São Paulo, quarta-feira, 03 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novas medidas podem afetar negócios do Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

Logo após anunciar a nacionalização do gás na Bolívia, o presidente Evo Morales afirmou ter planos de nacionalizar as terras e propriedades nas florestas do país. Se fizer o que promete, como no caso do gás, mais um setor da economia na mão de brasileiros será atingido. Cerca de 50% da soja produzida no departamento (estado) de Santa Cruz está nas mãos de fazendeiros brasileiros. A soja é o principal produto de exportação do país, depois do gás.
Fontes diplomáticas e do governo brasileiro que falaram à Folha em condição de anonimato, também acham que há possibilidade de novas nacionalizações no setor de extração de minérios. Principalmente o zinco, um dos principais produtos de exportação da Bolívia, onde várias empresas americanas têm investimentos, ou na revisão de contratos de obras públicas.
Qualquer movimento brusco do boliviano contra investimentos estrangeiros atinge negócios do Brasil. O país é o maior parceiro comercial da Bolívia.
A Petrobras responde por 22% da arrecadação boliviana e por 15% do PIB. Cerca de 60% do superávit da balança comercial do país é obtida com as exportações para o Brasil, que compra 32% das exportações bolivianas. Por sua vez, a Bolívia compra 26% de suas importações do Brasil. De feijão a tratores, de equipamentos para a colheita a barras de ferro, a pauta das exportações brasileiras para a Bolívia é incomparavelmente mais diversificada que o inverso: 95% das exportações bolivianas ao Brasil se resumem ao gás.
Comparados, outros parceiros da Bolívia têm um volume de negócios muito menor. O segundo parceiro do país, os Estados Unidos, fica com 15% das exportações e 14% das importações bolivianas. A Argentina, de onde a Bolívia compra 16% de suas importações, é um comprador minúsculo da Bolívia.

Maior investidor
Alem do peso comercial, há a importância dos investimentos. Além da Petrobras e da soja, várias obras de infra-estrutura no país são realizadas por empreiteiras brasileiras que venceram licitações por lá.
No momento, três grandes estradas são construídas por brasileiros. Dois trechos da rodovia que vai ligar Santa Cruz a Puerto Suárez, na fronteira com o Brasil, ao lado de Corumbá, são executados por Odebrecht e um consórcio entre a Camargo Correa e a ARG. Outra estrada, que liga, Tarija a Potosí, no sul do país, é construída pela Queiroz Galvão. Cada trecho envolve investimentos superiores a 100 milhões de dólares. Há temores, entre diplomatas brasileiros, de que o governo Morales possa rever esses contratos.
A economia boliviana é muito dependente de poucos produtos: gás, soja, petróleo cru e zinco são os principais produtos de exportação. Apesar de rico em gás, o país ainda precisa importar gasolina e diesel - principalmente de Argentina e Venezuela. (RJL)


Texto Anterior: Petrobras nega possibilidade de desabastecimento
Próximo Texto: Análise: Morales não quer deixar peteca cair
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.