São Paulo, quarta-feira, 03 de janeiro de 2007

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS

guilherme.barros@uol.com.br

Meirelles pede cautela com a ansiedade de crescer

O importante é que, na ansiedade para aumentar a produção, o país não cometa erros, como permitir a volta da inflação. Isso poderia levar a uma nova crise e inviabilizar o crescimento sustentado.
A afirmação é do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao falar com a Folha sobre as perspectivas da economia em 2007.
A declaração serve como uma espécie de alerta para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o plano que está em elaboração pelo governo para destravar a economia, e mostra que, se o programa apresentar sinais de desequilíbrio, o Banco Central terá de, novamente, recorrer a instrumentos que impeçam a volta da inflação e assim forçar uma redução do ritmo de crescimento do país.
Meirelles acha, no entanto, que o Brasil tem todas as condições de crescer, agora, sem o padrão de arrancadas e freadas das últimas décadas. Desde o "milagre econômico", o país nunca conseguiu manter um ciclo longo de crescimento. Todo o processo de recuperação foi abortado por crises freqüentes, marcadas pela volta da inflação.
O Brasil tem tempo, agora, segundo o presidente do BC, de adotar um modelo econômico que promova o crescimento de forma sustentada sem permitir a volta da inflação, principalmente em razão das condições favoráveis do setor externo.
"A situação externa favorável permite ao Brasil ter tempo, durante os próximos anos, para aumentar a capacidade produtiva de forma sustentável e, mais importante do que isso, sem recorrer à construção de desequilíbrios que, no passado, trouxeram ao país crises periódicas", diz Meirelles.
Para o presidente do Banco Central, está cada vez mais claro que a economia real do país vai muito bem. A renda cresceu, a massa salarial se expandiu 6%, 1,5 milhão de empregos foi criado até novembro e o crédito interno avançou.
Além disso, Meirelles destaca o fato de "a balança comercial ter registrado novo recorde, com o superávit de US$ 46 bilhões, contrariando a previsão de alguns analistas". Da mesma forma, as exportações continuam crescentes, a dívida externa está equacionada e a dívida pública em proporção do PIB está cadente.
"Sem contar que terminamos o ano com a inflação na meta e as previsões do mercado para 2007 e 2008 são que ela também ficará na meta nesses dois anos", diz Meirelles.
Tudo isso, na opinião do presidente do Banco Central, mostra um quadro inédito na história recente, que proporciona as condições ao país de resolver os gargalos da produção para crescer de forma sustentada.
Sem citar de forma direta o trabalho do BC nesses quatro anos, Meirelles não deixa de atribuir também à política monetária os méritos por essa condição inédita do país.
"Um dado importante é que a política monetária influencia em última análise a demanda agregada, e a demanda agregada está crescendo a taxas maiores do que a oferta. A diferença está sendo suprida pelas importações, além de possíveis decréscimos de estoques", diz o presidente do BC.
Ou seja, em razão da política monetária do Banco Central nesses quatro anos de governo Luiz Inácio Lula da Silva e das condições externas favoráveis, o Brasil tem hoje tempo e espaço para aumentar a produção interna sem provocar desequilíbrios, já que a demanda é crescente e está sendo suprida pelas importações. Em suma, a produção tem o maior insumo para crescer, que é o aumento da demanda interna, até porque as importações não podem crescer para sempre.

NA BULA

A Profarma, distribuidora de produtos farmacêuticos, acaba de divulgar seu plano de expansão para 2007. A empresa, que completou 45 anos e está presente em oito Estados, inaugura, neste ano, dois novos centros de distribuição -um em Pernambuco, em janeiro, e o outro, no segundo semestre, no Rio Grande do Sul. Paralelamente, a empresa não descarta a possibilidade de aquisições para expandir. "A vantagem nas aquisições é que os investimentos são relativamente baixos e eliminamos concorrentes", diz Max Fischer, diretor da empresa. Nos novos centros, o investimento em ativo fixo foi de R$ 1 milhão para cada um deles. Em estoque inicial, a empresa vai investir de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões, em Pernambuco, e, no Rio Grande do Sul, de R$ 4 milhões a R$ 6 milhões.

NO BOLSO
Com o tímido crescimento da renda ao longo de 2006, o consumidor teve de recorrer ao crediário para efetuar as compras de Natal. Sondagem pós-vendas feita pela Fecomercio SP com comerciantes da capital paulista aponta que 52% das compras foram feitas no cartão ou parceladas nesta mesma modalidade de pagamento. Os dados completos do levantamento serão divulgados hoje pela entidade.

CANAL
A Ri Happy acaba de lançar um sistema de TV corporativa. O canal corporativo terá transmissões mensais de reuniões, campanhas e treinamentos. O canal comercial exibirá filmes, clipes e comerciais.

RESÍDUO
A CST-Arcelor Brasil, com a política de reaproveitamento de resíduos industriais, bateu seu recorde em faturamento com a venda de co-produtos. Atingiu US$ 50 milhões em 2006, superando em 20% a receita obtida em 2005. A companhia produz cerca de 2 milhões de toneladas ao ano de co-produtos, usados em segmentos industriais como carboquímico e energético.

REPASSE
O BID renovou seu apoio para a Casoteca Latino-Americana de Direito e Política Pública com um repasse de US$ 30 mil. O projeto, da Direito GV, com instituições de Argentina, Venezuela e Colômbia, trata de casos de direito e políticas públicas.

MOTOR LIGADO
A Apex-Brasil fechou parceria com o Sindipeças para a exportação de autopeças brasileiras. O acordo beneficia 153 empresas. A meta é ter exportações de US$ 176 milhões em 2008, 10% mais que em 2006. Também será criada a marca Brazilian Automotive Manufacturers.

DURA MISSÃO
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai tentar demover Bernard Appy de sua idéia de deixar o governo, o que será uma tarefa muito difícil. Bernard Appy está mais fora do que dentro. Ele aguarda apenas a divulgação do PAC para cair fora.

SAÍDA ANUNCIADA
Carlos Kawall deixou o governo por ter discordado dos rumos do programa de aceleração econômica, mas sua saída já era sabida. Delfim Netto disse a alguns amigos que, há um mês e meio, ouviu de uma pessoa bem informada que Kawall não viraria o ano no governo.

PONTA DA LÍNGUA
A escola de idiomas Wise Up lança, neste mês, o Wise Up Channel, em rede nacional. O programa será exibido pela Rede TV! e terá investimento de R$ 3,6 milhões ao ano. A programação abordará os bastidores das escolas e será aberto com reportagem sobre a língua inglesa.


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