São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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RELAÇÕES PERIGOSAS

Sérgio Rosa diz não acreditar que italianos deixem BrT

Previ venderá participação em teles, afirma presidente

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente da Previ (o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Sérgio Rosa, 46, está prestes a obter a sua maior vitória na disputa com o Opportunity, de Daniel Dantas. No final deste mês, o conselho da Brasil Telecom irá se reunir para discutir a destituição do Opportunity da empresa de telefonia. "Nós estamos próximos de recuperar totalmente nossos direitos na gestão da empresa", diz Rosa.
O próximo passo, segundo Rosa, será vender a participação da empresa. "Nosso interesse é vender nossas participações nas empresas de telefonia", diz ele. "Agora, isso pode ou não acontecer no curto prazo", ressalva.
Sobre as declarações dadas à Folha pelo presidente da Telecom Italia, Paolo Dal Pino, de que não pretendia mais aumentar sua participação na Brasil Telecom e até sair do negócio, Rosa disse que foi pego de surpresa. "Não acredito que a Telecom Italia tome uma decisão açodada como essa."
Na entrevista abaixo, uma das raras concedidas desde que assumiu a presidência da Previ, em fevereiro de 2003, Sérgio Rosa fala também de sua relação com o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo). Segundo ele, trata-se de amigo antigo, desde a época do sindicato dos Bancários de São Paulo, na década de 80, mas não passa disso. "Não existe nenhum monitoramento de Gushiken na Previ", afirmou.
A seguir, a entrevista:

Folha - Como é a relação dos fundos com o governo? O governo interfere na gestão dos fundos?
Sérgio Rosa -
Os fundos têm uma relação indireta com o governo. Há, claro, a relação com as patrocinadoras, que no nosso caso é o Banco do Brasil, e com o órgão de fiscalização, que é a Secretaria de Previdência Complementar. A nossa relação com o BB tem sido muito profissional, com total autonomia da diretoria. Com outras áreas do governo nós não temos relação, a não ser quando algum dos nossos negócios nos obriga a conversar com algum ministério. Temos investimentos na área de energia, por exemplo, o que nos faz conversar com o governo naquilo que diz respeito ao setor, como em outras áreas. Nós não temos tido na Previ nenhuma interferência do governo.

Folha - Recentemente, uma revista publicou que, no final do ano passado, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, teria feito pressão dentro do governo para substituí-lo da Previ em razão da sua disputa com o Opportunity, de Daniel Dantas. O sr. sentiu essa pressão?
Rosa -
Não, não sentimos. Até fiquei surpreso com a reportagem. A trajetória da Previ em relação a esse caso [a disputa com o Opportunity] é conhecida, pública e tem sido coerente ao longo do tempo. Diga-se de passagem que não é uma ação que começou na minha gestão como presidente da Previ. As ações que tomamos em relação a essa empresa de telefonia vêm desde 2000, quando foram identificados os problemas. Não sofri nenhum constrangimento para continuar atuando pelos interesses da Previ.

Folha - Há uma ligação direta ou indireta do sr. com a área do ministro Luiz Gushiken?
Rosa -
Não, não há. Acho que a imprensa fala muito nesse suposto monitoramento porque o Gushiken foi um deputado que, sabidamente, atuou bastante em termos de previdência complementar. É um deputado que tinha percebido a importância desse tema e acumulou uma visão grande sobre isso, mas ele tem atuado dentro das prerrogativas institucionais dele. Mantenho relações com o Gushiken de antiga amizade, como companheiros do Sindicato dos Bancários que fomos, mas em nenhum aspecto relacionado a qualquer monitoramento sobre as minhas atividades na Previ.

Folha - Os fundos estão a um passo de destituir o Opportunity da gestão da Brasil Telecom. O sr. considera esse passo a maior vitória nessa disputa?
Rosa -
Acredito que nós estejamos próximos de recuperar totalmente nossos direitos na gestão da empresa. Nós temos a maioria das ações das controladoras das empresas de telefonia e estamos no caminho de realmente assumirmos a posição que a nossa participação acionária permite, e não poderemos fazer diferente. Estamos muito próximos de refletir na gestão da empresa essa condição societária que temos.

Folha - Como será o dia seguinte?
Rosa -
Vamos, em primeiro lugar, assumir a nossa parcela na gestão da empresa com toda a responsabilidade que a gente tem que ter. Ou seja, mantendo os serviços, atendendo os clientes e os aspectos regulatórios, protegendo a empresa e buscando valorizá-la. De outro lado, as eventuais transações societárias. Existem negociações em curso. Nosso interesse é vender as nossas participações nas empresas de telefonia. Agora, isso pode ou não acontecer no curto prazo. Ninguém pode assegurar que uma venda vai ser realizada no curto prazo.

Folha - Quais as negociações que estariam em curso?
Rosa -
Bom, existe um interesse manifestado da Telecom Italia em obter uma participação maior na empresa. Essa é a negociação que objetivamente está em curso.

Folha - Como o sr. interpreta as declarações dadas à Folha pelo presidente da Telecom Italia no Brasil, Paolo Dal Pino, de que iria desistir de comprar uma participação maior na Brasil Telecom?
Rosa -
Fomos pegos de surpresa. Há negociações, mas eles não fizeram nenhuma proposta objetiva de compra da nossa participação na Brasil Telecom. O normal numa negociação como essa é respeitar o processo de mercado e não fazer declarações à imprensa.

Folha - O sr. acha que Dal Pino pode estar blefando?
Rosa -
Não quero adjetivar de maneira nenhuma a manifestação de Dal Pino.

Folha - Dal Pino fala também que haveria um projeto de reestatização das empresas de telefonia.
Rosa -
Soa-me muito estranho essa declaração. A Previ é acionista controladora de inúmeras empresas e em todas elas respeitamos os contratos e procuramos valorizar as empresa.

Folha - O que o sr. acha que o levou a fazer essa declaração?
Rosa -
Não quero julgar o que o levou a fazer isso. Só gostaria de manter um processo técnico profissional de negociação dentro das condições de mercado. Ninguém poder forçar ninguém a fazer um negócio.

Folha - Se a Telecom Italia realmente desistir do negócio, o que a Previ fará?
Rosa -
Essa companhia tem um valor importante e haverá outros interessados. Não acredito que a Telecom Italia tome uma decisão açodada como essa. O Brasil é um mercado importante e eles vão avaliar melhor esse mercado.

Folha - Além da Telecom Italia, haveria outros interessados?
Rosa -
Não neste momento.

Folha - O que o sr. acha que foi fundamental nessa disputa com o Opportunity para as vitórias que estão sendo obtidas agora pelos fundos? A denúncia da Kroll? O rompimento do Citigroup com o Opportunity?
Rosa -
O fator decisivo foi basicamente o somatório de evidências de que eles não exerciam a gestão das empresas da forma mais adequada para os investidor.

Folha - O Opportunity diz que as empresas são bem geridas e que têm dado bons resultados.
Rosa -
Eu acredito que seja possível essas empresas terem uma gestão bem melhor do que a atual.


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