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Morales cobra investimentos de petroleiras
Bolívia assume o controle sobre a exploração de energia e dá prazo para que multinacionais mostrem projetos no país
"Agora somos sócios", diz presidente boliviano a empresas; decisão sobre refinarias da Petrobras ainda segue indefinida
BRUNO LIMA
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
A Bolívia assumiu ontem o
controle sobre a exploração de
seus hidrocarbonetos e instalou relógios medidores em todos os campos de exploração do
país para fiscalizar a produção
das petroleiras privadas.
As companhias têm prazo de
até 180 dias para apresentar
seus planos de investimento no
país -a Petrobras, 90. O governo estipulará valores mínimos
aceitáveis para os aportes de
cada empresa, e ameaça expulsar quem não atingir a quantia.
"Agora somos sócios", declarou ontem o presidente da Bolívia, Evo Morales, ao colocar
em vigor os novos contratos
com as petroleiras. O presidente disse estar "emocionado"
porque as empresas entenderam que não são donas dos recursos. "A Bolívia é um país pobre e, se tivéssemos dinheiro,
não buscaríamos sócios."
Ontem, a estatal YPFB passou a controlar a comercialização de todos os hidrocarbonetos em estado bruto. Antes, o
país concedia às empresas privadas o direito de explorar esses recursos. A produção era
vendida pelas empresas, que,
com parte dos lucros, remuneravam o Estado.
A nova condição dá à Bolívia
um forte instrumento de pressão contra o Brasil para tentar
vencer a queda-de-braço pela
compra, por menor preço, das
duas únicas refinarias do país,
que pertencem à Petrobras.
Com poder para aumentar o
preço do petróleo e do gás necessários para o funcionamento das refinarias, Morales pode
tornar insustentável a posição
brasileira de exigir cerca de
US$ 200 milhões para a venda
do controle das plantas. A Bolívia quer pagar US$ 70 milhões.
A próxima etapa da nacionalização prevê que o país assuma
o controle sobre os derivados
do refino, fazendo da Petrobras
uma prestadora de serviços.
Controvérsias
Ontem à tarde, em aparente
recado à Petrobras, a Bolívia
anunciou o envio de carta ao
Banco Mundial para formalizar
sua saída do Ciadi (Centro Internacional para Arbitragem de
Disputa sobre Investimento),
órgão ligado ao banco.
Para justificar a retirada do
órgão, a chancelaria boliviana
disse estar seguindo o exemplo
do Brasil, que não é membro do
Ciadi. O país também alega que
as decisões da entidade favorecem multinacionais e EUA.
A Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos informou que a
decisão não altera os novos
contratos porque eles prevêem
que as controvérsias sejam decididas em território boliviano.
A Petrobras confirmou ontem 5 dos 6 contratos que tinha
na Bolívia antes da nacionalização. Foi descartada a concessão
de Irenda, no sul do país. Segundo o gerente de exploração
e produção da Petrobras na Bolívia, Fernando Borges, estudos
mostraram que, pelas novas regras, a operação não é atrativa.
Borges confirmou a intenção
da Petrobras de recorrer, se necessário, à arbitragem internacional para solucionar a controvérsia sobre os pagamentos
exigidos da empresa pela Bolívia nos últimos seis meses.
A Bolívia demorou um ano
para assumir o controle sobre a
exploração dos hidrocarbonetos. As companhias assinaram
os contratos há seis meses, mas
erros, burocracia e brigas políticas atrasaram a efetivação.
Resolução foi reeditada para
obrigar a petroleiras a seguir
remunerando o Estado com o
equivalente a 82% da produção.
Pelos novos contratos, porém, a conta é mais vantajosa
para as empresas. A Petrobras
discute os pagamentos em recurso administrativo ao Ministério de Hidrocarbonetos, alegando que atrasos são de responsabilidade do Estado.
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