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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Ação da Bolívia é vista como alerta para quem pretende ter negócios no Peru, Equador e Venezuela
Analistas vêem luz vermelha a investimentos
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
O decreto de nacionalização do
gás natural na Bolívia acendeu
um sinal vermelho para investimentos estrangeiros no país e nos
vizinhos com a mesma tendência
nacional-populista: Peru, Equador e Venezuela, mas a estatal
brasileira Petrobras, uma das
principais afetadas, acabou recebendo recomendação positiva
nos Estados Unidos, o que ajudou
a impulsionar o preço das ações
ontem.
Segundo relatório do banco de
investimentos Merril Lynch, o
mal-estar momentâneo e qualquer impacto negativo nas ações
da Petrobras devem ser encarados como "uma oportunidade
atraente de compra".
Para o banco, a situação na Bolívia, mesmo no pior dos casos, não
terá impacto significativo na Petrobras, já que apenas uma fração
de suas operações e reservas estão
no país.
Segundo o analista Frank
McGann, o decreto do presidente
Evo Morales sinaliza uma renegociação de contratos, com redução
de lucros privados. Mas mesmo
com a ameaça de entrada de investidores chineses ou indianos, a
Bolívia terá de oferecer lucros razoáveis para não reduzir a produção e, portanto, sua arrecadação.
"Provavelmente ninguém vai se
provar mais importante que a Petrobras, já que é o principal vendedor no mercado final mais importante da Bolívia, o Brasil", avaliou McGann.
A Merril avalia que o preço das
ações comuns da Petrobras pode
alcançar a meta de R$ 63,25 por
causa do forte perfil de crescimento e a boa governança da empresa.
Segundo a Bloomberg, o relatório influenciou no aumento de R$
0,79 (1,7%) no preço das ações
preferenciais registrado no início
da tarde de ontem.
Clima desfavorável
Se havia otimismo com a situação de médio a longo prazo da Petrobras, analistas de crédito avaliaram ontem que Evo Morales
deu uma sinalização negativa forte para o investimento estrangeiro no país, efeito que atingirá
principalmente o Peru.
"Temos que acreditar no que os
políticos estão falando. Não é apenas retórica eleitoral. Eu ficaria
muito preocupado com o Peru",
disse Roger Scher, da Fitch Ratings.
Ele se refere às declarações de
Ollanta Humala, um dos principais candidatos a presidente do
Peru, que já sinalizou nacionalizações também.
Para ele, essa nova tendência
populista não afeta o Brasil porque o mercado avalia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
optou pela linha ortodoxa para o
crescimento da economia, não à
redistribuição de renda por meio
de medidas autoritárias.
O analista Christian Stracke, da
Credit Sights, afirmou que Lula
terá de reagir duramente à afronta
de um símbolo nacional como a
Petrobras.
"Há uma uma ameaça do outro
lado da fronteira. Ele não pode ficar sentado, mesmo que use os
canais diplomáticos nos bastidores."
Já Lisa Schineller, da Standard
& Poors, avaliou que a medida na
Bolívia reflete uma tendência real
já conhecida na Venezuela e no
Equador, que modificaram contratos de petróleo para extrair
mais lucros de empresas estrangeiras.
Ela avaliou que a pressão populista é muito grande no Peru também. "O que vemos nesses países
é fruto de instituições fracas e imprevisibilidade política."
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