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POLÍTICA INDUSTRIAL
Furlan diz que é preciso mudança trabalhista e tributária para aumentar poder de competição
Setor de software pode ter reformas
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
Uma firma brasileira de software presta serviços para o Japão, do
outro lado do mundo, 11 horas à
frente. No horário comercial em
tese mais movimentado, digamos
14h em Tóquio, são, no Brasil, 3h.
O funcionário dessa hipotética
companhia brasileira deve ganhar
adicional noturno?
É com esse exemplo que o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) anuncia a intenção do governo de fazer uma espécie de reforma trabalhista para
o setor de software, um dos quatro incluídos na política industrial
anunciada na quarta-feira.
Não fica só na reforma trabalhista. O ministro gostaria também de uma reforma tributária,
no pressuposto de que o sistema
vigente prejudica o setor.
Mas, acima de tudo, quer simplificar a burocracia, uma idéia
que vale para software, para os
outros três setores incluídos no
projeto de política industrial (fármacos, bens de capital e supercondutores), mas também para o
conjunto da economia.
A reforma trabalhista para o setor de software não vai retirar direitos dos trabalhadores, mas
"modernizá-lo e estimular a criatividade, em troca da criação de
emprego e do aumento das exportações", diz Furlan.
Todas as iniciativas relacionadas ao setor serão precedidas de
avaliações sobre como funcionam
as coisas em países que já têm
bom desenvolvimento na área de
software, casos, entre outros, de
Irlanda, México e Índia
"Não vamos reinventar a roda",
promete o ministro.
A aposta no software tem uma
explicação: não se trata exatamente de um setor nascente, mas
sim de um já consolidado no país,
mas ainda com uma grande capacidade de expansão mundial. Cita, especificamente, o caso dos joguinhos eletrônicos para telefones celulares.
Furlan, paradoxalmente, se diz
feliz com as críticas ao projeto de
política industrial, porque lhe coloca um desafio, e ele diz gostar de
desafios. Qual é o desafio? O de
pôr para funcionar a política industrial quando há a habitual suspeita de que o projeto anunciado
nesta semana é mais uma daquelas iniciativas que vão enfeitar a
copiosa prateleira dos grandes
projetos que não saem do papel.
Desta vez vai sair, aposta Furlan.
Uma aposta baseada na sua experiência como funcionário público. Diz que, antes de lançar o projeto, o que tardou 15 meses, desde
a posse, quando ele foi inicialmente anunciado, foi feita uma
enorme costura interna no governo. "Ou você consegue combinar
o jogo dentro do governo ou, na
hora em que anuncia alguma coisa, ela não anda", diz Furlan.
Está tudo "combinado" desta
vez, desde o ministro Antonio Palocci, o dono do cofre, até o presidente do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social), Carlos Lessa, uma espécie de contraponto desenvolvimentista a Palocci no governo.
Tão combinado que Furlan extraiu tanto de Palocci como do
ministro do Planejamento, Guido
Mantega, a garantia de que não
haverá contingenciamento dos
recursos orçamentários previstos
para a política industrial (a maior
parte dos recursos sairá do
BNDES, que independe de contingenciamento).
Quanto aos tributos, Furlan diz
que o governo vai avaliar todas as
queixas dos empresários a respeito da nova Cofins (Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social, cuja alíquota passou
de 3% para 7,6% em fevereiro),
para corrigir, "caso a caso", aqueles em que de fato ficar demonstrado prejuízo com o aumento da
alíquota da contribuição social.
Ou seja, não se trata apenas de
buscar alívio tributário para os
quatro setores selecionados, mas
para todos os que sentirem prejudicados -e puderem provar que
de fato o foram.
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