São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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YOSHIAKI NAKANO

Revolução no mercado de capitais


O mercado de capitais é uma alternativa de financiamento a custos muitos menores do que os juros fixados pelo BC

APESAR DA asfixia imposta pelos preços macroeconômicos básicos -taxa de juros e taxa de câmbio- fora do lugar e pela carga tributária excessivamente elevada, os ventos favoráveis que vêm do exterior estão dando fôlego e novo ânimo aos empresários brasileiros.
Os países emergentes asiáticos e os exportadores de petróleo têm um enorme excesso de poupança e estão inundando o mundo com abundância de recursos a uma taxa de juros bastante baixa. Isso provocou uma significativa queda na taxa real de juros de longo prazo internacional e vem exercendo enorme pressão para a queda na taxa de juros no Brasil. Com a "heróica" resistência do Banco Central, a redução no custo do capital está ocorrendo por outras vias. Estão ocorrendo também grandes deslocamentos nas expectativas dos empresários.
Uma das formas que os empresários encontraram para contornar os freios impostos pelo Banco Central e pelo nosso sistema de crédito foi a ativação da Bovespa, que está desencadeando uma revolução no mercado de capitais. Neste ano, a captação de recursos, pela emissão de ações, alcançou US$ 36,7 bilhões até outubro. O valor de capitalização de mercado passou de R$ 500 milhões em 2003 para R$ 2,5 trilhões em outubro de 2007. O mercado de capitais se tornou uma realidade e uma alternativa de financiamento dos investimentos a custos infinitamente menores se comparados às taxas de juros fixadas pelo Banco Central.
Mesmo que o custo de emissão de ações seja ainda elevado, na medida em que o valor das ações tem aumentado fantasticamente e fica muito acima do custo de reposição do capital físico, as empresas têm estímulo para captar recursos na Bolsa, pois essa diferença representa um ganho e um forte estímulo para investimento produtivo.
Entretanto, como o preço de uma ação representa o valor presente da produção futura, se esta não se materializar por meio da acumulação de capital físico (ou aquisição de empresas fora da Bolsa), ela é uma riqueza virtual ou uma "bolha". No período de 2002 a 2006, enquanto a formação bruta de capital aumentou 61%, o Ibovespa avançou 295%. Dessa forma, para que a atual valorização das ações não entre em colapso, é fundamental que a acumulação de capital seja fortemente acelerada e que a economia brasileira acelere o seu ritmo de crescimento.
Os empresários já vislumbraram os setores que poderão liderar a aceleração do crescimento da economia brasileira. As expectativas de lucratividade estão se deslocando para setores como habitação e infra-estrutura, que apresentam enormes déficits, e de "ponta", como a agroenergia. Outro deslocamento fundamental na economia brasileira é a percepção de que a incorporação plena ao mercado das classes de renda C e D é que vai ser o elemento dinâmico que comandará a grande aceleração no crescimento. Resta ao governo colocar os preços relativos macroeconômicos no lugar correto e buscar pessoas capazes de estruturar a expansão desses setores, que poderão liderar um novo ciclo longo de crescimento acelerado. É preciso ampliar, aprofundar e dar maior consistência ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).


YOSHIAKI NAKANO , 62, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).


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