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Eike Batista, 50, US$ 15 bi, mescla arrojo e reclusão
Empresário arrisca e surpreende nos negócios, mas é conservador socialmente
"No Brasil, os empresários sempre pegaram as coisas meio prontas, sem risco", afirma Eike Batista, cujas empresas têm "X" no nome
PEDRO SOARES
LUISA BELCHIOR
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Com arrojo na vida empresarial, Eike Batista, 50, construiu
um patrimônio avaliado hoje
em US$ 15 bilhões (cerca de R$
27 bilhões), mas é visto como
conservador nas relações pessoais. Sobreviveu ao furacão
Luma de Oliveira (um erro, na
definição do pai, Eliezer Batista), mas chegou a pensar em
abrir uma empresa de intermediação de encontros na busca
de uma nova namorada.
Eike afirma que a afeição ao
risco é sua característica, diferindo-o dos seus pares no mundo dos negócios. "No Brasil, os
empresários sempre pegaram
as coisas meio prontas, sem risco. Esse não é o meu perfil."
Nascido muito rico, tornou-se
bilionário por conta própria,
sem o dinheiro do pai. Supersticioso, suas empresas levam o
"X" no nome, como símbolo da
multiplicação de lucros.
Eike (nome de origem alemã
que se pronuncia "aique") surpreendeu o mundo dos negócios na semana passada ao investir R$ 1,6 bilhão em 28 áreas
de exploração de petróleo e gás
no leilão da ANP (Agência Nacional do Petróleo). Para os críticos, ele pagou caro. Eike afirma gostar de investimentos de
risco, combinando, segundo
ele, a experiência na engenharia com as finanças.
O ímpeto que lhe é característico, diz, veio dos tempos de
esportista: "No esporte, só há
chance de ganhar uma vez. Tudo tem de estar sempre no estado da arte. Trouxe isso para o
mundo dos negócios".
O oceano sempre foi para Eike espaço de lazer e de competição. No biênio 1990/91, tornou-se campeão brasileiro,
americano e mundial de motonáutica, na categoria offshore
(espécie de F-1 dos mares, em
que uma lancha pode atingir
até 300 km/h). Parou de competir naquele ano a pedido da
modelo Luma de Oliveira, com
quem acabara de se casar.
Com a separação, 13 anos depois, Eike voltou às lanchas velozes. Em 3 de janeiro de 2006,
no comando da "Spirit of Brazil", bateu o recorde da travessia Rio-Santos -percorreu os
407 km em 3h01min47s.
Construída nos EUA, a embarcação custou US$ 1,5 milhão. Com dois motores, de
3.000 cavalos cada um, consome 800 litros de gasolina por
hora e costuma ficar ancorada
em Angra dos Reis, cidade do litoral fluminense onde o empresário tem casa.
No momento, sua obsessão
marítima está relacionada aos
negócios. Possivelmente ainda
neste mês, Eike inaugura com
festa o navio "Pink Fleet", pioneiro de um projeto que inclui
mais duas embarcações de luxo
destinadas ao turismo classe A
a serem incorporadas à frota do
empresário em até dois anos.
Com investimento de US$ 19
milhões, 54 m de comprimento
e capacidade para 450 pessoas,
o "Pink Fleet" fará passeios turísticos diários pela baía de
Guanabara e será alugado para
eventos particulares. São quatro conveses e seis ambientes
com restaurantes, bares, pistas
de dança e sala de reuniões.
Origem alemã
O perfeccionismo e a meticulosidade, afirma, tiveram origem tanto no esporte como em
sua ascendência alemã. A mãe
nasceu em Hamburgo, e ele viveu dos 12 aos 23 na Alemanha,
onde vendeu seguros na época
da faculdade de engenharia.
Aos 23 anos, de volta ao Brasil, estreou no mundo dos negócios, com uma trading de ouro. Ganhou US$ 6 milhões
comprando e vendendo o metal. Reinvestiu tudo na aquisição de áreas de reservas de ouro. Foi a gênese do seu império.
"Gosto de "engenheirar" projetos especialmente de exploração de recursos naturais que
começam do zero." Foi o que
fez ao comprar direitos de exploração de lavras no Brasil,
Canadá, Estados Unidos e Chile e prospectar negócios em
mais uma dúzia de países -inclusive na Grécia, onde sofreu
seu maior revés: perdeu US$
300 milhões.
Eike avalia suas empresas em
US$ 15 bilhões -atuam em logística, mineração, eventos e
restaurantes, entre outros. Ele
prevê que a estreante OGX,
criada para desenvolver reservas de óleo e gás, valerá, em dois
anos, US$ 6 bilhões.
"Tem potencial para ser o
principal negócio do grupo,
ainda mais com o petróleo no
preço em que está", diz o amigo
Raphael de Almeida Magalhães, ex-ministro e conselheiro de empresas de Eike.
Infra-estrutura
Atualmente, sua principal
atividade é a mineração de ferro. Em 2005, fundou a MMX
para competir com a Vale e se
tornar uma empresa de classe
mundial. Comprou reservas
em Minas Gerais e no Amapá e
anunciou dois megaempreendimentos logísticos: um mineroduto e um porto em Campos.
Causou polêmica e descrença no setor. Todos se perguntavam se ele teria capacidade financeira. Foi quando deu uma
tacada decisiva: atraiu a gigante
britânica Anglo American, que
comprou 49% da MMX por
US$ 1,15 bilhão.
Filho do ex-presidente da
Vale, na época estatal, Eliezer
Batista, Eike, assim como o pai,
tem gosto por projetos de infra-estrutura logística. Quer criar
os dois maiores portos do país
e, junto deles, atrair indústrias,
com a oferta de energia gerada
em termelétricas.
Além do porto do Açu (projeto de US$ 5 bilhões), em Campos dos Goytacazes (RJ), investe num porto de calado profundo em Peruíbe (SP), orçado em
R$ 3 bilhões. O problema é que
a área fica no mesmo local onde
a Funai pretende instalar uma
reserva indígena.
Relacionamento
Toda agitação empresarial,
porém, não tem eco em sua vida social. Adepto do feng shui,
Eike é definido como avesso a
baladas, apesar de ter sido casado por 13 anos com Luma, que
por cinco anos foi a rainha da
bateria da escola de samba Unidos da Viradouro e uma das
principais figuras do Carnaval
do Rio de Janeiro.
A característica, diz o amigo e
empresário Walter Guimarães,
tornou-se um problema com a
separação, em 2004. Ele nega
que Eike seja mulherengo. "Logo que se separou da Luma, a
mulherada ia em cima, mas ele
não gostava disso. Falou-me
até para abrirmos um site de relacionamento para ele conseguir conhecer pessoas [risos]."
Não foi preciso. No mesmo
ano, Guimarães apresentou a
Eike uma amiga, a advogada
Flávia Oliveira, 27, que voltava
de uma temporada de estudos
nos Estados Unidos. "Ela é totalmente avessa a badalação e
foi por isso que deu certo."
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