São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2008

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Governo diz que cortará na "boca do caixa"

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Lula determinou que, mesmo se o Congresso fizer um corte menor que o previsto pelo governo no Orçamento, a ordem é segurar na "boca do caixa" os R$ 20 bilhões tidos como necessários para cumprir a meta de superávit primário do ano, de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto).
Para o governo, um corte menor pode deteriorar as expectativas do mercado sobre a disposição de manter uma política fiscal austera, o que teria impacto negativo na inflação -vista, no momento, pela equipe econômica como mais preocupante que a crise americana.
O Congresso tende a cortar R$ 17 bilhões, sob o argumento de que o governo subestimou o comportamento da receita em 2008. A equipe econômica, porém, vai manter a previsão de R$ 20 bilhões e, se preciso, fará o controle do gasto no Tesouro Nacional. Poderá haver revisão ao longo do ano, mas apenas com um comportamento melhor da arrecadação mesmo com o fim da CPMF.
Nas reuniões com sua equipe, Lula tem dito que não quer o governo a reboque da crise, em posição que afete a manutenção de investimentos.
Para isso, ele aposta ser necessário trabalhar positivamente as expectativas do mercado e do setor produtivo, com garantia do cumprimento do superávit primário, inflação sob controle e manutenção dos investimentos, principalmente do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Assim, a equipe econômica acredita que atravessará a crise sem medidas extremas. Por enquanto, o maior risco é a inflação.
Na avaliação de assessores de Lula, porém, a inflação dá sinais de arrefecimento com o recuo dos preços de alimentos como leite e feijão, que pressionaram os índices em 2007 por causa do período de estiagem.
O Palácio do Planalto aposta na tendência para afastar a possibilidade de o BC elevar os juros. Lula e seus principais auxiliares avaliam que, se a taxa de juro cair, será só no fim do ano. "Vamos torcer e rezar para que a inflação não bata na meta e o BC não precise subir os juros", diz um auxiliar do presidente.
Confiante de que as pressões sobre a inflação vão se acomodar, as atenções da equipe econômica se voltam para o câmbio. O governo não acredita que ela vá disparar, encarecendo as importações e deixando de contribuir para o combate à inflação -a concorrência de produtos importados desestimula o aumento dos preços.
No pior cenário, de uma crise recessiva aguda nos EUA, a Fazenda estima que a taxa de câmbio atingiria os R$ 2,10. Mas, por enquanto, ninguém acredita que isso vá acontecer. As avaliações convergem mais para um cenário moderado, de desaceleração nos EUA, não de recessão severa. Nele, o câmbio ficaria na casa dos R$ 1,80.
É por isso que a equipe econômica não acha necessário tomar medidas emergenciais para a crise. Discutiu internamente subir a meta de superávit primário, mas descartou.
Em suas análises, os assessores de Lula não vêem grandes danos para a economia brasileira. As projeções do governo indicam que o país deve crescer pelo menos 4,5% em 2008. Lula trabalha com taxa de 5%.
Ele tem dito a assessores que, no início do ano passado, ninguém acreditava que o país iria crescer 5%. Agora, tem analista estimando que o país pode ter crescido 5,4% em 2007. O mesmo pode se repetir agora.

PAC
O presidente acha que o PAC pode fazer a diferença neste ano. Ele cita as obras de saneamento e habitação, que devem começar no fim do primeiro semestre, compensando efeitos negativos na economia brasileira provocados pela crise.
O risco fica, na visão da Fazenda, para 2009 e 2010. É quando uma recessão nos EUA pode ter maior impacto no Brasil, derrubando as exportações.
O governo contava lançar neste ano um pacote de corte de impostos para estimular as empresas exportadoras. Desistiu com a derrota da CPMF. Agora, vai analisar o comportamento da receita em 2008 e checar o espaço fiscal para retomar a idéia, garantindo a volta do crescimento das exportações. Na Fazenda, a medida é considerada fundamental para evitar a deterioração das contas externas. Caso contrário, há temor de volta da dependência de recursos de curto prazo.


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