São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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CÚPULA GLOBAL

G20 turbina FMI e tenta elevar regulação

Líderes lançam pacote de US$ 1,1 tri e prometem medidas de médio prazo para reativar e regular economia global

Comércio global receberá crédito de US$ 250 bi; texto final é fraco ao tratar dos ativos "tóxicos" que travam mercado financeiro global


Olivier Hoslet/Efe
No alto, da esq. à dir. os líderes Erdogan (Turquia), Abhisit Vejjajiva (Tailândia), Obama (EUA), Berlusconi (Itália); em baixo, Saud al Faisal (Arábia Saudita), Hu Jintao (China) e o anfitrião Gordon Brown (Reino Unido) na cúpula do G20 em Londres

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Os governos do G20, as maiores economias do planeta, fizeram ontem a sua parte, comprometendo-se a injetar na economia, ainda que indiretamente, uma formidável pilha de US$ 1,1 trilhão, mais ou menos o tamanho da economia da Índia, a 12ª maior do planeta.
Soma-se aos US$ 5 trilhões que os governantes calcularam ontem já terem sido prometidos ou colocados diretamente na economia (um pouco mais de três PIBs do Brasil).
Falta agora a resposta do setor privado, como constata Trevor Manuel, ministro de Finanças sul-africano: "Os governos tomaram decisões difíceis. Agora, cabe ao setor privado fazer a sua parte".
O próprio comunicado acaba aceitando que as ações governamentais para recuperar o crescimento "não podem ser eficazes até que se restaure o crédito doméstico e o fluxo internacional de capitais". Ou, como preferiu o presidente Lula: "O dinheiro desapareceu".
Fazer reaparecer o dinheiro é responsabilidade principalmente do setor privado, mesmo em países que têm bancos públicos fortes (caso do Brasil) ou que tenham, na crise, ficado com a maioria das ações de bancos com problemas (o gerenciamento segue em mãos privadas, por "resistência ideológica à estatização", como diz o chanceler Celso Amorim).
O documento reconhece também o óbvio: "A confiança não será restaurada até que reconstruamos a confiança em nosso sistema financeiro".
Nesse capítulo, o documento é pobre. Limita-se a prometer "enfrentar decididamente o problema dos ativos tóxicos", que entopem o sistema.
Sem limpá-lo, a recuperação não virá, já advertiu Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI, que se torna fundamental na crise. A pilha de dinheiro anunciada destina-se, na sua maior parte, ao FMI. Ou seja não entrará diretamente na economia, mas ficará à disposição de países em dificuldades. Usar tais recursos evita o pior, mas só conduz à recuperação a médio ou longo prazo.
Tanto é assim que o texto do G20 limita-se a especular com a possibilidade de que o pacotaço de agora acelere o retorno ao crescimento, que o FMI previu apenas para o final de 2010.
Também para o médio prazo é a parte mais suculenta das providências anunciadas, o reforço da regulação/supervisão do sistema financeiro, de resto nos termos basicamente acordados há três semanas. O documento final afirma ainda que "a era do segredo bancário acabou", mas as medidas contra paraísos fiscais só devem ocorrer também a médio prazo.
As brumas sobre o presente são tamanhas que mesmo um inoxidável otimista como o presidente Lula, entusiasta do pacote, diz: "Os países causadores da crise não têm noção do tamanho da crise". Mais: "Ninguém tem as certezas absolutas de dez anos atras".
Do US$ 1,1 trilhão ontem anunciado, US$ 850 bilhões destinam-se "a apoiar o crescimento em mercados emergentes e países em desenvolvimento, por meio de ajuda ao financiamento de gastos contracíclicos, recapitalização de bancos, infraestrutura, financiamento do comércio, apoio ao balanço de pagamentos, rolagem da dívida e suporte social". Os outros US$ 250 bilhões são para o financiamento do comércio mundial, estancado.
Ou seja, não é dinheiro para o epicentro da crise, os países ricos. O que acaba não resolvendo o problema do Brasil, a julgar pelo discurso que Lula disse ter feito a seus pares: "A única coisa que peço aos países ricos é que recuperem a sua economia". Resposta indireta do americano Barack Obama: "Nossos problemas não serão resolvidos em um encontro".
Bom resumo para a Cúpula de Londres.


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