, as embaixadas sul-coreanas no Peru, no Chile e no Brasil promovem festivais culturais para fazer o país mais conhecido. Delegações de empresários também aportarão no continente a fim de fazer contatos. "Os exportadores coreanos têm a grande qualidade de serem flexíveis. Saberão encontrar e explorar as oportunidades", afirma Jang-hee Yoo, professor de estudos internacionais da Universidade Feminina Ewha.
O momento, de alta instabilidade econômica em todo canto, talvez não seja o ideal. Só que os sul-coreanos não têm escolha: sua população é pequena, de 48 milhões de pessoas, e não há muito espaço para a demanda interna crescer, ao contrário do Brasil e da China, cujas classes médias estão inchando, ávidas por consumir. Para estimular os gastos, o presidente Myung-bak Lee, empossado no começo deste ano, prepara um pacote de corte de Imposto de Renda para pessoas físicas e empresas de US$ 19 bilhões. E pede ao povo que não deixe de comprar.

Moral elevado
A função primordial de Lee tem sido justamente manter o moral da sociedade elevado e acalmar os estrangeiros que investem no país. A crise asiática de 1997 ainda está bastante viva na memória. Porém, frisa o presidente, a situação mudou completamente. A Coréia do Sul acumulou US$ 240 bilhões em reservas -trata-se da sexta maior poupança mundial- e seus bancos são bem capitalizados. Sua economia cresceu à taxa média de 4,4% ao ano de 2003 a 2007 e espera-se que sustente o ritmo em 2008.
Apesar disso, a Bolsa de Valores sul-coreana recuou mais de 50% nos últimos 12 meses e a moeda nacional, o won, sofreu desvalorização quase do mesmo tamanho. O movimento é global -os grandes fundos estão desabaladamente se desfazendo de suas posições para cobrir perdas nos EUA-, porém analistas e autoridades sul-coreanas dizem acreditar que a desconfiança quanto à solidez do país ajuda a explicar o nervosismo dos mercados.


A jornalista DENYSE GODOY viajou a convite do governo sul-coreano


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