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LUÍS NASSIF
Déjà-vu e alienação do poder
Relendo minhas colunas,
para um livro sobre a imprensa de opinião nos anos 90,
selecionei colunas escritas no
início da apreciação do real. Como neste país a única coisa que
tem continuidade são os erros
de política econômica, repito algumas dessas colunas, que mantêm a atualidade.
Favor trocar apenas a data
para maio de 2003.
1º de dezembro de 1994
"(...) Em todo processo de estabilização, o pico de recursos externos é nos primeiros anos,
quando os ativos locais estão
depreciados por anos de crise,
permitindo ganhos maiores a
quem os compra.
Depois que os preços atingem
níveis internacionais -devido
tanto à valorização interna
quanto à valorização da moeda
local-, tornam-se menos interessantes para o capital de risco.
(...) Cria-se o pior dos mundos.
Quanto mais aumenta o déficit
em transações correntes, mais
aumenta o risco do país. Quanto mais aumenta o risco, mais
reduz-se o ingresso de capitais
externos.
Se a ancoragem é essencial,
não se poderia ter deixado o
câmbio cair tanto."
28 de abril de 1995
"A questão é que a equipe econômica só vai se dar conta do
desastre depois que estiver consumado um estrago considerável na economia. E qual o objetivo dessa violência? Varrer por
mais alguns meses para debaixo
do tapete os erros cometidos na
política cambial. (...) O pior da
história é que essa recessão não
vai resolver, por si, a questão do
desajuste cambial. Vai ter que se
fazer o ajuste mais à frente e em
cima de uma economia desorganizada."
12 de maio de 1995
"A estabilidade é de curto prazo, porque basta os agentes econômicos analisarem as curvas
de progressão da dívida pública
para constatarem que essa maluquice não se mantém. Basta o
especulador aguardar o governo
perder o fôlego para voltar matando.
Mantida essa política, permanecerá a inevitabilidade do
ajuste cambial. Só que o ajuste
terá que ser feito com uma ampla desorganização do setor real
da economia, riscos de crise financeira, inviabilização da rolagem das dívidas estaduais e
federais."
22 de maio de 1995
"A médio prazo, essa política
não só não resolve como aprofunda e inviabiliza qualquer
ajuste fiscal futuro. Até agora
(as exportações de manufaturados) não desabaram completamente porque muitas empresas
resolveram bancar o prejuízo
por algum tempo, para não perderem mercado lá fora, enquanto aguardavam a inversão dessa
loucura.
Com o acréscimo adicional de
custos provocado por essas taxas
malucas e perdendo a esperança
de uma reviravolta a curto prazo no cenário, a queda das exportações de manufaturados
passará a ser geométrica, com
todo o componente de quebradeira e desemprego."
16 de julho de 1995
"Nos últimos dias o presidente
da República passou a se queixar amargamente das tempestades que começa a colher agora
e que poderiam ter sido evitadas
se combatidas a tempo -caso
da balança comercial e da crise
da agricultura.
(...) FHC foi vítima do isolamento do poder e da alienação
da realidade. Trata-se de típico
fenômeno de grandes organizações burocráticas que não dispõem nem de plano estratégico
nem de sistemas eficientes de informação alimentando seu
"board"."
E-mail- luisnassif@uol.com.br
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