São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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agrofolha

Preços do açúcar reagem e podem ajudar usineiros

Além da maior demanda pelo produto, consumo interno de álcool continua elevado

Alta do dólar facilitará as exportações de açúcar do país; além disso, estoques apertados de álcool ajudam a dar suporte ao açúcar


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A situação do setor sucroalcooleiro continua difícil, devido à crise financeira internacional, mas as nuvens que pairavam sobre o setor podem ser menos carregadas do que se imaginava. Há um déficit mundial entre oferta e demanda de açúcar, a demanda interna por álcool continua elevada e os produtores já começam a receber mais pela cana-de-açúcar nos dois últimos meses.
O cenário é de preços melhores para o açúcar no mercado internacional, o que pode também puxar os preços internos. Além disso, a demanda interna por álcool vai dar maior suporte aos preços do combustível no mercado interno. Essa é a avaliação de Plínio Nastari, presidente da Datagro, empresa que divulgou a primeira estimativa para a safra 2009/10 na semana passada.
Apesar do cenário melhor para os preços, usinas e produtores têm vários desafios a curto prazo, principalmente as empresas que fizeram muitos investimentos com pagamento no curto prazo. "As incertezas da próxima safra não serão agrícolas, mas financeiras", acrescenta Antonio de Pádua Rodrigues, da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
O lado financeiro certamente será o ponto negativo do setor, diz ele. Sem capital de giro, uma parte das usinas não vai fazer boa manutenção antes do início da próxima safra e isso pode gerar muitas paradas durante a safra, o que diminui a produção. Nastari concorda com Pádua e diz que o grande problema para as usinas será o capital de giro para iniciar a safra do próximo ano.

Renovação menor
Os elevados custos de produção, a brusca freada no crédito e a baixa aplicação de insumos nas lavouras comprometem o rendimento industrial da produção em 2009, o que já ocorreu também neste ano, segundo o presidente da Datagro.
Com isso, a renovação dos canaviais, que tradicionalmente fica entre 16% e 19% por ano, deve ser inferior a 16%, derrubando a produtividade média. Além da alta de custos, acentuada pela crise financeira, as usinas conviveram com preços pouco remuneradores.
Para Nastari, a crise atual não terá grandes efeitos sobre o consumo mundial de açúcar. A redução de renda poderá até elevar o consumo mundial por ser este um alimento com preços extremamente baixos.
Para Arnaldo Luiz Corrêa, da Archer Consulting, "parece que a poeira está se assentando e a esperança é que os fundamentos voltem, nem que seja lentamente, a influir nos preços".
Já para os analistas da FCStone, a alta do dólar facilita as exportações brasileiras de açúcar e serve de suporte para os preços internos. Além disso, os estoques apertados de álcool nesta entrada de entressafra também dão suporte ao açúcar.
Outro fator favorável ao Brasil é a brusca queda nos valores dos fretes marítimos. O frete de açúcar do porto de Santos para o mar Negro caiu de US$ 120 por tonelada em junho para US$ 25 no final de novembro. A queda dos fretes torna o produto brasileiro mais competitivo em grandes mercados consumidores, segundo a FCStone.
A moagem de cana neste ano deverá ficar em 480 milhões de toneladas no centro-sul (546 milhões no país), mas não surpreende Nastari se for a 485 milhões, já que algumas usinas deverão esticar a moagem até janeiro. Para 2009, a moagem sobe para 520 milhões no centro-sul (588 milhões no país), mas em ambas as safras deverão ficar 40 milhões de toneladas de cana em pé, que não serão utilizadas.
No próximo ano, 25 novas usinas deverão entrar em operação, das 43 previstas anteriormente. Neste ano, 7 postergaram o início de atividades para 2009. A produção nacional de açúcar sobe de 30,4 milhões de toneladas neste ano para 32,9 milhões no próximo. As exportações vão de 18,8 milhões para 21,3 milhões.
Embora o volume de matéria-prima moída cresça, a quantidade de produto obtido por tonelada de cana processada (conhecida pela sigla ATR) vem recuando. Em 2007, esse rendimento foi 13,3% superior ao de 2006. Neste ano, crescerá 8,7% e, em 2009, apenas 6,8%. Ou seja, a oferta de produto cresce, mas perde velocidade.


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