São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007

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Com menos gás, risco de apagão vai a 20%

Possibilidade de faltar energia sobe, a partir de 2010, para um índice três vezes maior que o considerado aceitável pelo governo

Projeção leva em conta dados oficiais do ONS; redução do risco depende de a Petrobras ampliar oferta de gás para termelétricas


HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A falta de gás natural para termelétricas levou a projeção de níveis de risco de falta de energia para patamares superiores a 20% a partir de 2010. Esse percentual é três vezes maior do que o risco oficialmente tolerado pelo governo, de 5%.
Os números foram calculados por um agente do setor elétrico a pedido da Folha, com base nos dados oficiais do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) para o mês de fevereiro de 2007, contidos no PMO (Programa Mensal da Operação), documento do ONS que relaciona projeções de demanda e energia disponível.
O nível real de risco só foi revelado porque a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) decidiu testar as termelétricas a gás, obtendo o seguinte resultado: dos 8.020 MW (megawatts) que afirmavam poder gerar, as usinas só conseguiram produzir 4.395,45 MW médios.
Isso significa que, ao calcular o nível de risco, estavam sendo levados em consideração 3.624,55 MW médios que não existem na prática.
A agência reguladora determinou então que o ONS retirasse a energia "fantasma" da sua programação. Com menos energia, o risco de desabastecimento sobe.
O resultado prático pode ser visto quando o ONS fechou o PMO e os agentes puderam rodar o modelo ("Newave") que indica o risco, já com a energia inexistente fora dos seus cálculos (veja quadro nesta página).
Os níveis de risco de falta de energia superam o aceitável a partir de 2009, ficando mais críticos a partir de 2010. Na região Sudeste, o risco em 2009 é de 12,75%; em 2010, de 21%; em 2011, de 27,15%. Para déficits maiores de energia (superiores a 5% da demanda), os números são mais amenos, mas também superam o teto, nesse caso em 2010 (7,7% de risco) e 2011 (10,1%).
Em 2000, às vésperas do racionamento (adotado em junho de 2001), especialistas calculavam o risco de falta de energia para o ano seguinte em valores que oscilavam entre 13% e 16%.

Ressalvas
Ao determinar os percentuais de risco para os próximos cinco anos, o programa "Newave" (usado pelo setor elétrico, tanto por agentes privados como pelo governo) parte do princípio de que não haverá alteração no cenário de oferta de energia no período com o fim das restrições às termelétricas.
A situação é considerada pouco provável tanto pelo governo quanto por agentes do mercado. A expectativa é a de que a Petrobras cumpra a promessa de aumentar a oferta de gás natural. Com mais gás, as usinas podem gerar mais energia e o risco de falta de energia diminui.

Análises
De acordo com as metas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a Petrobras deverá aumentar a oferta de gás em 59,2 milhões de metros cúbicos por dia até 2010, mas a oferta nova só chega a partir do próximo ano.
Até lá, não deverá haver aumento significativo na oferta desse insumo para as termelétricas, o que torna a situação, na visão do ex-presidente da Eletrobrás e professor da Coppe/ UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, crítica. "A questão é se nós vamos chegar até lá [2008]", disse Pinguelli.
"O risco aumenta com a retirada desses 3.600 MW médios. Mas isso era previsível. O gás não existe", disse Pinguelli. "O modelo do setor elétrico é muito confuso nesse aspecto", avalia. Segundo ele, é difícil garantir o fornecimento firme de gás para usinas que podem ou não ser acionadas, como é o caso das termelétricas.
"O ideal é que sejam contratos interruptíveis, com GNL [Gás Natural Liqüefeito]", disse Pinguelli. O GNL faz parte dos planos do governo: o gás em estado líquido é trazido de navios, regaseificado e enviado para as usinas. Para isso, no entanto, é preciso construir terminais de regaseificação.


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