Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELAÇÕES PERIGOSAS
Sérgio Rosa diz não acreditar que italianos deixem BrT
Previ venderá participação
em teles, afirma presidente
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente da Previ (o fundo
de pensão dos funcionários do
Banco do Brasil), Sérgio Rosa, 46,
está prestes a obter a sua maior vitória na disputa com o Opportunity, de Daniel Dantas. No final
deste mês, o conselho da Brasil
Telecom irá se reunir para discutir a destituição do Opportunity
da empresa de telefonia. "Nós estamos próximos de recuperar totalmente nossos direitos na gestão
da empresa", diz Rosa.
O próximo passo, segundo Rosa, será vender a participação da
empresa. "Nosso interesse é vender nossas participações nas empresas de telefonia", diz ele. "Agora, isso pode ou não acontecer no
curto prazo", ressalva.
Sobre as declarações dadas à
Folha pelo presidente da Telecom
Italia, Paolo Dal Pino, de que não
pretendia mais aumentar sua participação na Brasil Telecom e até
sair do negócio, Rosa disse que foi
pego de surpresa. "Não acredito
que a Telecom Italia tome uma
decisão açodada como essa."
Na entrevista abaixo, uma das
raras concedidas desde que assumiu a presidência da Previ, em fevereiro de 2003, Sérgio Rosa fala
também de sua relação com o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo). Segundo ele,
trata-se de amigo antigo, desde a
época do sindicato dos Bancários
de São Paulo, na década de 80,
mas não passa disso. "Não existe
nenhum monitoramento de Gushiken na Previ", afirmou.
A seguir, a entrevista:
Folha - Como é a relação dos fundos com o governo? O governo interfere na gestão dos fundos?
Sérgio Rosa - Os fundos têm uma
relação indireta com o governo.
Há, claro, a relação com as patrocinadoras, que no nosso caso é o
Banco do Brasil, e com o órgão de
fiscalização, que é a Secretaria de
Previdência Complementar. A
nossa relação com o BB tem sido
muito profissional, com total autonomia da diretoria. Com outras
áreas do governo nós não temos
relação, a não ser quando algum
dos nossos negócios nos obriga a
conversar com algum ministério.
Temos investimentos na área de
energia, por exemplo, o que nos
faz conversar com o governo naquilo que diz respeito ao setor, como em outras áreas. Nós não temos tido na Previ nenhuma interferência do governo.
Folha - Recentemente, uma revista publicou que, no final do ano
passado, o então ministro da Casa
Civil, José Dirceu, teria feito pressão dentro do governo para substituí-lo da Previ em razão da sua disputa com o Opportunity, de Daniel
Dantas. O sr. sentiu essa pressão?
Rosa - Não, não sentimos. Até fiquei surpreso com a reportagem.
A trajetória da Previ em relação a
esse caso [a disputa com o Opportunity] é conhecida, pública e tem
sido coerente ao longo do tempo.
Diga-se de passagem que não é
uma ação que começou na minha
gestão como presidente da Previ.
As ações que tomamos em relação a essa empresa de telefonia
vêm desde 2000, quando foram
identificados os problemas. Não
sofri nenhum constrangimento
para continuar atuando pelos interesses da Previ.
Folha - Há uma ligação direta ou
indireta do sr. com a área do ministro Luiz Gushiken?
Rosa - Não, não há. Acho que a
imprensa fala muito nesse suposto monitoramento porque o Gushiken foi um deputado que, sabidamente, atuou bastante em termos de previdência complementar. É um deputado que tinha percebido a importância desse tema e
acumulou uma visão grande sobre isso, mas ele tem atuado dentro das prerrogativas institucionais dele. Mantenho relações com
o Gushiken de antiga amizade,
como companheiros do Sindicato
dos Bancários que fomos, mas em
nenhum aspecto relacionado a
qualquer monitoramento sobre
as minhas atividades na Previ.
Folha - Os fundos estão a um passo de destituir o Opportunity da
gestão da Brasil Telecom. O sr. considera esse passo a maior vitória
nessa disputa?
Rosa - Acredito que nós estejamos próximos de recuperar totalmente nossos direitos na gestão
da empresa. Nós temos a maioria
das ações das controladoras das
empresas de telefonia e estamos
no caminho de realmente assumirmos a posição que a nossa
participação acionária permite, e
não poderemos fazer diferente.
Estamos muito próximos de refletir na gestão da empresa essa condição societária que temos.
Folha - Como será o dia seguinte?
Rosa - Vamos, em primeiro lugar, assumir a nossa parcela na
gestão da empresa com toda a responsabilidade que a gente tem
que ter. Ou seja, mantendo os serviços, atendendo os clientes e os
aspectos regulatórios, protegendo
a empresa e buscando valorizá-la.
De outro lado, as eventuais transações societárias. Existem negociações em curso. Nosso interesse
é vender as nossas participações
nas empresas de telefonia. Agora,
isso pode ou não acontecer no
curto prazo. Ninguém pode assegurar que uma venda vai ser realizada no curto prazo.
Folha - Quais as negociações que
estariam em curso?
Rosa - Bom, existe um interesse
manifestado da Telecom Italia em
obter uma participação maior na
empresa. Essa é a negociação que
objetivamente está em curso.
Folha - Como o sr. interpreta as
declarações dadas à Folha pelo
presidente da Telecom Italia no
Brasil, Paolo Dal Pino, de que iria
desistir de comprar uma participação maior na Brasil Telecom?
Rosa - Fomos pegos de surpresa.
Há negociações, mas eles não fizeram nenhuma proposta objetiva
de compra da nossa participação
na Brasil Telecom. O normal numa negociação como essa é respeitar o processo de mercado e
não fazer declarações à imprensa.
Folha - O sr. acha que Dal Pino pode estar blefando?
Rosa - Não quero adjetivar de
maneira nenhuma a manifestação de Dal Pino.
Folha - Dal Pino fala também que
haveria um projeto de reestatização das empresas de telefonia.
Rosa - Soa-me muito estranho
essa declaração. A Previ é acionista controladora de inúmeras empresas e em todas elas respeitamos os contratos e procuramos
valorizar as empresa.
Folha - O que o sr. acha que o levou a fazer essa declaração?
Rosa - Não quero julgar o que o
levou a fazer isso. Só gostaria de
manter um processo técnico profissional de negociação dentro das
condições de mercado. Ninguém
poder forçar ninguém a fazer um
negócio.
Folha - Se a Telecom Italia realmente desistir do negócio, o que a
Previ fará?
Rosa - Essa companhia tem um
valor importante e haverá outros
interessados. Não acredito que a
Telecom Italia tome uma decisão
açodada como essa. O Brasil é um
mercado importante e eles vão
avaliar melhor esse mercado.
Folha - Além da Telecom Italia,
haveria outros interessados?
Rosa - Não neste momento.
Folha - O que o sr. acha que foi
fundamental nessa disputa com o
Opportunity para as vitórias que
estão sendo obtidas agora pelos
fundos? A denúncia da Kroll? O
rompimento do Citigroup com o
Opportunity?
Rosa - O fator decisivo foi basicamente o somatório de evidências de que eles não exerciam a
gestão das empresas da forma
mais adequada para os investidor.
Folha - O Opportunity diz que as
empresas são bem geridas e que
têm dado bons resultados.
Rosa - Eu acredito que seja possível essas empresas terem uma
gestão bem melhor do que a atual.
Texto Anterior: Luís Nassif: O visionário Friedrich List Próximo Texto: Frases Índice
|