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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Presidente conversa com colega boliviano e, em nota, diz que o abastecimento ao Brasil está garantido
Lula vê ato "soberano" e descarta falta de gás
HUMBERTO MEDINA
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto afirmou ontem, por meio de nota, que o governo brasileiro reconhece o "ato
inerente à soberania" da Bolívia
de nacionalizar suas reservas de
gás natural, mas disse garantir
que o abastecimento do produto
ao Brasil será mantido normalmente. O anúncio ocorreu após
conversa por telefone entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
o colega boliviano, Evo Morales.
Na nota, que pode ser vista como um apoio à decisão de Morales, o governo informou ainda
que o preço do gás terá de ser negociado entre os dois países. Lula
falou por telefone também com os
presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Néstor Kirchner (Argentina). Foi agendado um encontro
de emergência entre Lula, Morales e os dois, em Foz do Iguaçu,
amanhã, para tratar do tema. O
governo considera a reunião uma
largada para as negociações.
No encontro de amanhã, deverá
inclusive ser feito um convite para
que a Bolívia passe a integrar o
projeto do "Gasoduto do Sul", um
supergasoduto orçado em mais
de US$ 20 bilhões, que ligaria a
Venezuela ao Uruguai e passaria
por todo o território brasileiro.
As decisões foram tomadas durante reunião de mais de cinco
horas de Lula com seu vice, oito
ministros, o presidente da Petrobras e assessores para tratar da
questão Bolívia. O governo, que
antes estudava medidas mais duras, mudou de posição e decidiu
evitar o confronto. Anteontem, o
ministro Silas Rondeau (Minas e
Energia) havia falado em "rompimento" e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, em
"reações fortes" do Brasil. Ontem,
a ordem era negociar.
A nota, divulgada ontem à noite, diz que o abastecimento de gás
estava garantido "pela vontade
política de ambos os países, conforme reiterou o presidente Evo
Morales em conversa telefônica
com o presidente Lula" e por "dispositivos contratuais amparados
no direito internacional".
Antes da conversa com Morales, Gabrielli já havia dito a Lula
que a nacionalização anunciada
anteontem não causará problemas no fornecimento de gás.
Pela manhã, Gabrielli disse à TV
Globo: "Estamos intensificando
ao máximo possível a produção
brasileira e estudando alternativas para a expansão do fornecimento de outras fontes".
"Sem preocupação"
Em briefing à tarde, o porta-voz
da Presidência da República, André Singer, já dizia que o fornecimento de gás "continuará de forma absolutamente normal, e que
os consumidores e as empresas
não têm com o que se preocupar".
O decreto assinado por Morales
anteontem determina que toda a
produção seja vendida para a estatal boliviana do setor (YPFB),
aumenta o imposto sobre o gás de
50% para 82% e impõe prazo de
180 dias para que as empresas estrangeiras que operam na Bolívia
decidam se aceitam as novas regras ou deixem o país.
À noite, o assessor especial da
Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, que participou da
reunião com Lula, admitiu que o
governo brasileiro "gostaria que
as coisas não tivessem sido dessa
forma [com a Bolívia]". "Mas
aconteceram, e política não se faz
com o fígado". Na telefonema a
Morales, Lula deixou claro que
gostaria de ter sido informado.
Mas, por enquanto, o governo
ainda "confia no diálogo".
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