São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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Fiesp vê influência de Chávez na Bolívia

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, atuou como uma espécie de avalista para o presidente da Bolívia, Evo Morales, ter tomado a decisão de nacionalizar a exploração do gás e do petróleo no país.
Na Bolívia, era dado como certo que a decisão fosse anunciada no dia 18 de junho, mas foi antecipada para anteontem, dia 1º de maio, logo depois do encontro no sábado, em Havana, de Morales com o ditador cubano Fidel Castro e Hugo Chávez.
A influência de Chávez na decisão de Morales ficou clara ontem durante encontro do senador boliviano Andreas Guzman com a diretoria da Fiesp, em São Paulo. A exposição de Guzman, que é da oposição, não deixou dúvidas de que o venezuelano foi fundamental para Morales ter antecipado a publicação do decreto de nacionalização e expropriação das áreas de gás e petróleo.
A Petrobras não fala publicamente, mas, nas reuniões internas, também admite a hipótese.
Chávez tem basicamente dois interesses na Bolívia. O primeiro é o de aumentar sua influência geopolítica sobre os países da América do Sul. O segundo é o de ampliar o raio de atuação da PDVSA no continente. No caso de a Petrobras sair da Bolívia, a PDVSA seria a substituta natural para operar as refinarias.
Dessa forma, Chávez pode ter garantido os recursos suficientes para indenizar as companhias de petróleo estrangeiras na Bolívia, caso haja necessidade. O total de investimentos da Petrobras no país soma US$ 1,7 bilhão, cerca de 20% do PIB boliviano. Só mesmo um irmão rico, como Chávez, poderia bancar uma decisão arriscada como essa.
Já Morales começava a enfrentar o drama de antecessores de queda de popularidade e ameaça de greves. Ele sentiu necessidade de adotar uma medida forte para recuperar a popularidade, até porque estão previstas eleições para a assembléia nacional constituinte na Bolívia neste ano.

GARGALO
Um dos setores mais dependentes do gás natural, a indústria do vidro se mostra preocupada com a ameaça na importação do produto da Bolívia. "A curto prazo, não há outra alternativa que não o gás natural", diz Lucien Belmonte, superintendente da Abividro (associação do setor). Segundo ele, cerca de 95% do processo produtivo das indústrias do setor utiliza gás natural, índice que era de 50% há três anos. "O percentual subiu porque a Petrobras insistiu em que utilizássemos mais gás natural, disse que havia sobra". Os 50% restantes provinham de óleo pesado, mas, para ele, a readaptação das fábricas a esse combustível não ocorreria a curto prazo e seria custoso. Ele defende que a Petrobras "passe por cima de seu orgulho" e negocie com o governo boliviano para garantir a continuidade no fornecimento.

FEBRE LATINA
A febre da telefonia móvel na América Latina e, em especial, no Brasil, levou a região a ultrapassar os EUA e o Canadá em número de usuários. Dos cerca de 2,3 bilhões de pessoas que utilizam celulares no mundo, 11,4% encontram-se na América Latina, contra 10,2% de residentes nos dois países da América do Norte, segundo a 3G Americas, que reúne operadoras, fornecedores e desenvolvedores da família GSM. Essa tecnologia, aliás, é a mais disseminada no planeta, com 81% do total de usuários em abril passado.

NOS BASTIDORES
O Merrill Lynch foi quem assessorou o Itaú na compra do BankBoston, anunciada ontem.

OTIMISMO
O megainvestidor americano Mark Mobius, do Franklin Templeton, esteve ontem em SP e disse que continuará a investir no Brasil. Ele afirmou ainda esperar que as condições políticas continuem a ser positivas ao país.

CAFEZINHO PORTA À PORTA
A Melitta baterá à porta de 500 mil casas do Estado de São Paulo. Essa é a idéia do projeto da empresa que pretende estimular o filtro de papel no lugar do de tecido ou de nylon. A partir deste mês, até setembro, promotores da Melitta usarão o conceito de venda-direta para visitar os consumidores do interior do Estado, receber modelos antigos e entregar um kit com um sachê de filtros e um porta-filtro da marca. A promoção, além de incitar o consumo de produtos da empresa, pretende ter um lado social: a cada 500 unidades doadas, um medidor de glicemia ou de pressão arterial será doado a um posto de saúde da cidade visitada. "Queremos mostrar uma maneira mais higiênica e prática de fazer café", afirma Fernanda Campos, executiva da Melita. A multinacional alemã, que tem 50% em participação do volume de vendas do produto no país, encerrou o último ano com crescimento de 9% em relação a 2004.

MANTEGA E OS BANCOS
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou os grandes banqueiros do país para reunião depois de amanhã na sede da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em São Paulo, para discutir o "spread" bancário. Segundo um dos banqueiros convocados, Mantega quer saber por que o "spread" não acompanha a queda da Selic. O ministro quer estimular o crédito no país.

ANÁLISE

Comércio exterior tem 3 rumos

Os dados da balança comercial de abril, divulgados ontem, já indicam os rumos que o comércio exterior trilhará sob o domínio da moeda valorizada, avalia o Iedi. Segundo a entidade, os indícios são de (1) forte aceleração de crescimento das importações, (2) a um ritmo maior que o de alta das exportações e (3) grande predomínio de commodities, em especial petróleo e derivados, na alta das vendas ao exterior.
Entre os argumentos para embasar suas conclusões, o Iedi "dessazonalizou" os dados e verificou, por exemplo, que, em abril, as importações cresceram 8,5% ante março, com média mensal de 3,5% no trimestre encerrado nesse mês; já as vendas ao exterior tiveram expansão de 1% e 0,9% nas mesmas comparações, respectivamente.


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