São Paulo, domingo, 03 de junho de 2007

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Contrabandista ganha rapidez com "acelerado"

DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA

A figura dos veículos "acelerados" mostra a organização das quadrilhas de contrabandistas para o transporte das mercadorias paraguaias. Surgiram na região de fronteira empresas fantasmas que se especializaram em financiar carros, caminhões e carretas em sistema de leasing. Os veículos financiados são repassados, a baixo custo, para os contrabandistas -são os "acelerados", na gíria do crime.
As empresas fantasmas pagam apenas uma prestação do leasing à financeira. Se os veículos forem apreendidos, o custo é mínimo para os contrabandistas. Cabe às financeiras e aos bancos, lesados, buscar reaver os veículos na Justiça Federal. O delegado-chefe da Polícia Federal em Guaíra (PR), Érico Saconatto, diz que a maioria dos caminhões e carretas apreendidos com contrabando de cigarros é dos chamados "acelerados".
São motores de carros pequenos "acelerados" que os contrabandistas utilizam para dar velocidade aos batelões (barcos com motores a gasolina e utilizados para o transporte de mercadorias pelo lago de Itaipu). Neste ano, a PF em Guaíra já apreendeu 21 embarcações, sendo 9 batelões movidos a motores de veículos "acelerados".
Relatório do serviço de inteligência da PF obtido pela Folha chama a atenção pela preocupação com "cidadãos idôneos, os chamados "homens de bem'", que estão sendo cooptados pelas quadrilhas. São produtores rurais com propriedades isoladas e às margens do lago de Itaipu, que alugam barracões (antes destinados a máquinas agrícolas) para o armazenamento de contrabando.
Em Santa Helena (PR), trabalhadores temporários, antes bóias-frias contratados pelos agricultores, também migraram para o contrabando. O presidente do Conselho Municipal de Santa Helena, Jaime Luiz Remor, afirma que a migração tem lógica mercantil. "Esse trabalhador deixa de trabalhar durante o dia, por R$ 35, e prefere ganhar R$ 100 por apenas duas horas, à noite, no carregamento das mercadorias."
Segundo Remor, isso ocorre por uma "cultura" de que o contrabando é um crime menor, cultura essa que estaria arraigada na fronteira paranaense. Em Guaíra, o crime organizado chegou à sofisticação de contratar olheiros para observar o movimento dos policiais federais.
Está preso na delegacia da PF em Guaíra um vigia que recebia do crime organizado para atuar como olheiro. O vigia trabalhava em um posto de combustíveis vizinho à PF. Com um celular, comunicava aos contrabandistas toda a movimentação de agentes e delegados.
Preso, o vigia confessou que comunicava a movimentação de carros da PF -ele alertava os contrabandistas e carregadores (pessoas contratadas para levar o contrabando do lago até os veículos dos contrabandistas) que ficavam em um bar às margens do lago de Itaipu, em uma antiga associação de pescadores. (JM)


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