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LUÍS NASSIF
Serra e as pesquisas
Em geral, a compartimentalização da cobertura cria dois
problemas para o jornalismo econômico e para o político. Para o
econômico, o fato de muitas vezes
não avaliar adequadamente as
implicações da política na economia. Para o político, o fato de não
pesar as consequências da economia sobre a política.
Tome-se o caso da candidatura
José Serra. Atribui-se sua estagnação nas últimas semanas à crise
com o PFL, à presumível falta de
carisma de Serra -como se FHC
fosse carismático-, ao episódio
Lunus etc., à sua falta de simpatia, que era a mesma quando estava mais bem colocado nas pesquisas.
Se se incluíssem fatores econômicos recentes, o quadro ficaria
um pouco mais compreensível,
porque é nesse campo que ocorreram mudanças significativas, com
reflexos inevitáveis sobre o quadro político.
Primeiro, uma deterioração das
expectativas econômicas, fato que
começou a ocorrer há um mês. A
economia não reagiu da forma
como se previra no início do ano.
Pensava-se então que, com as condições macroeconômicas favoráveis, as exportações estimulariam
a atividade econômica. Esse processo começa a ocorrer, mas de
forma muito lenta e só será perceptível a partir de meados do ano
ou até um pouco depois, a julgar
pelas últimas pesquisas da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
As razões são variadas. A crise
argentina tirou US$ 2,4 bilhões da
economia no primeiro trimestre
-US$ 1,5 bilhão pelo não-pagamento e US$ 900 milhões pela redução de exportações.
Apesar do enorme otimismo em
relação à recuperação das economias norte-americana e européia,
houve queda geral das exportações, mesmo descontando o fator
argentino, tanto na quantidade
exportada como nos preços obtidos. De outro lado, houve retenção das vendas de soja, com os
agricultores aguardando melhoria das cotações ou do câmbio.
Houve também o movimento de
apreciação do real, que reduziu as
vantagens comparativas das exportações brasileiras. Além da
manutenção de juros elevados pelo Banco Central e do aumento
dos "spreads" bancários.
Mesmo em um cenário mais otimista, não se esperava o aumento
do emprego ainda no primeiro semestre. Com tudo correndo bem,
a recuperação se daria a partir de
meados do ano.
O que vem ocorrendo até agora
é o aumento da inadimplência e
do desemprego, com reflexos inevitáveis na imagem do governo
como um todo. Tanto assim, que
as últimas pesquisas revelaram
não apenas queda de Serra, mas
da popularidade de FHC que, um
mês atrás, estava em alta.
Por isso mesmo, não se podem
analisar as pesquisas de hoje como definitivas. Todo movimento
de opinião pública, tanto nos mercados como na política, são pendulares. Nos momentos de pessimismo, tende-se a potencializar
todos os fatores negativos. Depois,
ocorre um movimento qualquer,
que deflagra a volta do pêndulo.
Nos últimos tempos, o episódio
que deflagrou a reavaliação positiva do governo FHC foi a morte
política dos coronéis. Aí o movimento tende a extrapolar no sentido inverso, exagerando nos feitos do governo, até levar a uma
nova reversão.
A reversão atual foi fruto dos
problemas da economia, às quais
se somaram dois episódios politicamente desastrosos: um desastre
real -a solução da crise energética, punindo os consumidores que
economizaram- e uma crise superdimensionada do setor de telecomunicações, a partir de uma interferência desastrosa do Banco
Central.
São esses os fatos que conspiram
não só contra Serra mas contra
qualquer candidatura oficial. E
que podem ser revertidos, se a economia se recuperar no segundo
semestre.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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