São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2009

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ROBERTO RODRIGUES

Ano novo e crise velha


Lideranças rurais, Executivo e Legislativo devem trabalhar para que o agronegócio supere os problemas atuais

NA SEGUNDA quinzena de dezembro foram realizadas várias reuniões, em todo o país, de instituições ligadas ao agronegócio -tanto públicas como privadas- com o objetivo de prospectar os impactos da crise financeira mundial sobre o setor. Entre elas, a do Conseagri (Conselho Nacional de Secretários de Estado da Agricultura) e a do Cosag (Conselho Superior do Agronegócio) da Fiesp. Da primeira, três temas se destacaram: 1) revisão e aplicação plena dos preços mínimos, para reduzir os riscos da safra em andamento e para facilitar a liberação, pelos bancos, de crédito rural; 2) adoção de Contrato de Opções de Compra -com valores que garantam a renda mínima- de todos os produtos inclusos na PGPM; 3) criação de um mecanismo de subsídio aos fertilizantes, como já ocorre na China e na Índia, como forma de mitigar o forte aumento dos preços desses insumos. No Cosag, as principais lideranças setoriais discutiram os reflexos da crise sobre cinco cadeias produtivas: grãos (incluindo algodão), carnes, cana-de-açúcar, café e leite. E, para cada uma delas, foram ouvidos representantes dos produtores rurais e das indústrias/exportadores. Quase todos os expositores mostraram grande confiança no futuro de longo prazo, mas preocupação neste ano -especialmente no caso dos grãos- quanto ao custo de produção e escassez de crédito, além da total falta de previsibilidade sobre os preços a serem praticados na colheita. Dois outros setores apresentaram maiores problemas: 1) o sucroalcooleiro, pelo endividamento das usinas e pelos baixos preços da cana; 2) a suinocultura, devido ao fechamento do mercado russo, nosso principal importador, e as complicadas negociações para alcançar mercados asiáticos. As questões recorrentes para todos foram: 1) dificuldades de crédito -embora fossem anunciados volumes satisfatórios, estes não chegaram aos produtores; 2) necessidade de política de renda, com ênfase para a PGPM e a efetivação do seguro rural, incorporando a garantia de renda; 3) necessidade de trabalho mais intenso dos órgãos do governo em algumas áreas específicas: agilização no setor da defesa sanitária; estratégia de governo em defesa do setor rural -e não apenas do Ministério da Agricultura. Esse último ponto é muito importante: o ministro da Agricultura não decide sobre orçamento, sobre liberação de recursos, sobre preços mínimos, sobre taxas de juros e de câmbio, sobre estradas, ferrovias e portos, sobre negociações internacionais, sobre mecanismos de comércio, sobre invasão de terras, sobre florestas plantadas, sobre biocombustíveis, sobre áreas indígenas, quilombolas, ambientais e um sem-número de matérias que complicam a vida dos agricultores. E a falta de entrosamento entre os órgãos responsáveis por tudo isso provoca as cíclicas crises do campo. Pois bem. Esse é o cenário, neste começo de ano. Mas também é nesta época que as pessoas e as entidades fazem promessas de melhoria. Vamos rezar para que, neste 2009 que se inicia, as lideranças rurais se organizem cada vez mais e melhor para trabalhar, com o Executivo e o Legislativo, na direção dessa política articulada que permitirá superar os problemas de curto prazo para que o agronegócio chegue vigoroso às previsões otimistas de longo prazo. Sejam esses os temas que lastreiem os votos de Feliz Ano Novo.

ROBERTO RODRIGUES , 66, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.



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