São Paulo, quinta-feira, 03 de maio de 2007

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Um aliado a menos?

Para o Brasil e outras nações sul-americanas, a saída da Venezuela do FMI e do Banco Mundial é perda importante

UM ALIADO A menos no FMI e no Banco Mundial? É o que parece. Na segunda-feira desta semana, o presidente Hugo Chávez anunciou que a Venezuela pretende se retirar do FMI e do Banco Mundial. Com o seu estilo característico, que oscila entre o bombástico e o histriônico, o presidente venezuelano declarou que não tem mais nenhum interesse em continuar participando dessas instituições financeiras.
Descontados exageros retóricos, a decisão de Chávez tem um lado compreensível. O FMI e o Banco Mundial são organizações fortemente controladas pelos Estados Unidos e demais nações desenvolvidas. A participação dos países em desenvolvimento é pequena.
As políticas apoiadas pelo FMI revelaram-se freqüentemente inadequadas e contribuíram para agravar a situação econômica e política dos países que foram obrigados a recorrer a seus empréstimos. Em muitos momentos, o FMI e o Banco Mundial foram utilizados como veículos das agendas nacionais dos grandes países. Esses e outros problemas deixaram um rastro de ressentimentos na América Latina e em outras regiões do mundo.
Lamento, entretanto, a decisão do presidente Chávez. Espero que ela não se confirme. O FMI e o Banco Mundial têm cobertura quase universal. São poucos os países que não são membros dessas instituições. O FMI tem 185 membros; as Nações Unidas, 192. Ao sair do Fundo e do Banco Mundial, a Venezuela tende a se isolar.
Para o Brasil e outras nações sul-americanas, a saída da Venezuela é uma perda expressiva. É um aliado a menos nas discussões em andamento sobre a reforma do FMI. Os países latino-americanos e caribenhos menores, de baixa renda, alguns dos quais ainda dependem dos empréstimos do FMI, também perdem com a decisão de Chávez. A Venezuela é importante na nossa região e poderia somar-se ao Brasil e à Argentina para defender esses países menores em suas negociações com o Fundo.
Como se sabe, a situação econômica internacional tem sido muito favorável nos anos recentes. A maioria das economias sul-americanas, a Venezuela inclusive, apresenta contas externas fortes e dispõe de reservas internacionais vultosas. Não precisamos dos empréstimos do FMI. Vários países pagaram antecipadamente as dívidas que tinham com esse organismo.
Mas como saber o que nos reserva o futuro? Quem pode excluir a hipótese de que ocorram em algum momento novas crises internacionais com repercussões negativas na América do Sul? O FMI, que hoje parece dispensável, pode revelar-se novamente importante como fonte de empréstimos de emergência.
Não é recomendável sair do FMI e do Banco Mundial. O máximo que se consegue com isso é fazer algum barulho, marcar posição e impressionar a opinião pública. Mas esse ganho político é transitório e tende a se dissipar rapidamente. Melhor seria que a Venezuela continuasse participando dessas instituições, associando-se aos grandes países da periferia, como China, Rússia, África do Sul, Irã, Índia, Brasil e Argentina, para lutar pelo aumento gradual da representatividade dessas entidades multilaterais.
A decisão venezuelana ainda não foi formalizada. Quem sabe o governo brasileiro ainda tenha tempo de exercer um papel moderador, contribuindo para que não se tome uma decisão precipitada, que poderá isolar a Venezuela e enfraquecer seus aliados sul-americanos?


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).

pnbjr@attglobal.net


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