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Empresas nacionais vivem "apagão" logístico
Aquecimento da economia faz preço de frete subir 20%; indústrias perdem competitividade com falta de meios de transporte
Montadoras não têm como
atender a demanda por
caminhões novos; custos
com logística e transporte
equivalem a 13% do PIB
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O aquecimento da economia
já provoca gargalos no setor de
transporte e logística do país.
Há aumentos superiores a 20%
nos custos de fretes rodoviários, filas de meses nas montadoras para a compra de caminhões novos e perda de negócios por falhas na entrega de
mercadorias no prazo.
Segundo Ruy Hirschheimer,
CEO para a América Latina da
Electrolux, gigante da área de
eletrodomésticos com fábricas
em Curitiba (PR), São Carlos
(SP) e Manaus (AM), "há falta
generalizada de caminhões para o mercado interno e de navios para o externo".
"Estamos deixando de entregar mercadorias e perdendo
competitividade. A mercadoria
não chega na hora certa, há
atrasos nos embarques e custos
adicionais por conta disso", diz.
A Electrolux vendeu 26%
mais em 2006 e continua crescendo. "O que emperra é a logística." Segundo o empresário,
o frete de um eletrodoméstico
do porto de Paranaguá (PR) para os EUA custa hoje o mesmo
que o de uma mercadoria partindo da China para o mercado
norte-americano, mesmo sendo a distância muito maior.
No moinho Pacífico, o maior
da América Latina e que movimenta 30 mil toneladas/mês de
trigo, os custos com transporte
terrestre já foram majorados
em 20% desde janeiro.
"Há uma pressão sistemática
de custos na área de transporte", afirma Lawrence Pih, presidente do Pacífico. Segundo
ele, os preços maiores com logística estão sendo compensados pela desvalorização do dólar, já que 70% do trigo consumido no Brasil é importado.
Em vários setores, as expectativas futuras de aumentos de
produção e de demanda das
empresas não batem com os investimentos previstos pelo país
em infra-estrutura, seja em
transporte ou em energia.
Na semana passada, o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, disse não poder
"planejar nada a partir de 2011,
2012 porque não há recursos
energéticos suficientes".
O próprio governo federal reconhece só ter gasto até agora
3,5% dos recursos previstos para investimentos em infra-estrutura no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
Deficiências
Segundo o Centro de Estudos em Logística, ligado à
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), os custos
com transporte e logística no
país equivalem a 12,75% do PIB
(Produto Interno Bruto), enquanto nos EUA são de 8,20%.
Por deficiências de logística,
exportar uma tonelada de soja
do Brasil para a China -do norte de Mato Grosso, via porto de
Paranaguá- custa hoje US$ 18
(R$ 34) a mais do que fazer o
mesmo do Estado norte-americano de Iowa, segundo levantamento da CNI (Confederação
Nacional da Indústria).
A entidade projeta que só para o transporte de minério de
ferro haverá aumento de 65%
na demanda por ferrovias nos
próximos quatro anos. Para
produtos siderúrgicos, de 18%.
"Há um risco iminente de novos gargalos, com uma pressão
generalizada por reajuste nos
fretes de carga", diz Renato
Voltaire, diretor da Anut (Associação Nacional dos Usuários
de Transporte de Carga).
O Brasil é extremamente dependente do transporte rodoviário, com cerca de 60% de toda a carga transportada movimentada por caminhões (contra 26% nos EUA). Já o transporte ferroviário (a maior parte
destinado ao minério de ferro)
representa apenas 23% no Brasil -40% nos EUA.
Segundo a Anfavea, que reúne as montadoras de caminhões, a "realidade do mercado
hoje é de filas de compradores e
gargalos na produção". O mesmo se dá no setor agrícola, onde
a demanda por tratores e colheitadeiras subiu 29% no primeiro quadrimestre do ano.
Entre janeiro e abril foram licenciados 27.623 caminhões
novos, 20% a mais do que em
igual período de 2006. A demanda por caminhões semipesados chegou a subir 31%.
Para o diretor do Departamento de Infra-Estrutura da
CNI, José de Freitas Mascarenhas, "o Brasil hoje não tem um
sistema para cuidar da infra-estrutura. Só o Ministério dos
Transportes, que se encarrega
de obras cujos resultados vemos aí", diz, em referência aos
recentes escândalos e desvios
em obras revelados pela Operação Navalha, da Polícia Federal.
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