|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Última expropriação ocorrida no país, em 1969, produziu boom econômico na região de Santa Cruz
Nacionalização tem um forte apelo na história da Bolívia
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Evo Morales não
produziu muita controvérsia no
país ao tomar uma medida de força dessas proporções e enviar tropas do Exército tomarem refinarias. Nacionalizações têm enorme
apelo popular no país. Os bolivianos lembram de épocas de bonança econômica provocadas pela nacionalização das companhias
petrolíferas americanas Standard
Oil, em 1937, e Gulf Oil, em 1969.
O país já enfrentou uma guerra
com o Paraguai por culpa do petróleo e um presidente foi derrubado recentemente por querer exportar gás aos Estados Unidos pelo Chile, inimigo histórico.
A última grande nacionalização
aconteceu em 1969, durante a ditadura militar do general Alfredo
Ovando. O próprio golpe que levou o general ao poder se deu graças a protestos em massa pela "exploração estrangeira".
Houve um confisco dos ativos
da empresa americana. Houve
apenas uma indenização de 78
milhões de dólares por máquinas,
bombas de exploração, imóveis e
veículos da companhia.
Nos anos seguintes, parte da Bolívia viveu um boom econômico.
Com muito dinheiro da exploração do petróleo em caixa e também por uma alta nos preços dos
minerais, o governo boliviano
deu subsídios e créditos generosos -nunca totalmente saldados
-, aos fazendeiros de Santa Cruz
de la Sierra.
O governo priorizou a região
oriental do país, com terras férteis
nas mãos de poucos latifundiários, o que permitiu uma agricultura extensiva. O agronegócio levou prosperidade à região de Santa Cruz de la Sierra. De representar menos de 10% da economia
boliviana até o final dos anos 60,
hoje a área concentra 35% do PIB
nacional.
A metade ocidental do país teve
exploração agrícola por mais de
três mil anos e ali se concentrou
boa parte da reforma agrária boliviana. E continuou pobre.
Só que a bonança não durou
muito. "A estatal YPFB foi desvirtuada, virou um cabide de empregos para cada governo e seus lucros foram tragados pelos déficits
do tesouro nacional", conta o
professor de economia Freddy
Valverde Koch, da Universidade
Católica Boliviana San Pablo, de
La Paz. Em cada nova crise, a empresa era asfixiada pelo Estado.
O governo de Víctor Paz Estenssoro, em 1985, ordenou que 70%
dos lucros da estatal fossem para
o tesouro nacional. "A YPFB ficou
tecnologicamente defasada, burocratizada, sem poder investir.
Sempre que acontece isso, abre-se
o setor para capitais de fora", diz
Valverde.
Em 1994, no primeiro governo
de Gonzalo Sánchez de Lozada, os
bens da empresa foram privatizados e ela só foi mantida para assinar contratos em nome do Estado
com as multinacionais.
Em setembro e outubro de
2003, vários movimentos sociais
produziram enormes manifestações contra o projeto do presidente Sánchez de Lozada, já em seu
segundo mandato, de exportar
gás aos Estados Unidos através do
Chile. Houve repressão militar,
com 67 mortes e mais de 400 feridos. O presidente renunciaria
pouco depois.
Em 1937, a primeira grande nacionalização afetou outra companhia petrolífera americana, a
Standard Oil. Ela foi acusada de
enganar o governo boliviano ao
construir um oleoduto clandestino para transportar ilegalmente
petróleo para campos na Argentina de propriedade da empresa.
O oleoduto foi descoberto durante a Guerra do Chaco (1932 a
1935), quando a Bolívia entrou em
guerra com o Paraguai para disputar uma área que seria rica em
campos petrolíferos. A Guerra do
Chaco provocou quase 100 mil
mortos entre bolivianos e paraguaios, e fez o país perder 200 000
quilômetros quadrados para o
Paraguai. Na Bolívia, é conhecida
como "Guerra do Petróleo".
A ditadura do presidente David
Toro decretou a devolução das
concessões à Standard Oil e confiscou todos os bens da empresa.
Por pressão americana, a Bolívia
pagou, anos depois, 2 milhões de
dólares à Standard Oil.
Texto Anterior: Mercado ignora crise e registra novos recordes Próximo Texto: Tensão entre vizinhos: Gás terá impacto sobre preço da energia Índice
|