São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

"Spread" custa R$ 33 bi à indústria, diz Fiesp

O "spread" bancário brasileiro custa R$ 33,4 bilhões às indústrias de transformação por ano. Se a diferença entre a taxa de juros cobrada pelos bancos e a que eles pagam para captar recursos seguisse os padrões internacionais, esse custo cairia para R$ 7,6 bilhões, uma redução de R$ 25,8 bilhões.
As informações são de levantamento feito por José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp.
Apesar de o "spread" bancário brasileiro já se destacar como um dos maiores do mundo há anos, as taxas cresceram ainda mais em razão da crise. Em outubro, o "spread" cobrado em todas as operações de crédito aumentou para 36,26%, 1,96 ponto percentual acima do registrado em setembro.
No crédito para as empresas, o aumento da taxa foi de 13% em outubro, para 29,6% ao ano. Para a pessoa física, a alta do "spread" foi de 3%, para 39,72%
"Os bancos estão aumentando o "spread" porque estão trabalhando com a perspectiva de que a inadimplência vai aumentar em 2009", diz Roriz.
Segundo ele, a inadimplência representa 37,4% da composição do "spread", o maior peso entre os componentes. Apesar dessa expectativa de alta, os dados de outubro apontam para uma estabilidade na inadimplência. A taxa subiu apenas um ponto percentual tanto para a pessoa física (7,4%) quanto para a jurídica (1,7%).
Para Roriz, a conseqüência da alta do "spread" é a perda de competitividade da indústria nacional. "Com a desaceleração dos EUA e da Europa, grandes exportadores mundiais com custos de produção muito baixos vão olhar para o Brasil como uma oportunidade de mercado." Segundo ele, a diferença do custo do capital é um dos fatores que mais prejudicam a competitividade brasileira.
Somado o "spread" ao custo do juro básico, os brasileiros pagam uma taxa média de 43,2% ao ano para contrair empréstimos, aponta o levantamento da Fiesp. A média dos juros praticados em outros 42 países pesquisados é de 9,2% ao ano. E, se o Brasil seguisse o padrão internacional de definição do "spread" em relação a renda per capita, a taxa de juros ideal para os empréstimos no país seria de 12,4% ao ano.
Para Roriz, a sinalização dos bancos é que o movimento de alta dos "spreads" se estenderá nos próximos meses. "Quando a inadimplência do país caiu, os bancos não reduziram o "spread". Mas a crise mal começou e eles já subiram as taxas."
Segundo ele, o custo do capital pode ser reduzido com a atuação do Banco Central. Ele sugere descontos maiores nos depósitos compulsórios e um corte na taxa Selic. "Já passou da hora de baixar os juros."
Até lá, o estudo sugere às indústrias que realizem apenas investimentos indispensáveis e evitem algumas modalidades de crédito, como conta garantida e descontos de duplicatas.

Setor de cimento será o último a sentir a crise, diz sindicato

O setor de cimento será o último a entrar em crise e o último a sair dela, afirma o secretário-executivo do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento), José Otavio Carvalho. Segundo ele, o setor continua aquecido durante a crise porque as obras em andamento ainda demandam pelo produto, usado em todas as etapas da construção civil. A grande dúvida do setor é sobre o número de projetos imobiliários em 2010.
Carvalho prevê um crescimento de 15% no faturamento do setor de cimento neste ano, acima da projeção inicial do Snic de expansão de 12%. Para 2009, a expectativa é de um volume de negócios até 3% maior que o deste ano.
O início da desaceleração dos negócios, no entanto, é esperado para o segundo semestre do ano que vem. "Em 2009, o primeiro semestre deverá ser mais forte do que o segundo, ao contrário do que acontece geralmente", afirma Carvalho.
De acordo com ele, o aquecimento do setor em 2010 dependerá da oferta de crédito para a habitação e de linhas de financiamento para as construtoras e empreiteiras.

EMERGENTES
A Fecomercio e a ESPM realizam hoje o evento "Os Brics sob uma nova perspectiva", na Fecomercio, em SP. O economista Mario Marconini, da Fecomercio, e Lívia Barbosa, da ESPM serão mediadores. José Goldemberg, professor da USP e presidente do Conselho de Estudos Ambientais da Fecomercio, vai abordar a sustentabilidade. Marcelo Néri, do Centro de Pesquisas Sociais da FGV, vai falar sobre os Brics do ponto de vista social.

LADEIRA ABAIXO
O crescimento brasileiro poderá se aproximar de zero no próximo ano, de acordo com o último relatório do Morgan Stanely que foi divulgado ontem. O documento afirma que o Brasil pode estar mais sensível às catástrofes globais na economia do que imaginam os analistas e economistas. De acordo com o documento, a palavra "recessão" deverá passar a fazer parte das conversas corriqueiras entre os brasileiros dentro de poucos meses.

TIJOLO
A Caixa Econômica Federal anuncia hoje novo recorde de investimento para o setor habitacional. A Caixa assinará os primeiros contratos de capital de giro para a construção civil em cerca de R$ 4 milhões.

GÁS
O Ministério de Minas e Energia e os setores da cadeia produtiva do gás chegaram a um acordo. O projeto da lei do gás deve ser votado amanhã no Senado.

FÓRUM DE LÍDERES
Será realizado hoje e amanhã em São Paulo o Fórum de Líderes Empresariais com o objetivo de discutir propostas de ordens política, econômica e social. O evento é organizado por Ozires Silva, presidente do fórum, e Luiz Fernando Levy, presidente do conselho curador do fórum. Participam do encontro Luciano Coutinho, presidente do BNDES, o economista Paulo Rabello de Castro, Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, entre outros. No encontro, será criado um grande conselho empresarial independente, chamado Master Fórum, que terá sua diretoria eleita em março de 2009.

NA LATINHA
As latinhas de alumínio disponíveis para reciclagem estão em alta. Das latas utilizadas para reciclar, a maior quantidade disponível vem do consumo de cerveja, segundo Henio De Nicola, coordenador da comissão de reciclagem da Abal (associação do alumínio). Todos os anos o volume aumenta de três a quatro pontos percentuais nos últimos meses por conta do crescimento natural do consumo da bebida nas festas de final de ano. Neste ano, porém, o volume de latinhas de bebida disponível para reciclagem subiu acima da média e antes do período previsto, diz Nicola.

ENGRENAGEM

A Hilub, especializada em gestão de lubrificação, percebeu uma alta de 50% na demanda por seus serviços após a crise. Para Miguel Pardo, diretor de desenvolvimento e aquisições, o segmento industrial tem procurado adiantar a manutenção dos equipamentos, que costuma ser feita de dezembro a janeiro. "As empresas estão parando parte da produção por causa da crise e aproveitando o momento para fazer a manutenção das máquinas", diz Pardo.


com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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