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ARTIGO
Boom nos emergentes pode acabar em lágrimas
JOHN PLENDER
DO "FINANCIAL TIMES"
Depois de atingir seu nível
mais baixo em uma década,
o fluxo líquido de capital privado
para os mercados emergentes deve subir de US$ 110 bilhões em
2002 para US$ 139 bilhões neste
ano, de acordo com projeções do
Instituto de Finanças Internacionais, uma associação de bancos
internacionais. O boom nos títulos de mercados emergentes responderá por boa parte do ímpeto
constatado nessa alta, refletindo a
resposta daqueles que buscam
captação à procura de rendimento pelos investidores.
Após crescer 28% do terceiro
para o quarto trimestre de 2002,
as emissões líquidas dos países
em desenvolvimento subiram
13%, para US$ 13,2 bilhões, no
primeiro trimestre de 2003, segundo o BIS (Banco de Compensações Internacionais). Os maiores emissores estão na Ásia. A
agência de classificação de crédito
Moody's estimou em junho que
as emissões asiáticas de títulos
respondem por 57% do total de
bônus de mercados emergentes,
US$ 3,5 trilhões. A seguir vem a
América Latina (24%).
O fluxo de capitais para a Ásia,
ainda assim, se apequena diante
das exportações regionais de capitais, mais especialmente aos
EUA, para financiar o déficit do
país em conta corrente. Determinar se esse padrão de movimento
de capital, dos países relativamente pobres para a economia mais
rica do mundo, faz sentido é uma
questão confrontada pela mais recente revisão trimestral do BIS.
À primeira vista, adquirir ativos
financeiros em economias maduras que oferecem rendimentos inferiores aos de investimentos alternativos em casa é um uso dispendioso e perdulário de recursos
reais. É igualmente paradoxal que
as reservas cambiais oficiais asiáticas tenham feito mais para ajudar a desenvolver o mercado de
títulos de agências semi-oficiais
norte-americanas do que para estimular o crescimento dos mercados internos de títulos em seus
países.
No entanto Robert McCawley,
do BIS, aponta que o custo do
acúmulo de reservas cambiais de
baixo rendimento precisa ser avaliado em comparação com a melhoria percebida na posição de
crédito de um país. Se as reservas
cambiais reduzem a probabilidade de uma crise que poderia custar 5% do PIB (Produto Interno
Bruto), seu custo operacional talvez seja justificado. Ele acrescenta
que não se pode presumir que um
acúmulo menor de reservas cambiais resultaria em mais investimento doméstico. Além disso, o
grau de integração dos mercados
de bônus do leste asiático talvez
esteja sendo subestimado. Quase
metade dos títulos internacionais
emitidos por instituições da região terminam nas mãos de investidores da mesma região.
Na verdade, o leste asiático vem
exportando capital relativamente
seguro -investindo em papéis de
alta qualidade norte-americanos,
europeus e japonês- enquanto
importa capital de risco de investidores nos países desenvolvidos.
Ao usar os mercados mundiais
para realizar essa troca internacional de riscos, a região reforçou
os seus balanços nacionais e empresariais, enquanto punha fim à
crise asiática dos anos 90 por
meio das exportações. De sua parte, os EUA vêm servindo como
banco ao financiar ativos arriscados do leste asiático em troca de
passivos mais seguros.
Mas isso não pode ser sustentado indefinidamente, porque a base de capital dos EUA vem enfraquecendo. A dívida internacional
líquida circulante do país chegou
a US$ 2 trilhões. Nos últimos
anos, o retorno sobre ativos externos dos EUA excedeu o custo de
seus passivos externos. Mas isso
deixou de ser verdade em 2002,
quando o serviço da dívida se tornou um dreno de capital.
Outra questão é se o acesso renovado dos países em desenvolvimento a uma fonte relativamente
volátil de capital, os bônus, poderia terminar em lágrimas, como
aconteceu durante a crise asiática.
Na hierarquia dos instrumentos
financeiros estáveis, o investimento estrangeiro direto vem em
primeiro lugar, seguido por carteiras de ações. Em seguida vêm
os bônus, mais instáveis, e os empréstimos bancários, ainda menos estáveis, fecham a lista.
Os bônus dos mercados emergentes são notoriamente inclinados a mudanças maníacas nas
percepções dos investidores que
geram ciclos de expansão e compressão. E é notável que o Brasil,
responsável por dois terços da alta
nos influxos líquidos dos mercados emergentes no primeiro trimestre deste ano, estivesse tomando empréstimos principalmente com prazos mais curtos, o
que deixa um país vulnerável ao
corte de créditos. Será que estamos encarando mais um caso de
"lá vamos nós de novo"?
Tradução de Paulo Migliacci
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