São Paulo, domingo, 03 de maio de 2009

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Sem estrangeiros, condomínios do NE buscam brasileiros

Crise econômica mundial leva grupos do exterior a rever projetos de turismo no Rio Grande do Norte e na Bahia

Empreendimentos devem atrasar até um ano e meio; com imóveis menores e mais baratos, tentam atrair agora comprador do Brasil

FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA

A crise econômica mundial obrigou estrangeiros que investem em projetos de turismo no Nordeste a mudar o planejamento de seus negócios.
No Rio Grande do Norte e na Bahia, portugueses e espanhóis que projetam condomínios de luxo voltados a europeus decidiram agora focar também o público brasileiro.
Segundo a Adit (Associação de Desenvolvimento Imobiliário e Turístico), que reúne os empresários do setor de construção -de hotéis a construtoras, passando por imobiliárias-, a tática vem se repetindo em todos os grandes empreendimentos estrangeiros na região Nordeste.
Com isso, a crise internacional, que se agravou justamente a partir do setor imobiliário, deve retardar a ambição do setor turístico local de transformar o Nordeste do país em território de "segundas residências" de famílias de alto poder aquisitivo da Europa.
De acordo com o governo do Rio Grande do Norte, os empreendimentos turísticos no Estado devem sofrer atraso de 12 a 18 meses por conta da situação econômica mundial.
Um dos empreendimentos é o Cabo São Roque, previsto para ter mais de 1.300 casas e hotéis de luxo. O jogador inglês David Beckham, atualmente no Milan, da Itália, terá um centro de treinamento no local e veio ao Estado no ano passado para promover o projeto. A administração do resort não respondeu a e-mail da reportagem.
Outro megaempreendimento, o Grand Natal Golf, teve que fazer repentinamente um estudo sobre o cliente nacional para compensar a perda de compradores estrangeiros.

Banderas
O resort, projetado para ter até 35 mil casas, é de um grupo espanhol e foi promovido pelo ator Antonio Banderas.
Airton Nelson, da representação do projeto no Brasil, diz que a empresa terá dificuldades porque não conhece "100%" o público brasileiro.
Devido à crise, os empreendedores desistiram de divulgar os projetos neste ano na feira imobiliária de Madri, segundo o governo potiguar.
Na Bahia, os portugueses do Reta Atlântico decidiram adiar por alguns meses o lançamento de uma das fases do resort Reserva Imbassaí, em Mata de São João (67 km de Salvador), devido a um "ambiente psicológico não favorável". Também resolveram fazer imóveis menores e mais baratos para atrair compradores brasileiros.
Segundo o português Pedro Dias, o grupo já tinha percebido o desaquecimento do mercado europeu antes de a crise se acentuar, no segundo semestre de 2008.
Os imóveis da primeira fase no Reserva Imbassaí tinham preço médio de R$ 1 milhão. Os da segunda sairão em média por R$ 200 mil.
O grupo espanhol Qualtas ainda aguarda licenças ambientais para o resort The Reef Club, em Pernambuco, e cogita adiar o lançamento. A empresa diz que precisará "avaliar as condições de mercado".

Sem rota
Para a economia local do Rio Grande do Norte, as dificuldades do setor frustraram a expectativa de um rápido aquecimento na construção civil e no turismo.
A ideia de implantar um voo fixo Madri-Natal também acabou adiada, diz a Secretaria do Turismo do Estado.
Para Felipe Cavalcante, presidente da Adit Nordeste, os grupos europeus vão ter dificuldade em vender seus produtos imobiliários para o consumidor local.
"O brasileiro, de maneira geral, não quer comprar uma casa a 100 km de uma capital, onde não tem nada. Ele quer ficar onde existe movimento, onde há vida noturna."


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