São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007

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Déficit do setor têxtil pode aumentar 2.000%

Mês de janeiro registrou alta de 50% nas importações

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O déficit comercial do setor têxtil poderá chegar a US$ 1,3 bilhão neste ano se for mantida a trajetória de alta de 50% das importações e de queda de 6% nas exportações registrada em janeiro, calcula Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas e da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção).
O resultado seria o pior desde 1997 e representaria aumento de 2.000% em relação ao déficit do ano passado, de US$ 60 milhões. Na avaliação de Silva, se a previsão se confirmar, serão fechados cerca de 280 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Com 1,6 milhão de funcionários, o setor é o segundo maior empregador da indústria.
"Se não acordarmos a tempo, pode ser tarde. Não adianta pôr a tranca na porteira depois que o celeiro foi arrombado", declara. "Acordar" significa combater a entrada ilegal ou subfaturada de produtos de vestuário no país, reduzir a carga tributária, combater a informalidade e buscar acordos comerciais com EUA e Europa, maiores mercados do mundo para têxteis.
Silva critica a preferência dada pelo governo Lula à negociação da Rodada Doha de liberalização comercial. Em sua avaliação, a indústria poderá ser sacrificada em troca de concessões ao setor agrícola. "Vamos escancarar nosso mercado em troca de um acesso ilusório para os produtos agrícolas."
A negociação de um acordo com os Estados Unidos traria mais benefícios para a indústria, observa. Para justificar sua posição, Silva cita o caso da Costa Rica, que exporta mais produtos têxteis que o Brasil em razão do acordo de livre comércio fechado com os EUA.
À frente de um grupo que faturou US$ 2,5 bilhões no ano passado, Silva acredita que o setor pode aumentar os investimentos em outros países para compensar as condições adversas do mercado interno.
A própria Coteminas abrirá uma fábrica na China, para vender na Ásia produtos de cama, mesa e banho, segmento no qual é líder mundial por meio da norte-americana Springs.
A concorrência com produtos que entram de maneira ilegal no país é um dos principais problemas do setor, afirma o presidente da Abit. No mês de dezembro, diz, metade dos importados teve preço médio de US$ 15 o quilo, compatível com o padrão internacional, enquanto a outra metade entrou ao preço de US$ 2,97, inferior aos US$ 3,30 pagos na importação de matéria-prima.
Para facilitar a fiscalização, a entidade defende que a importação ocorra em cinco portos, e não em cem, como hoje.
Filho do vice-presidente da República, José Alencar, Silva diz que o setor tem apresentado suas reivindicações ao governo "há muito tempo".
Para ele, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) foi tímido em relação ao controle das despesas públicas, em especial à conta de juros, que foi de R$ 560 bilhões nos quatro anos de governo Lula. Mas evitou criticar o Banco Central pela decisão de reduzir o ritmo de corte dos juros. "O Copom é um órgão técnico. O presidente já disse que a responsabilidade da política econômica é dele."


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