|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo diz que cortará na "boca do caixa"
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Lula determinou que, mesmo se o Congresso fizer um corte menor que o
previsto pelo governo no Orçamento, a ordem é segurar na
"boca do caixa" os R$ 20 bilhões tidos como necessários
para cumprir a meta de superávit primário do ano, de 3,8% do
PIB (Produto Interno Bruto).
Para o governo, um corte menor pode deteriorar as expectativas do mercado sobre a disposição de manter uma política
fiscal austera, o que teria impacto negativo na inflação
-vista, no momento, pela equipe econômica como mais preocupante que a crise americana.
O Congresso tende a cortar
R$ 17 bilhões, sob o argumento
de que o governo subestimou o
comportamento da receita em
2008. A equipe econômica, porém, vai manter a previsão de
R$ 20 bilhões e, se preciso, fará
o controle do gasto no Tesouro
Nacional. Poderá haver revisão
ao longo do ano, mas apenas
com um comportamento melhor da arrecadação mesmo
com o fim da CPMF.
Nas reuniões com sua equipe, Lula tem dito que não quer
o governo a reboque da crise,
em posição que afete a manutenção de investimentos.
Para isso, ele aposta ser necessário trabalhar positivamente as expectativas do mercado e do setor produtivo, com
garantia do cumprimento do
superávit primário, inflação
sob controle e manutenção dos
investimentos, principalmente
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Assim, a
equipe econômica acredita que
atravessará a crise sem medidas extremas. Por enquanto, o
maior risco é a inflação.
Na avaliação de assessores de
Lula, porém, a inflação dá sinais de arrefecimento com o recuo dos preços de alimentos como leite e feijão, que pressionaram os índices em 2007 por
causa do período de estiagem.
O Palácio do Planalto aposta
na tendência para afastar a possibilidade de o BC elevar os juros. Lula e seus principais auxiliares avaliam que, se a taxa de
juro cair, será só no fim do ano.
"Vamos torcer e rezar para que
a inflação não bata na meta e o
BC não precise subir os juros",
diz um auxiliar do presidente.
Confiante de que as pressões
sobre a inflação vão se acomodar, as atenções da equipe econômica se voltam para o câmbio. O governo não acredita que ela vá disparar, encarecendo as
importações e deixando de
contribuir para o combate à inflação -a concorrência de produtos importados desestimula
o aumento dos preços.
No pior cenário, de uma crise
recessiva aguda nos EUA, a Fazenda estima que a taxa de
câmbio atingiria os R$ 2,10.
Mas, por enquanto, ninguém
acredita que isso vá acontecer.
As avaliações convergem mais
para um cenário moderado, de
desaceleração nos EUA, não de
recessão severa. Nele, o câmbio
ficaria na casa dos R$ 1,80.
É por isso que a equipe econômica não acha necessário tomar medidas emergenciais para a crise. Discutiu internamente subir a meta de superávit primário, mas descartou.
Em suas análises, os assessores de Lula não vêem grandes
danos para a economia brasileira. As projeções do governo indicam que o país deve crescer
pelo menos 4,5% em 2008. Lula trabalha com taxa de 5%.
Ele tem dito a assessores que,
no início do ano passado, ninguém acreditava que o país iria
crescer 5%. Agora, tem analista
estimando que o país pode ter
crescido 5,4% em 2007. O mesmo pode se repetir agora.
PAC
O presidente acha que o PAC
pode fazer a diferença neste
ano. Ele cita as obras de saneamento e habitação, que devem
começar no fim do primeiro semestre, compensando efeitos
negativos na economia brasileira provocados pela crise.
O risco fica, na visão da Fazenda, para 2009 e 2010. É
quando uma recessão nos EUA
pode ter maior impacto no Brasil, derrubando as exportações.
O governo contava lançar
neste ano um pacote de corte
de impostos para estimular as
empresas exportadoras. Desistiu com a derrota da CPMF.
Agora, vai analisar o comportamento da receita em 2008 e
checar o espaço fiscal para retomar a idéia, garantindo a volta do crescimento das exportações. Na Fazenda, a medida é
considerada fundamental para
evitar a deterioração das contas
externas. Caso contrário, há temor de volta da dependência de
recursos de curto prazo.
Texto Anterior: Ministério da Previdência quer estimular aposentadoria tardia Próximo Texto: Rubens Ricupero: Metamorfose giratória Índice
|