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Europa espera maior intervenção estatal
Mais da metade dos europeus afirma que o desemprego aumentará com o esperado esfriamento da economia em 2009
Urgência no combate à crise deve acentuar tensões entre países da União Europeia; para empresas, prioridade será a de "sobreviver"
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Dos países da antiga Cortina
de Ferro à sólida Suíça, passando pelas maiores economias do
continente, como Alemanha,
Reino Unido, França e Itália,
nenhum país da Europa deve
escapar da recessão neste ano.
A intensidade da gripe variará,
mas o mesmo remédio deverá
ser exigido por todos os pacientes: intervenção do governo.
A expectativa é que essa urgência acentue tensões entre os
principais países da União Europeia, que divergem sobre a
melhor forma de reativar a atividade econômica do bloco,
sem esquecer de sua agenda
política doméstica.
Na Alemanha, a contagem
regressiva para a eleição nacional de setembro mantém a premiê Angela Merkel relutante
em usar dinheiro público para
o resgate, temendo desequilibrar o orçamento e desagradar
seus sócios na coalizão governista, os social-democratas.
Enquanto isso, França e Reino Unido, que deixaram de lado
a preocupação com o buraco
nas contas públicas, reclamam
que a maior economia da Europa não está fazendo a sua parte.
Pressionada, Merkel prometeu
mais um pacote para janeiro,
depois que o de 31 bilhões de
euros aprovado no começo de
dezembro foi considerado insuficiente pelos vizinhos.
Mesmo após seguidos cortes
nas taxas de juros, os bancos
centrais europeus não conseguiram deter a desaceleração
econômica, reforçando a impressão de que os governos terão que abrir mais os cofres para evitar que a recessão vire depressão. Novos estímulos fiscais e pacotes de resgate de setores inteiros, como o automobilístico, estão na pauta.
Com a zona do euro vivendo
a sua primeira recessão, as
perspectivas econômicas para
2009 pioram. O FMI (Fundo
Monetário Internacional) teve
que rever suas projeções de
crescimento, baixando o desempenho de todos os países
europeus. Mas o declínio poderá ser bem maior.
De acordo com um memorando interno do governo alemão, publicado pelo influente
jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung", a contração da
economia poderá chegar a 3%
em 2009, muito pior que a projeção do FMI (de -0,8%). Se isso
ocorrer, será o maior mergulho
desde a Segunda Guerra.
O plano econômico aprovado
pela União Europeia em sua última reunião de cúpula do ano
prevê que cada país entre com o
equivalente a 1,2% de seu PIB
(Produto Interno Bruto), sobretudo em alívios fiscais para
estimular o desconfiado consumidor a gastar. Mas diante do
tamanho da crise, o FMI já avisou que o esforço terá que ser
maior, de no mínimo 2%.
"Ao se aproximar da taxa zero, os bancos centrais estão
perdendo sua eficiência", disse
à Folha o economista Charles
Wyplosz, diretor do Centro Internacional de Estudos de Bancos e Dinheiro, de Genebra.
"Os governos terão que assumir a responsabilidade pela recuperação, e a prioridade será
dar aos consumidores recursos
adicionais. Isso significa cortes
fiscais", prevê.
Menos impostos ajudam,
mas não dissolvem o bloqueio
psicológico causado pelo medo
da recessão. De acordo com o
último Eurobarômetro, pesquisa de opinião da UE, mais de
metade dos europeus esperam
piora do desemprego (53%) e
da economia (51%) em 2009.
A desconfiança é geral: além
de afetar o consumo, paralisa o
crédito e inibe os investimentos. Nem a beleza escapa.
"O movimento caiu pela metade", diz a dominicana Rachel
Consoli, dona de um salão de
beleza em Genebra, onde mora
há 20 anos. "As pessoas aqui se
assustam, param de gastar
quando ouvem a palavra recessão. Não sei se é pelo trauma do
que já viveram. Algumas falam
até em guerra." Pelos cálculos
do governo, a economia suíça
encolherá 0,8% em 2009, depois de um ano em que seu
principal setor, o bancário, liderou os prejuízos na Europa.
O UBS, maior banco suíço,
perdeu mais de US$ 50 bilhões
e precisou de um resgate do governo. Não foi o único. Segundo o BCE (Banco Central Europeu), a Europa sofreu 37% das
perdas causadas pela crise ao
sistema bancário mundial, de
um total de US$ 720 bilhões.
Assim como nos EUA, a mesma ajuda que os bancos receberam do governo é exigida pelo
setor automotivo. "Milhares de
empregos estão em risco. Se o
governo não ajudar a indústria,
os gastos serão ainda maiores
com o seguro-desemprego",
avisa Derek Simpson, secretário-geral da Unite, maior união
sindical britânica.
A maioria das empresas já reduziu drasticamente suas previsões de receita para 2009.
Muitas só pensam em sobreviver, num ambiente cada vez
mais "darwiniano", diz Nicolas
Véron, do centro de estudos
econômicos europeus Bruegel,
em Bruxelas. "Parece óbvio que
empresas de toda a Europa
precisam se preparar para o
pior", diz Véron. "Será um
exercício brutal de seleção natural, com a extinção das mais
fracas e oportunidades espetaculares para aquelas com capacidade de fazer aquisições".
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