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Para estilista, venda traz democratização
DA REDAÇÃO
"Nem este cabide me pertence mais", diz o estilista Alexandre Herchcovitch no escritório
de sua loja nos Jardins, em São
Paulo. Ele aparenta tranqüilidade e está muito otimista com
seu futuro. "Tudo que eu sonhei poderá se realizar a partir
da agora", afirma, a seguir.
Para o estilista, a venda de
suas duas grifes -Herchcovitch; Alexandre e Herchcovitch Jeans- aponta para uma
maior democratização na moda. "As pessoas vão ter muito
mais acesso às roupas", diz.
FOLHA - Porque você decidiu vender suas marcas? Sua empresa ia
bem financeiramente?
ALEXANDRE HERCHCOVITCH - Sim,
ia bem. Não vendi porque precisava de dinheiro. Vendi porque eles vão fazer uma injeção
de capital que eu levaria décadas para conseguir fazer. Com
isso, as duas marcas [Herchcovitch; Alexandre e Herchcovitch Jeans] vão tomar um novo rumo, e tudo que eu sonhei poderá se realizar a partir de
agora. Eu demorei 20, 15 anos
para construir essas marcas, e
sinto que estou começando
uma segunda etapa na minha
vida, quando poderei concretizar os meus sonhos.
FOLHA - Quais são eles?
HERCHCOVITCH - A marca vai ganhar uma presença mundial
muito maior, já a partir do próximo desfile que farei em Nova
York, em fevereiro. Também
vamos abrir uma loja em Nova
York neste ano e uma flagship
nos Jardins, nos mesmos moldes da que existe em Tóquio.
FOLHA - Até agora, os exemplos de
estilistas que venderam suas marcas não resultaram em experiências
bem-sucedidas no Brasil. Você tomou cuidados a este respeito?
HERCHCOVITCH - Sim. Na verdade, a minha preocupação foi
que o grupo que está comprando as marcas entendesse exatamente o que elas são e onde elas
podem chegar, para que não
houvesse uma expectativa errada nem ilusões de ambos as
partes. Porque não adianta você comprar a marca Herchcovitch; Alexandre achando que
ela vai ser do tamanho da C&A.
Eles entenderam perfeitamente e eu estou muito confiante.
FOLHA - Sua marca é conhecida pela liberdade de estilo. Você não tem
medo de perder esta liberdade?
HERCHCOVITCH - Não, porque a
marca foi comprada pelo que
ela é. E ela é isso: é livre. Se esse
aspecto for mudado, a marca
também muda. Então, essa liberdade será preservada. Mesmo porque eu vou estar na direção criativa. A marca têm um conjunto de características que
fizeram com que o grupo se interessasse por ela, e não por outra. Ela não é apenas uma marca, tem uma personalidade e uma força que podem ser exploradas comercialmente. Agora, o presidente do grupo e os
acionistas, que estão acima de
mim, têm uma idéia do tamanho que ela pode ter no futuro.
E eu, como diretor de criação,
junto com os demais diretores,
buscarei este objetivo. Por isso,
é óbvio que, para a marca crescer "x" vezes, teremos que enxergar o mercado como ele é. Se
tenho que atingir mais pessoas,
terei que ofertar uma gama
maior e mais democrática de
produtos. E eu vou ofertar.
FOLHA - Então ela poderá ficar
mais comercial?
HERCHCOVITCH - Sim. Poderá haver uma sofisticação do prêt-à-porter com a marca Herchcovitch; Alexandre, assim como poderá haver um crescimento
da acessibilidade e da democratização da marca Herchcovitch
Jeans. Para você ter uma idéia
do que representam as mudanças, até ontem a minha coleção
teria 250 itens. Agora, terá 700
itens. Quando triplica o tamanho da coleção, tudo cresce, aumenta o número de vestidos
caros e o número de vestidos
baratos. As pessoas vão ter
muito mais acesso às roupas.
FOLHA - A aquisição de marcas por
grandes grupos favorece a moda
brasileira?
HERCHCOVITCH - Muito. Traz
profissionalização, competitividade. Marcas que estavam fadadas a morrer não vão morrer
mais. Porque existem grifes
que, se continuam do jeito que
estão, não irão durar dez anos...
Além disso, esses grupos trazem gestão, coisa que é muito
complicada de se ter numa empresa pequena, familiar, sem
diretores por trás dela para
pensar o seu futuro.
FOLHA - A gestão familiar de grifes
no Brasil está condenada?
HERCHCOVITCH - Acho que sim.
FOLHA - O que sente um estilista
ao vender uma grife ao qual está ligado há tantos anos?
HERCHCOVITCH - Eu, pessoalmente, estou me sentindo muito bem. Não tenho apego às coisas. Nem este cabide nem este computador me pertencem
mais. Sinto também que meu
trabalho vai triplicar e que ele
está apenas começando. Acho
que os 20 anos que passei construindo a marca foram apenas
o ensaio de algo muito maior
que vai acontecer comigo daqui
para a frente.
(ALN)
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