São Paulo, sábado, 03 de abril de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Ministro se reúne com dirigentes de empresas, defende manutenção da política fiscal e diz que dívida preocupa

Para empresários, Palocci refuta mudanças

Roosevelt Cássio/Folha Imagem
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, após ter se reunido com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ontem


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, fez ontem uma defesa enfática da manutenção da política econômica em reunião-almoço com empresários no Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), em São Paulo. No encontro, de três horas e meia, Palocci afirmou que "a queda da taxa de juros aquece, mas não cresce a economia".
De acordo com o que a Folha apurou, os empresários, dessa vez, não fizeram nenhum pedido de redução maior dos juros ou de impostos. Apenas se mostraram preocupados com a lenta recuperação da economia.
Palocci disse que o Brasil é obrigado a fazer uma política econômica austera porque se trata de um país endividado. "Nossa dívida nos acorda toda noite", disse Palocci, numa tarde inspirada em boas frases de efeito.
Palocci afirmou que um país como o Brasil, que deve R$ 1 trilhão, somando as dívidas interna e externa, terá sempre a necessidade de ir ao mercado para rolar esse débito. Daí a prioridade, segundo ele, de controlar e reduzir seu endividamento.
O ministro da Fazenda deixou claro que não pensa em soluções heterodoxas para reduzir a dívida. "Temos de honrá-la", afirmou aos presentes.
Ele disse que o país só vai ficar numa situação mais confortável quando o mercado virar sócio dessa dívida. Palocci defendeu a prefixação da dívida. Hoje, a maior parte da dívida é corrigida com juros pós-fixados. Ou seja, a dívida é indexada à variação da taxa de juros.
Para Palocci, enquanto a dívida for pós-fixada, vale a regra no mercado de que, se a situação econômica piorar, melhor para os credores. Ou seja, se a inflação aumenta, os juros também aumentam e a dívida cresce.
Palocci quer mudar essa dinâmica, ao defender a prefixação (com juros definidos de antemão) da dívida. Seu objetivo é fazer prevalecer a máxima de quanto melhor a economia melhor para todo mundo. Ele defendeu o que chamou de financiamento sadio da dívida.
O ministro disse que esse seu ideal de transformar o mercado num sócio do país é um trabalho que pode levar ainda muitos anos. Segundo ele, não será adotada nenhuma medida voluntarista para alcançar esse objetivo.
De acordo com Palocci, o país só sairá dessa situação atual de constrangimento da dívida mostrando que há sustentação fiscal no longo prazo. Ele disse que o déficit público neste ano vai ficar abaixo de 3% do PIB (Produto Interno Bruto, o total de riquezas produzidas pelo país). Em 2003, o déficit foi de 5,3% do PIB.
Palocci disse que o governo será intransigente na política de austeridade fiscal. "Sempre que o fiscal se enfraquece, os juros no mercado sobem e o Banco Central é obrigado a acompanhar esse movimento", afirmou.
Palocci jogou uma ducha de água fria nos empresários quando disse que não há a menor possibilidade de reduzir a carga fiscal, no momento. Segundo ele, seria desonesto fazer promessas nesse sentido. Ele reconheceu, no entanto, que a carga tributária já está no limite e afirmou que não será aumentada.
Entre outros empresários, a reunião com Palocci contou com a participação de Eugênio Staub (Gradiente), Paulo Cunha (Ultra), Rinaldo Campos Soares (Usiminas), Carlos Pires (Camargo Corrêa), Marcelo Odebrecht (Odebrecht), Daniel Feffer (Suzano), Pedro Piva (Klabin) e Ivo Rosset (Valisère).


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