São Paulo, sexta-feira, 03 de maio de 2002

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TELES

Para Juarez Quadros, baixa rentabilidade não ocorreu apenas no país, e os empresários sabiam dos riscos que corriam

Ministro não vê crise nas telecomunicações

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Juarez Quadros (Comunicações) aproveitou a reunião de empresários do setor na posse de Luiz Guilherme Schymura como novo presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para rechaçar a onda de reclamações das empresas e reafirmar que não há crise no setor.
Quadros afirmou, durante discurso, que a baixa rentabilidade no setor de telecomunicações acontece no mundo todo e que os empresários sabiam dos riscos que estavam correndo quando participaram do leilão de privatização da Telebrás, em 1998.
Ele abriu seu discurso afirmando que "o setor de telecomunicações brasileiro não vive crise sistêmica". Depois, foi irônico: "Será que as autoridades do governo foram tão boas vendedoras e alguns investidores foram tão generosos, ao proporem ágios para os seus lances, não sabendo o que estavam fazendo e os eventuais riscos que poderiam correr?"
Sobre o problema de baixa rentabilidade no setor, Quadros afirmou que isso ocorre em outros países. Segundo ele, no Brasil a rentabilidade foi de 2% no ano passado, enquanto que nos Estados Unidos foi de 4%. Rentabilidade é o retorno obtido em relação ao investimento feito.
Uma das razões para a baixa rentabilidade das empresas no Brasil, segundo o ministro, foram os investimentos na antecipação das metas de universalização (instalação de telefones). Esses investimentos não se repetem nos próximos anos.

Amigo especialista
Na platéia, entre outros empresários do setor, estavam o presidente da BCP (operadora de celular na banda B em São Paulo), Dante Iacovone, e Arnaldo Tibyriça, diretor da mesma empresa, "amigo especialista" e primo do diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo.
Tibyriça foi o autor do documento que circulou na CPE (Câmara de Política Econômica), alertando para possível crise no setor de telecomunicações. A divulgação do documento gerou atritos entre a Anatel e o BC. A agência reguladora já havia descredenciado tecnicamente o documento e o BC achava que valia analisá-lo. O documento chegou à CPE por meio de Figueiredo.
Ontem, tanto o presidente da BCP -que teve prejuízo de mais de R$ 1 bilhão ano passado- quanto Tibyriça evitaram comentar o documento que causou polêmica no governo. "Esse problema já foi longe demais, é hora agora de não falar mais sobre ele. Para nós [BCP] é um assunto encerrado. Ele nunca deveria ter começado", disse Tibyriça.
O diretor da BCP disse que o documento "é uma opinião que, por ser muito complexa, dá lugar para todo tipo de interpretação". Tibyriça, no entanto, afirmou que "há sinais, como foi identificado por várias autoridades, que precisam ser levados em consideração para que a gente não venha a ter problemas no futuro". "Ninguém disse que tem uma crise no setor hoje", afirmou.
Apesar de ter rechaçado as reclamações dos empresários, Quadros disse que "alguns pontos da modelagem original do processo de reforma do setor podem ser adequados, desde que não caracterizem ilegalidades".
O ministro afirmou que a Anatel "estará atenta à possibilidade de flexibilização da regulamentação em vigor", mas "sem deixar de atender aos princípios fundamentais da Lei Geral de Telecomunicações".



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