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Sem estrangeiros, condomínios do NE buscam brasileiros
Crise econômica mundial leva grupos do exterior a rever projetos de turismo no Rio Grande do Norte e na Bahia
Empreendimentos devem atrasar até um ano e meio; com imóveis menores e mais baratos, tentam atrair agora comprador do Brasil
FELIPE BÄCHTOLD
DA AGÊNCIA FOLHA
A crise econômica mundial
obrigou estrangeiros que investem em projetos de turismo no
Nordeste a mudar o planejamento de seus negócios.
No Rio Grande do Norte e na
Bahia, portugueses e espanhóis
que projetam condomínios de
luxo voltados a europeus decidiram agora focar também o
público brasileiro.
Segundo a Adit (Associação
de Desenvolvimento Imobiliário e Turístico), que reúne os
empresários do setor de construção -de hotéis a construtoras, passando por imobiliárias-, a tática vem se repetindo
em todos os grandes empreendimentos estrangeiros na região Nordeste.
Com isso, a crise internacional, que se agravou justamente
a partir do setor imobiliário,
deve retardar a ambição do setor turístico local de transformar o Nordeste do país em território de "segundas residências" de famílias de alto poder
aquisitivo da Europa.
De acordo com o governo do
Rio Grande do Norte, os empreendimentos turísticos no
Estado devem sofrer atraso de
12 a 18 meses por conta da situação econômica mundial.
Um dos empreendimentos é
o Cabo São Roque, previsto para ter mais de 1.300 casas e hotéis de luxo. O jogador inglês
David Beckham, atualmente no
Milan, da Itália, terá um centro
de treinamento no local e veio
ao Estado no ano passado para
promover o projeto. A administração do resort não respondeu
a e-mail da reportagem.
Outro megaempreendimento, o Grand Natal Golf, teve que
fazer repentinamente um estudo sobre o cliente nacional para
compensar a perda de compradores estrangeiros.
Banderas
O resort, projetado para ter
até 35 mil casas, é de um grupo
espanhol e foi promovido pelo
ator Antonio Banderas.
Airton Nelson, da representação do projeto no Brasil, diz
que a empresa terá dificuldades
porque não conhece "100%" o
público brasileiro.
Devido à crise, os empreendedores desistiram de divulgar
os projetos neste ano na feira
imobiliária de Madri, segundo
o governo potiguar.
Na Bahia, os portugueses do
Reta Atlântico decidiram adiar
por alguns meses o lançamento
de uma das fases do resort Reserva Imbassaí, em Mata de São
João (67 km de Salvador), devido a um "ambiente psicológico
não favorável". Também resolveram fazer imóveis menores e
mais baratos para atrair compradores brasileiros.
Segundo o português Pedro
Dias, o grupo já tinha percebido
o desaquecimento do mercado
europeu antes de a crise se
acentuar, no segundo semestre
de 2008.
Os imóveis da primeira fase
no Reserva Imbassaí tinham
preço médio de R$ 1 milhão. Os
da segunda sairão em média
por R$ 200 mil.
O grupo espanhol Qualtas
ainda aguarda licenças ambientais para o resort The Reef
Club, em Pernambuco, e cogita
adiar o lançamento. A empresa
diz que precisará "avaliar as
condições de mercado".
Sem rota
Para a economia local do Rio
Grande do Norte, as dificuldades do setor frustraram a expectativa de um rápido aquecimento na construção civil e no
turismo.
A ideia de implantar um voo
fixo Madri-Natal também acabou adiada, diz a Secretaria do
Turismo do Estado.
Para Felipe Cavalcante, presidente da Adit Nordeste, os
grupos europeus vão ter dificuldade em vender seus produtos imobiliários para o consumidor local.
"O brasileiro, de maneira geral, não quer comprar uma casa
a 100 km de uma capital, onde
não tem nada. Ele quer ficar
onde existe movimento, onde
há vida noturna."
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