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Com menos gás, risco de apagão vai a 20%
Possibilidade de faltar energia sobe, a partir de 2010, para um índice três vezes maior que o considerado aceitável pelo governo
Projeção leva em conta dados oficiais do ONS; redução do risco depende de a Petrobras ampliar oferta de gás para termelétricas
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A falta de gás natural para
termelétricas levou a projeção
de níveis de risco de falta de
energia para patamares superiores a 20% a partir de 2010.
Esse percentual é três vezes
maior do que o risco oficialmente tolerado pelo governo,
de 5%.
Os números foram calculados por um agente do setor elétrico a pedido da Folha, com
base nos dados oficiais do ONS
(Operador Nacional do Sistema Elétrico) para o mês de fevereiro de 2007, contidos no
PMO (Programa Mensal da
Operação), documento do ONS
que relaciona projeções de demanda e energia disponível.
O nível real de risco só foi revelado porque a Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica)
decidiu testar as termelétricas
a gás, obtendo o seguinte resultado: dos 8.020 MW (megawatts) que afirmavam poder
gerar, as usinas só conseguiram
produzir 4.395,45 MW médios.
Isso significa que, ao calcular
o nível de risco, estavam sendo
levados em consideração
3.624,55 MW médios que não
existem na prática.
A agência reguladora determinou então que o ONS retirasse a energia "fantasma" da
sua programação. Com menos
energia, o risco de desabastecimento sobe.
O resultado prático pode ser
visto quando o ONS fechou o
PMO e os agentes puderam rodar o modelo ("Newave") que
indica o risco, já com a energia
inexistente fora dos seus cálculos (veja quadro nesta página).
Os níveis de risco de falta de
energia superam o aceitável a
partir de 2009, ficando mais
críticos a partir de 2010. Na região Sudeste, o risco em 2009 é
de 12,75%; em 2010, de 21%;
em 2011, de 27,15%. Para déficits maiores de energia (superiores a 5% da demanda), os
números são mais amenos,
mas também superam o teto,
nesse caso em 2010 (7,7% de
risco) e 2011 (10,1%).
Em 2000, às vésperas do racionamento (adotado em junho de 2001), especialistas calculavam o risco de falta de
energia para o ano seguinte em
valores que oscilavam entre
13% e 16%.
Ressalvas
Ao determinar os percentuais de risco para os próximos
cinco anos, o programa "Newave" (usado pelo setor elétrico,
tanto por agentes privados como pelo governo) parte do
princípio de que não haverá alteração no cenário de oferta de
energia no período com o fim
das restrições às termelétricas.
A situação é considerada
pouco provável tanto pelo governo quanto por agentes do
mercado. A expectativa é a de
que a Petrobras cumpra a promessa de aumentar a oferta de
gás natural. Com mais gás, as
usinas podem gerar mais energia e o risco de falta de energia
diminui.
Análises
De acordo com as metas do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento), a Petrobras
deverá aumentar a oferta de gás
em 59,2 milhões de metros cúbicos por dia até 2010, mas a
oferta nova só chega a partir do
próximo ano.
Até lá, não deverá haver aumento significativo na oferta
desse insumo para as termelétricas, o que torna a situação, na
visão do ex-presidente da Eletrobrás e professor da Coppe/
UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, crítica. "A questão é se nós vamos
chegar até lá [2008]", disse Pinguelli.
"O risco aumenta com a retirada desses 3.600 MW médios.
Mas isso era previsível. O gás
não existe", disse Pinguelli. "O
modelo do setor elétrico é muito confuso nesse aspecto", avalia. Segundo ele, é difícil garantir o fornecimento firme de gás
para usinas que podem ou não
ser acionadas, como é o caso
das termelétricas.
"O ideal é que sejam contratos interruptíveis, com GNL
[Gás Natural Liqüefeito]", disse
Pinguelli. O GNL faz parte dos
planos do governo: o gás em estado líquido é trazido de navios,
regaseificado e enviado para as
usinas. Para isso, no entanto, é
preciso construir terminais de
regaseificação.
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