São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

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Eike Batista, 50, US$ 15 bi, mescla arrojo e reclusão

Empresário arrisca e surpreende nos negócios, mas é conservador socialmente

"No Brasil, os empresários sempre pegaram as coisas meio prontas, sem risco", afirma Eike Batista, cujas empresas têm "X" no nome

PEDRO SOARES
LUISA BELCHIOR
SERGIO TORRES

DA SUCURSAL DO RIO

Com arrojo na vida empresarial, Eike Batista, 50, construiu um patrimônio avaliado hoje em US$ 15 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões), mas é visto como conservador nas relações pessoais. Sobreviveu ao furacão Luma de Oliveira (um erro, na definição do pai, Eliezer Batista), mas chegou a pensar em abrir uma empresa de intermediação de encontros na busca de uma nova namorada.
Eike afirma que a afeição ao risco é sua característica, diferindo-o dos seus pares no mundo dos negócios. "No Brasil, os empresários sempre pegaram as coisas meio prontas, sem risco. Esse não é o meu perfil." Nascido muito rico, tornou-se bilionário por conta própria, sem o dinheiro do pai. Supersticioso, suas empresas levam o "X" no nome, como símbolo da multiplicação de lucros.
Eike (nome de origem alemã que se pronuncia "aique") surpreendeu o mundo dos negócios na semana passada ao investir R$ 1,6 bilhão em 28 áreas de exploração de petróleo e gás no leilão da ANP (Agência Nacional do Petróleo). Para os críticos, ele pagou caro. Eike afirma gostar de investimentos de risco, combinando, segundo ele, a experiência na engenharia com as finanças.
O ímpeto que lhe é característico, diz, veio dos tempos de esportista: "No esporte, só há chance de ganhar uma vez. Tudo tem de estar sempre no estado da arte. Trouxe isso para o mundo dos negócios".
O oceano sempre foi para Eike espaço de lazer e de competição. No biênio 1990/91, tornou-se campeão brasileiro, americano e mundial de motonáutica, na categoria offshore (espécie de F-1 dos mares, em que uma lancha pode atingir até 300 km/h). Parou de competir naquele ano a pedido da modelo Luma de Oliveira, com quem acabara de se casar.
Com a separação, 13 anos depois, Eike voltou às lanchas velozes. Em 3 de janeiro de 2006, no comando da "Spirit of Brazil", bateu o recorde da travessia Rio-Santos -percorreu os 407 km em 3h01min47s.
Construída nos EUA, a embarcação custou US$ 1,5 milhão. Com dois motores, de 3.000 cavalos cada um, consome 800 litros de gasolina por hora e costuma ficar ancorada em Angra dos Reis, cidade do litoral fluminense onde o empresário tem casa.
No momento, sua obsessão marítima está relacionada aos negócios. Possivelmente ainda neste mês, Eike inaugura com festa o navio "Pink Fleet", pioneiro de um projeto que inclui mais duas embarcações de luxo destinadas ao turismo classe A a serem incorporadas à frota do empresário em até dois anos.
Com investimento de US$ 19 milhões, 54 m de comprimento e capacidade para 450 pessoas, o "Pink Fleet" fará passeios turísticos diários pela baía de Guanabara e será alugado para eventos particulares. São quatro conveses e seis ambientes com restaurantes, bares, pistas de dança e sala de reuniões.

Origem alemã
O perfeccionismo e a meticulosidade, afirma, tiveram origem tanto no esporte como em sua ascendência alemã. A mãe nasceu em Hamburgo, e ele viveu dos 12 aos 23 na Alemanha, onde vendeu seguros na época da faculdade de engenharia.
Aos 23 anos, de volta ao Brasil, estreou no mundo dos negócios, com uma trading de ouro. Ganhou US$ 6 milhões comprando e vendendo o metal. Reinvestiu tudo na aquisição de áreas de reservas de ouro. Foi a gênese do seu império.
"Gosto de "engenheirar" projetos especialmente de exploração de recursos naturais que começam do zero." Foi o que fez ao comprar direitos de exploração de lavras no Brasil, Canadá, Estados Unidos e Chile e prospectar negócios em mais uma dúzia de países -inclusive na Grécia, onde sofreu seu maior revés: perdeu US$ 300 milhões.
Eike avalia suas empresas em US$ 15 bilhões -atuam em logística, mineração, eventos e restaurantes, entre outros. Ele prevê que a estreante OGX, criada para desenvolver reservas de óleo e gás, valerá, em dois anos, US$ 6 bilhões.
"Tem potencial para ser o principal negócio do grupo, ainda mais com o petróleo no preço em que está", diz o amigo Raphael de Almeida Magalhães, ex-ministro e conselheiro de empresas de Eike.

Infra-estrutura
Atualmente, sua principal atividade é a mineração de ferro. Em 2005, fundou a MMX para competir com a Vale e se tornar uma empresa de classe mundial. Comprou reservas em Minas Gerais e no Amapá e anunciou dois megaempreendimentos logísticos: um mineroduto e um porto em Campos.
Causou polêmica e descrença no setor. Todos se perguntavam se ele teria capacidade financeira. Foi quando deu uma tacada decisiva: atraiu a gigante britânica Anglo American, que comprou 49% da MMX por US$ 1,15 bilhão.
Filho do ex-presidente da Vale, na época estatal, Eliezer Batista, Eike, assim como o pai, tem gosto por projetos de infra-estrutura logística. Quer criar os dois maiores portos do país e, junto deles, atrair indústrias, com a oferta de energia gerada em termelétricas.
Além do porto do Açu (projeto de US$ 5 bilhões), em Campos dos Goytacazes (RJ), investe num porto de calado profundo em Peruíbe (SP), orçado em R$ 3 bilhões. O problema é que a área fica no mesmo local onde a Funai pretende instalar uma reserva indígena.

Relacionamento
Toda agitação empresarial, porém, não tem eco em sua vida social. Adepto do feng shui, Eike é definido como avesso a baladas, apesar de ter sido casado por 13 anos com Luma, que por cinco anos foi a rainha da bateria da escola de samba Unidos da Viradouro e uma das principais figuras do Carnaval do Rio de Janeiro.
A característica, diz o amigo e empresário Walter Guimarães, tornou-se um problema com a separação, em 2004. Ele nega que Eike seja mulherengo. "Logo que se separou da Luma, a mulherada ia em cima, mas ele não gostava disso. Falou-me até para abrirmos um site de relacionamento para ele conseguir conhecer pessoas [risos]."
Não foi preciso. No mesmo ano, Guimarães apresentou a Eike uma amiga, a advogada Flávia Oliveira, 27, que voltava de uma temporada de estudos nos Estados Unidos. "Ela é totalmente avessa a badalação e foi por isso que deu certo."


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