São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2009

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análise

Saldo vai cair mais em 2009, diz especialista

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização da moeda norte-americana ante o real deve desencorajar as importações nos próximos meses, porém a balança comercial brasileira não se beneficiará disso. Como se espera que as exportações também recuem, devido à crise econômica internacional, o saldo em 2009 vai ficar abaixo do registrado no ano passado, pelos cálculos dos economistas.
As importações apresentaram uma grande redução nas últimas semanas, em grande parte por causa do câmbio desfavorável. O dólar alto se somará à falta de crédito para os empresários e ao desaquecimento do consumo doméstico para empurrar para baixo as compras de produtos estrangeiros nos próximos meses. "Não dá para falar em números, temos apenas hipóteses, por ora. A crise está em formação. Está tudo mudando tão rápido que daqui a pouco tempo esse cenário projetado pode ficar bem diferente", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
O fortalecimento da moeda americana demora um pouco a ser sentido nas importações porque não afeta os contratos comerciais já fechados no momento em que começa a escalada. Somente nas novas compras, dali a alguns meses, tem efeito. Os fabricantes brasileiros que adquirem insumos de outros países não acreditavam que a valorização registrada a partir de agosto durasse, por isso foram diminuindo paulatinamente as importações, já que possuíam estoques. Entretanto, existem poucos sinais de que a divisa vá recuar, então tais compras devem ser restringidas ao mínimo. Na opinião de especialistas, os empresários se verão forçados a ficar com matéria-prima nacional mesmo.
Do lado das exportações, a demanda cadente pelas commodities agrícolas e metálicas não significará apenas menor volume de vendas pelo Brasil, mas, ainda, uma receita inferior, pois os preços estarão em baixa. Esse problema pode atrapalhar até a oferta interna de produtos agropecuários, cuja cotação é definida em padrões internacionais. Caso os valores se mostrem muito ruins, os lavradores ficarão desestimulados.
Outro ponto que merece atenção é a compra de bens pela Argentina, pela Venezuela e pelo Chile. "Eles são bons clientes para os nossos manufaturados. Tudo indica que esses países deverão ter uma desaceleração mais forte", afirma Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, a qual prevê um superávit perto de US$ 9 bilhões para este ano. Era nos vizinhos latinos que alguns setores industriais estavam apostando quando a recessão bateu às portas dos países ricos.
Mais importante do que a diminuição do superávit comercial, aponta Castro, é o decréscimo da corrente de comércio, soma do montante de importações e exportações. "É a atividade, nesse sentido mais amplo, que gera emprego, não o saldo positivo", afirma.

Uso das reservas
Para Pessoa, a conta de transações comerciais brasileira chegará a apresentar meses de déficit e em alguns momentos o governo será obrigado a utilizar moeda das reservas internacionais para cobrir o balanço de pagamentos -que, além das importações e exportações, considera transferências entre empresas e aplicações diretas no país, entre outras transações. "Não deve ter impacto relevante sobre o câmbio porque o BC fornecerá os dólares necessários", diz.
Conforme o correr do ano, afirma, deve diminuir a aversão ao risco e os investidores estrangeiros voltarão aos poucos a colocar novamente seus recursos no Brasil, levando a moeda americana para perto de R$ 2,10.


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