|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Déficit do setor têxtil pode aumentar 2.000%
Mês de janeiro registrou alta de 50% nas importações
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O déficit comercial do setor
têxtil poderá chegar a US$ 1,3
bilhão neste ano se for mantida
a trajetória de alta de 50% das
importações e de queda de 6%
nas exportações registrada em
janeiro, calcula Josué Gomes
da Silva, presidente da Coteminas e da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção).
O resultado seria o pior desde
1997 e representaria aumento
de 2.000% em relação ao déficit
do ano passado, de US$ 60 milhões. Na avaliação de Silva, se a
previsão se confirmar, serão fechados cerca de 280 mil postos
de trabalho diretos e indiretos.
Com 1,6 milhão de funcionários, o setor é o segundo maior
empregador da indústria.
"Se não acordarmos a tempo,
pode ser tarde. Não adianta pôr
a tranca na porteira depois que
o celeiro foi arrombado", declara. "Acordar" significa combater a entrada ilegal ou subfaturada de produtos de vestuário
no país, reduzir a carga tributária, combater a informalidade e
buscar acordos comerciais com
EUA e Europa, maiores mercados do mundo para têxteis.
Silva critica a preferência dada pelo governo Lula à negociação da Rodada Doha de liberalização comercial. Em sua avaliação, a indústria poderá ser sacrificada em troca de concessões ao setor agrícola. "Vamos
escancarar nosso mercado em
troca de um acesso ilusório para os produtos agrícolas."
A negociação de um acordo
com os Estados Unidos traria
mais benefícios para a indústria, observa. Para justificar sua
posição, Silva cita o caso da
Costa Rica, que exporta mais
produtos têxteis que o Brasil
em razão do acordo de livre comércio fechado com os EUA.
À frente de um grupo que faturou US$ 2,5 bilhões no ano
passado, Silva acredita que o setor pode aumentar os investimentos em outros países para
compensar as condições adversas do mercado interno.
A própria Coteminas abrirá
uma fábrica na China, para
vender na Ásia produtos de cama, mesa e banho, segmento no
qual é líder mundial por meio
da norte-americana Springs.
A concorrência com produtos que entram de maneira ilegal no país é um dos principais
problemas do setor, afirma o
presidente da Abit. No mês de
dezembro, diz, metade dos importados teve preço médio de
US$ 15 o quilo, compatível com
o padrão internacional, enquanto a outra metade entrou
ao preço de US$ 2,97, inferior
aos US$ 3,30 pagos na importação de matéria-prima.
Para facilitar a fiscalização, a
entidade defende que a importação ocorra em cinco portos, e
não em cem, como hoje.
Filho do vice-presidente da
República, José Alencar, Silva
diz que o setor tem apresentado suas reivindicações ao governo "há muito tempo".
Para ele, o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) foi
tímido em relação ao controle
das despesas públicas, em especial à conta de juros, que foi de
R$ 560 bilhões nos quatro anos
de governo Lula. Mas evitou
criticar o Banco Central pela
decisão de reduzir o ritmo de
corte dos juros. "O Copom é um
órgão técnico. O presidente já
disse que a responsabilidade da
política econômica é dele."
Texto Anterior: Empresas reclamam de limite para pedágio Próximo Texto: Concorrência: SDE faz buscas para apurar cartel no setor de cimento Índice
|