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CLASSE MÉDIA
Com a recessão, que dificulta o sucesso do negócio próprio, cada vez mais desempregados tentam recolocação
Engenheiro evita virar suco outra vez
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
O engenheiro cansou de virar suco. Na década de 80, uma lanchonete na avenida Paulista, em São
Paulo, trazia em seu nome ("o engenheiro que virou suco") a história que se tornou emblemática da
crise econômica e seus efeitos sobre a classe média.
Desde então, o profissional liberal teve de se acostumar com a
idéia de que seu emprego também
está ameaçado, assim como o do
operário ou o da secretária. Na década de 90, a classe média encontrou uma alternativa para driblar o
desemprego.
Com o dinheiro do Fundo de Garantia no bolso, muitos profissionais se entusiasmaram com a idéia
de abrir um negócio ou uma consultoria e se livrar do cartão de
ponto. Na recessão que se anuncia
nesse verão, o jogo está virando
mais uma vez.
"Os profissionais estão preferindo esperar uma recolocação numa
empresa, mesmo ganhando menos do que no trabalho anterior",
diz Ricardo Prado Xavier, diretor
da Manager, empresa de recolocação de executivos.
O entusiasmo pela abertura de
empresas ou por se tornar prestador de serviços independente arrefeceu. Mesmo com o alerta dos especialistas de que emprego com
carteira assinada vai se tornar cada
vez mais raro, os profissionais sonham com vagas nas empresas.
"As pessoas não querem arriscar
suas economias em novos negócios ou virar consultores num momento de dificuldades como agora. Está ocorrendo uma disputa cada vez mais dura pelos empregos
com carteira assinada", diz João
Marcos Varella, da DBM, empresa
de orientação de carreiras.
²
Pequenas empresas
A explicação para o medo de se
tornar empreendedor pode ser encontrada na história dos pequenos
empresários da década de 90. "A
partir de 1993, houve uma euforia
com abertura de novos negócios",
conta Dórli Martins, consultora do
Sebrae de São Paulo.
"Muitas pessoas recebiam a indenização e nos procuravam apenas para saber os documentos necessários para abrir uma empresa,
nem se preocupavam em saber
quais os riscos do negócio."
A onda de criação de empresas
para produção de fraldas é um
bom exemplo. Durante alguns meses, houve um crescimento explosivo de novas fabriquetas. A moda
durou pouco. Com a venda da matéria-prima concentrada num único fornecedor, a maior parte das
empresas ficou sem material e
quebrou.
As dificuldades enfrentadas pelas pequenas empresas ficaram
mais claras, na medida em que surgiram problemas até em tradicionais franquias de alimentos, uma
das opções consideradas mais seguras. Marcas como a KFC e a Subway praticamente desapareceram
do Brasil.
"Antes, as pessoas chegavam
aqui entusiasmadas, nem queriam
ouvir os alertas. Agora é o contrário. A maioria encara a abertura de
uma empresa como uma espécie
de prêmio de consolação", diz
Dórli Martins, do Sebrae.
De 1995 a 1998, o Sebrae realizou
66 seminários para combater o desânimo dos novos empresários e
mostrar que a perda de emprego
não é sinal de fracasso pessoal. Metade dos encontros foi realizada
em 1998.
Para os especialistas, está havendo até um excesso de pessimismo
por parte dos empreendedores.
Uma pesquisa recente do Sebrae
mostra que, de cada cem pequenas
empresas, 36 fecham as portas no
primeiro ano de vida. Bem menos
do que a idéia corrente de que 80%
dos empreendimentos quebram
antes de completar um ano.
²
Consultorias
Outra alternativa muito explorada pelos profissionais que perdiam
emprego em meados da década, a
montagem de uma consultoria,
também está perdendo o apelo.
Segundo estudo do economista
Márcio Pochmann, da Unicamp,
as empresas cortaram 600 mil vagas com carteira assinada para
profissionais de renda média, entre 1989 e 1997.
Boa parte das vagas foi terceirizada, ou seja, o profissional montou negócio próprio para prestar
serviço a empresas. Metade das
novas empresas de São Paulo se
concentra na área de serviços, a
maior parte em consultorias.
A febre das consultorias segue a
tendência internacional da terceirização, mas também tem servido
como ponte para profissionais que
buscam uma recolocação. Para dificultar ainda mais as coisas, grandes empresas internacionais de
consultoria aumentaram suas atividades no Brasil.
"A situação está difícil no mercado de trabalho, e nas consultorias
existe uma forte competição com
os grandes escritórios internacionais", diz Murilo Campos Pinheiro, vice-presidente do Sindicato
dos Engenheiros de São Paulo.
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