São Paulo, quarta-feira, 03 de junho de 2009

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Preço do leite sobe 60% em 2 meses em SP

Produtores afirmam que índice reflete recuperação de margens defasadas; com alta, vendas recuam 10% nos mercados

Na capital, preço do leite longa vida aumentou 13,7% em maio, enquanto inflação avançou 0,33%; tendência é preço subir mais, diz Fipe

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços do leite longa vida subiram mais de 60% nos últimos 60 dias, segundo levantamento da Apas (Associação Paulista de Supermercados). O litro de leite, vendido a R$ 1,40 em março, passou para R$ 2,25 em maio. Neste mês, o preço vendido ao consumidor chega a R$ 2,50 em supermercados.
Os produtores afirmam que a alta no preço é resultado de recuperação de margens, necessária para cobrir custos.
"Em maio do ano passado, os produtores recebiam entre R$ 0,80 e R$ 0,83 por litro. Hoje, recebem de R$ 0,75 a R$ 0,76. Os preços têm de subir para R$ 0,80, no mínimo", afirma Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite, a Leite Brasil, que reúne 35 mil produtores.
A entressafra na produção de leite, que ocorre de maio a agosto, pressiona a elevação nos preços, segundo os supermercadistas. Soma-se a isso, neste ano, a redução de oferta do leite provocada pelo problema financeiro da Indústria de Alimentos Nilza.
A Nilza enfrenta período de recuperação judicial desde abril devido a uma dívida de R$ 200 milhões. A empresa, que chegou a produzir 1,5 milhão de litros de leite por dia, reduziu a produção para 500 mil litros por dia a partir de março.
"Os produtores de leite consideram que essa é a hora de tirar a barriga da miséria. Há dois anos, eles tiveram esse mesmo comportamento, e a demanda caiu. O consumidor não quer pagar R$ 2,50 pelo litro do leite", afirma Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da Apas.
O preço do leite, na avaliação de Heron do Carmo, pesquisador da Fipe, está seguindo um padrão muito próximo "ao do pior ano desta década, que foi 2007, quando ocorreu a crise das commodities agrícolas no mundo devido à seca em vários países", afirma.
Em maio, o preço do leite longa vida subiu 13,73% na cidade de São Paulo, segundo levantamento da Fipe. A inflação foi de 0,33%. "Na minha avaliação, esse aumento nos preços é reflexo de falta de produto."
O preço do leite sobe mais do que a inflação há algum tempo. No acumulado de dezembro de 2001 a maio deste ano, segundo Carmo, o preço do leito longa vida subiu 112%, enquanto a inflação no período foi de 64%.
Se seguir o comportamento de preços de 2007, o que tudo indica, na avaliação de Carmo, o preço do leite vai continuar subindo nos próximos meses e vai pressionar a inflação.
Na última semana, segundo a Apas, as vendas de leite caíram 10% nos supermercados como reflexo da alta de preços. Alguns consumidores estão substituindo o produto por bebida à base de soja e pelo leite em pó.
Sussumu Honda, presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), afirma que o consumidor também está trocando leite por iogurtes.
Para Honda, a pressão sobre o preço do leite neste ano é diferente da do ano passado -em maio de 2008 o preço do produto subiu 5,08%, segundo a Fipe.
"Em 2008, a alta ocorreu porque dobrou o preço do leite em pó, que é commodity internacional. Neste ano, não existe essa pressão, mas há seca em algumas regiões do país."
Para Rubez, se o produtor receber por litro do leite "o suficiente para cobrir custos, a produção de leite cresce". "A entressafra para nós é o preço que o produtor recebe. Se o preço cai, cai também a produção."
A produção de leite no Brasil neste ano, segundo ele, deve ser a mesma da do ano passado, de 27,24 bilhões de litros.


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