São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

Ação da Bolívia é vista como alerta para quem pretende ter negócios no Peru, Equador e Venezuela

Analistas vêem luz vermelha a investimentos


LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

O decreto de nacionalização do gás natural na Bolívia acendeu um sinal vermelho para investimentos estrangeiros no país e nos vizinhos com a mesma tendência nacional-populista: Peru, Equador e Venezuela, mas a estatal brasileira Petrobras, uma das principais afetadas, acabou recebendo recomendação positiva nos Estados Unidos, o que ajudou a impulsionar o preço das ações ontem.
Segundo relatório do banco de investimentos Merril Lynch, o mal-estar momentâneo e qualquer impacto negativo nas ações da Petrobras devem ser encarados como "uma oportunidade atraente de compra".
Para o banco, a situação na Bolívia, mesmo no pior dos casos, não terá impacto significativo na Petrobras, já que apenas uma fração de suas operações e reservas estão no país.
Segundo o analista Frank McGann, o decreto do presidente Evo Morales sinaliza uma renegociação de contratos, com redução de lucros privados. Mas mesmo com a ameaça de entrada de investidores chineses ou indianos, a Bolívia terá de oferecer lucros razoáveis para não reduzir a produção e, portanto, sua arrecadação.
"Provavelmente ninguém vai se provar mais importante que a Petrobras, já que é o principal vendedor no mercado final mais importante da Bolívia, o Brasil", avaliou McGann.
A Merril avalia que o preço das ações comuns da Petrobras pode alcançar a meta de R$ 63,25 por causa do forte perfil de crescimento e a boa governança da empresa.
Segundo a Bloomberg, o relatório influenciou no aumento de R$ 0,79 (1,7%) no preço das ações preferenciais registrado no início da tarde de ontem.

Clima desfavorável
Se havia otimismo com a situação de médio a longo prazo da Petrobras, analistas de crédito avaliaram ontem que Evo Morales deu uma sinalização negativa forte para o investimento estrangeiro no país, efeito que atingirá principalmente o Peru.
"Temos que acreditar no que os políticos estão falando. Não é apenas retórica eleitoral. Eu ficaria muito preocupado com o Peru", disse Roger Scher, da Fitch Ratings.
Ele se refere às declarações de Ollanta Humala, um dos principais candidatos a presidente do Peru, que já sinalizou nacionalizações também.
Para ele, essa nova tendência populista não afeta o Brasil porque o mercado avalia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou pela linha ortodoxa para o crescimento da economia, não à redistribuição de renda por meio de medidas autoritárias.
O analista Christian Stracke, da Credit Sights, afirmou que Lula terá de reagir duramente à afronta de um símbolo nacional como a Petrobras.
"Há uma uma ameaça do outro lado da fronteira. Ele não pode ficar sentado, mesmo que use os canais diplomáticos nos bastidores."
Já Lisa Schineller, da Standard & Poors, avaliou que a medida na Bolívia reflete uma tendência real já conhecida na Venezuela e no Equador, que modificaram contratos de petróleo para extrair mais lucros de empresas estrangeiras.
Ela avaliou que a pressão populista é muito grande no Peru também. "O que vemos nesses países é fruto de instituições fracas e imprevisibilidade política."


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