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LUÍS NASSIF
A marcha da insensatez
O Congresso está na obrigação
constitucional de convocar o ministro da Fazenda, Pedro Malan,
e exigir dele explicações sobre o
que está acontecendo. Nenhum
governante, nem mesmo presidentes constitucionalmente eleitos, têm o direito de expor o país
ao caos dessa maneira.
O que está em jogo, nessa queda-de-braço do câmbio, é a segurança nacional. E o país está sem
governo. Os recados vêm de todos
os lados para FHC, mas em vão.
Elegante, mas duro, o senador
Antonio Carlos Magalhães deu
duas entrevistas a jornais cariocas, neste final de semana, com
recados incisivos sobre interferências do FMI.
Estava claro que o recado era
para o próprio FHC, exortando-o
a romper com a letargia e a começar a atacar decididamente a especulação cambial. Por que não
deu o recado pessoalmente? Porque aparentemente FHC colocou-se à margem de qualquer conselho.
O próprio PT recuou de sua posição mais radical e cerrou fileiras
em torno da governabilidade.
No mundo real, importadores
estão querendo a todo custo evitar consolidar a nova cotação do
dólar. Sindicalistas dão declarações contra a volta da indexação,
o comércio procura rebater altas
de preços, consumidores trocam
de marcas. Em outras circunstâncias, o país teria tudo para começar a vencer a crise. O câmbio
abre possibilidades de retomada
de crescimento, de redução de juros, permitindo atacar as duas
grandes fragilidades, nas contas
externa e interna.
O mero resultado positivo da
reunião com os governadores, na
última sexta-feira, motivou os
primeiros elogios que FHC recebe
da imprensa internacional, em
muitos meses. Governadores oposicionistas saíram elogiando o governo, alguns percebendo que se
poderia desenhar um novo país.
Até o duro Olívio Dutra dispôs-se
a negociar. Terminada a reunião,
nada foi feito, nada pensado, nada constituído. Governadores
oposicionistas, partidos oposicionistas, empresários, trabalhadores, todos dando trégua ao governo, querendo a todo custo preservar a governabilidade, e o governo não age.
A posição de FHC foi a de que
estava sendo vítima de uma confluência de episódios negativos,
mas que tudo tinha terminado na
sexta-feira. A partir de segunda-feira seria um novo mundo. O que
se vê são os fatos positivos se esvaindo, as oportunidades políticas sendo desperdiçadas pela falta de qualquer tipo de ação.
Na tarde da sexta-feira negra
que se seguiu à mudança da banda cambial, o ministro Malan deu
entrevistas à imprensa dizendo
que o Banco Central voltaria a ser
operacional. Agora o dólar bate
em níveis assustadores, ameaçando levar o pânico aos consumidores, e nada é feito. O governo assiste inerte à volta da especulação
cambial, a volta da inflação, em
um momento em que a bola está
com ele.
Não se sabe onde está Malan.
Quem está procurando bancos estrangeiros, solicitando reabertura
de linhas comerciais, ou seu apoio
para a reversão da imagem do
país lá fora, é o segundo escalão
do Ministério da Produção.
É o momento de o Congresso declarar estado de emergência e assumir suas funções constitucionais. O país precisa saber o que está acontecendo.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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