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Crise ensina à Coréia do Sul lição sobre globalização
Atual turbulência financeira está mostrando ao país a importância de diversificar exportações e importações
Os 4 principais compradores de produtos sul-coreanos (Hong Kong, EUA, Japão e China) respondem por quase metade do total
DENYSE GODOY
ENVIADA ESPECIAL À CORÉIA DO SUL
Os visitantes são recebidos
no imenso parque industrial da
Hyundai em Ulsan, na região
sudeste da Coréia do Sul, com
um vídeo no qual a empresa orgulhosamente exibe sua história, suas atividades, seus produtos e planos. Aos 41 anos, é a
quinta maior montadora do
mundo. As fábricas da Índia e
da China produzem como nunca, e novas unidades estão sendo construídas na Rússia e na
República Tcheca.
Tanta eloqüência tem como
objetivo provar que a Hyundai
é uma marca global. Entretanto, na peça publicitária não se
diz palavra sobre o Brasil, onde
a companhia se prepara para
construir uma segunda fábrica
-a primeira é fruto de parceria
com o grupo de concessionárias automobilísticas Caoa-, a
América Latina, a África ou a
Oceania. Inquirido a respeito, o
representante do departamento de relações públicas que comanda a apresentação responde, sem graça, que não sabe
quando o vídeo foi elaborado.
Certamente essas outras partes
do mundo são importantes na
estratégia da montadora,
apressa-se a acrescentar.
É a força do hábito. Os conglomerados sul-coreanos, chamados "chaebols", sempre concentraram a sua atenção nos
EUA e nos vizinhos China e Japão. Da Samsung o mercado
brasileiro somente conhece os
aparelhos eletrônicos -poucos
sabem que a empresa também
tem forte atuação no setor de
construção civil.
Laços
Mas ressaltar que há, sim,
grande interesse em estabelecer e fortalecer laços comerciais com outras nações não é
mero esforço retórico. A atual
crise financeira está mostrando
à Coréia do Sul a importância
de diversificar exportações e
importações.
Os quatro principais compradores de produtos sul-coreanos -China, EUA, Japão e
Hong Kong- respondem por
aproximadamente 46,5% do
total; no caso do Brasil, por
exemplo, essa parcela é de 36%.
Cerca de metade do PIB (Produto Interno Bruto) da Coréia
do Sul vem das exportações,
um dos mais elevados índices
do planeta. Aí reside a grande
preocupação dos "chaebols". Só
a Hyundai viu as suas vendas
para o mercado norte-americano, origem de um quarto do seu
faturamento, caírem 25% em
setembro. "É essencial que as
companhias ampliem seu foco,
e a América Latina deve ser
prioridade", diz Chung Kyu Ho,
professor emérito da Universidade Hankuk de Estudos Internacionais.
Festivais
Na próxima semana, as embaixadas sul-coreanas no Peru,
no Chile e no Brasil promovem
festivais culturais para fazer o
país mais conhecido. Delegações de empresários também
aportarão no continente a fim
de fazer contatos. "Os exportadores coreanos têm a grande
qualidade de serem flexíveis.
Saberão encontrar e explorar
as oportunidades", afirma
Jang-hee Yoo, professor de estudos internacionais da Universidade Feminina Ewha.
O momento, de alta instabilidade econômica em todo canto,
talvez não seja o ideal. Só que os
sul-coreanos não têm escolha:
sua população é pequena, de 48
milhões de pessoas, e não há
muito espaço para a demanda
interna crescer, ao contrário do
Brasil e da China, cujas classes
médias estão inchando, ávidas
por consumir. Para estimular
os gastos, o presidente Myung-bak Lee, empossado no começo
deste ano, prepara um pacote
de corte de Imposto de Renda
para pessoas físicas e empresas
de US$ 19 bilhões. E pede ao
povo que não deixe de comprar.
Moral elevado
A função primordial de Lee
tem sido justamente manter o
moral da sociedade elevado e
acalmar os estrangeiros que investem no país. A crise asiática
de 1997 ainda está bastante viva
na memória. Porém, frisa o presidente, a situação mudou completamente. A Coréia do Sul
acumulou US$ 240 bilhões em
reservas -trata-se da sexta
maior poupança mundial- e
seus bancos são bem capitalizados. Sua economia cresceu à taxa média de 4,4% ao ano de
2003 a 2007 e espera-se que
sustente o ritmo em 2008.
Apesar disso, a Bolsa de Valores sul-coreana recuou mais de
50% nos últimos 12 meses e a
moeda nacional, o won, sofreu
desvalorização quase do mesmo tamanho. O movimento é
global -os grandes fundos estão desabaladamente se desfazendo de suas posições para cobrir perdas nos EUA-, porém
analistas e autoridades sul-coreanas dizem acreditar que a
desconfiança quanto à solidez
do país ajuda a explicar o nervosismo dos mercados.
A jornalista DENYSE GODOY viajou a convite
do governo sul-coreano
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