São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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ANÁLISE

Recuperação sem empregos dá sinais de estar no fim

DO "FINANCIAL TIMES"

À primeira vista, os fortes números sobre o emprego nos Estados Unidos em março, divulgados ontem, parecem oferecer novos indícios da instabilidade nas estatísticas mensais sobre o mercado de trabalho norte-americano. Um ganho de 308 mil empregos no mês passado representa a maior melhora mensal no quadro do emprego do país em quatro anos.
Mas os dados surgem depois de um conjunto de números decepcionantes no mês anterior e, se considerarmos o fato de que o nível de desemprego na verdade subiu ligeiramente, a euforia demonstrada ontem pelos mercados financeiros pode parecer um tanto exagerada.
Mas um exame mais detalhado dos dados sugere que certo grau de modesta euforia pode ser a reação correta. Depois de um ano ou mais de discussões sobre a geração de uma recuperação essencialmente sem novos empregos pela economia de alta produtividade dos Estados Unidos, acumulam-se agora indicações de que o crescimento no número de empregos vem se acelerando firmemente, de volta -com atraso considerável- ao ritmo normal para o estágio de recuperação em um ciclo econômico.
Depois de diversos trimestres de crescimento negativo no mercado de trabalho, o nível de emprego atingiu seu ponto mais baixo no terceiro trimestre de 2003, e depois vem aumentando à média de 60 mil postos de trabalho ao mês desde o quarto trimestre e, com os números de ontem, parece indicar um saudável ritmo de 170 mil novos postos mensais para o primeiro trimestre deste ano. Isso mal basta para compensar o crescimento constante da força de trabalho, mas as coisas pelo menos estão caminhando na direção certa, agora.

Quadro diferente
O quadro do desemprego também vem mudando. Por meses, o índice de desemprego, sob as estimativas oficiais, estava abaixo do que se poderia esperar com base no fraco crescimento do volume de empregos nos dois últimos anos.
Mas isso parece ter sido explicado por um declínio acentuado no número de norte-americanos que se declaram parte da força de trabalho (o desemprego é medido como porcentagem do total de pessoas incluídas na força de trabalho), e sugere que houve aumento considerável no número de trabalhadores que simplesmente perderam toda a esperança de encontrar emprego.
O relatório de ontem sugere que agora pode estar acontecendo o oposto. A força de trabalho aumentou acentuadamente em março, acima do crescimento no nível de emprego tal como computado sob a pesquisa domiciliar -e foi isso que empurrou para cima o índice geral de desemprego.

Problemas futuros
A recuperação do mercado de trabalho -tardia, pelas normas históricas, já que surgiu mais de dois anos depois da virada de ciclo na produção- tem duas implicações para os próximos meses.
A primeira é de política monetária. O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) pode se sentir tentado a começar a elevar as taxas de juros para níveis mais normais. Mas isso seria prematuro.
Uma melhora no mercado de trabalho é o sinal que o Fed vinha esperando antes de um aperto na política monetária, mas a espera deveria prosseguir até que o banco central esteja certo de que a frouxidão considerável da economia norte-americana está começando a desaparecer.
A segunda implicação envolve a política interna dos Estados Unidos. A recuperação sem emprego acabou, e o governo George W. Bush não suportava esperar mais um minuto para que isso acontecesse, já que a mudança permite que alardeie suas realizações até novembro.
Mas uns poucos meses de crescimento conduzido por forças cíclicas no nível de emprego não deveriam obscurecer o quadro mais amplo do histórico econômico desse governo -o qual, qualquer que seja o critério de análise adotado, não é nada impressionante.


Tradução de Paulo Migliacci


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