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BARRIL DE PÓLVORA
Setor alcooleiro já investiu US$ 140 mi em 40 usinas; meta é produzir mais 7 bilhões de litros em 2010/11
Petróleo caro estimula produção de álcool
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o preço do petróleo alcançando US$ 58,75 o barril na Bolsa
de commodities de Nova York, na
sexta-feira, começam a se viabilizar outras fontes alternativas de
energia, segundo analistas.
No curto prazo, entretanto, o
que tem viabilidade técnica, econômica e de mercado é a expansão da produção do álcool carburante. "O preço do petróleo vai
continuar alto e, no curto e médio
prazos, deve crescer a produção
de álcool e de gás natural", diz
Adriano Pires, diretor do CBIE
(Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), consultoria especializada
no mercado de petróleo.
O setor alcooleiro já se prepara
para aumentar sua capacidade de
produção, hoje de 18 bilhões de litros por ano. "Estamos batendo
no limite", diz Antonio de Padua
Rodrigues, diretor técnico da
Unica (União da Agroindústria
Canavieira de São Paulo). Na safra atual (2005/6), foram produzidos 16,5 bilhões de litros. "Na próxima safra, bateremos no teto."
O setor está investindo cerca de
US$ 140 milhões em 40 novas usinas, para passar a produzir mais 7
bilhões de litros de álcool na safra
2010/11. Elas entrarão em produção entre 2006 e 2008 e atingirão
capacidade plena em 2010.
Mas, segundo Rodrigues, esse
aumento de volume será insuficiente para atender à demanda interna projetada e as exportações
que deverão dobrar até lá. "Com
os investimentos em curso, estaremos moendo 80 milhões de toneladas de cana a mais. Seria preciso o dobro disso", diz.
O risco de escassez de álcool
-que fez abortar o Proálcool, a
partir de 1990- não existe, segundo Rodrigues. "Há investimentos em ampliação de usinas e
em ganhos de produtividade."
Crescimento contínuo
O setor alcooleiro não parou de
crescer nos últimos anos -quando o petróleo ainda girava em torno de US$ 30 o barril. "O álcool
produzido no país é competitivo
com o petróleo entre US$ 35 e
US$ 40 o barril. Abaixo desse patamar, a política tributária pode
mantê-lo competitivo também",
observa Rodrigues.
A expectativa do setor é que a
reforma tributária estabeleça que
o combustível da cana não poderá
ter a alíquota do ICMS superior à
de outros combustíveis fósseis.
No diesel, por exemplo, o imposto é de 12%. Atualmente, o ICMS
para o álcool está nessa faixa em
São Paulo, mas em outros Estados
chega a 30%. "Por isso, o álcool
não é competitivo no Brasil todo",
acrescenta Rodrigues.
O crescimento da produção
acompanhou a ampliação da frota de veículos bicombustíveis e a
álcool. Somados, eles já representam 51,5% dos novos automóveis
e utilitários produzidos pelas
montadoras brasileiras, segundo
a Anfavea (dados até maio).
A tendência, segundo os fabricantes, é continuar aumentando o
número de carros bicombustíveis. Hoje, dos mais de 200 modelos fabricados no país, apenas 24
são "flex fuel".
Esses modelos não são exportados, pois foram desenvolvidos para atender a especificações locais e
rodar com gasolina que pode ter
até 22% de álcool. Como vários
países devem passar a misturar álcool à gasolina nos próximos
anos, por questões ambientais, a
tecnologia desenvolvida pelas
montadoras no país poderá ser
adotada lá fora.
Mercado internacional
A expectativa dos produtores
brasileiros é que, com a redução
das reservas de petróleo e seu alto
preço, o álcool venha a se tornar
uma commodity internacional.
Além do fator econômico, questões ambientais podem ajudar a
criar um mercado mundial para o
álcool, dizem os analistas.
Estima-se que o consumo global possa chegar a 30 bilhões de
barris anuais. "Muitos países passarão a produzir álcool", afirma
Rodrigues.
O petróleo na casa de US$ 60
pode viabilizar a produção de outras matérias-primas, como o álcool americano, feito de milho.
Hoje, o custo de produção do álcool nos Estados Unidos é de US$
0,34 por litro, o que corresponde a
US$ 50 o barril -abaixo da atual
cotação do óleo.
A formação de um mercado internacional para o álcool poderá
impulsionar as exportações brasileiras. O esforço do Japão, da Coréia e da China para se adaptar ao
Protocolo de Kyoto -tratado internacional que prevê a redução
das emissões de gases causadores
do efeito estufa-, que entrou em
vigor em fevereiro deste ano, põe
esses países na mira dos produtores brasileiros.
"Nos países asiáticos, o Brasil
pode entrar como o principal fornecedor", diz Rodrigues. De acordo com projeções da Unica, a entidade dos usineiros paulistas, as
exportações brasileiras deverão
dobrar até 2010 e chegar a 5 bilhões de litros anuais.
Segundo Pires, do CBIE, o problema do álcool carburante está
definitivamente resolvido. "Não
precisa mais de subsídio, pois os
custos de produção são competitivos com o petróleo a US$ 25 o
barril e com o gás natural a US$ 30
o barril. E esses preços não voltarão mais", diz ele.
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