São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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BARRIL DE PÓLVORA

Setor alcooleiro já investiu US$ 140 mi em 40 usinas; meta é produzir mais 7 bilhões de litros em 2010/11

Petróleo caro estimula produção de álcool

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o preço do petróleo alcançando US$ 58,75 o barril na Bolsa de commodities de Nova York, na sexta-feira, começam a se viabilizar outras fontes alternativas de energia, segundo analistas.
No curto prazo, entretanto, o que tem viabilidade técnica, econômica e de mercado é a expansão da produção do álcool carburante. "O preço do petróleo vai continuar alto e, no curto e médio prazos, deve crescer a produção de álcool e de gás natural", diz Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), consultoria especializada no mercado de petróleo.
O setor alcooleiro já se prepara para aumentar sua capacidade de produção, hoje de 18 bilhões de litros por ano. "Estamos batendo no limite", diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo). Na safra atual (2005/6), foram produzidos 16,5 bilhões de litros. "Na próxima safra, bateremos no teto."
O setor está investindo cerca de US$ 140 milhões em 40 novas usinas, para passar a produzir mais 7 bilhões de litros de álcool na safra 2010/11. Elas entrarão em produção entre 2006 e 2008 e atingirão capacidade plena em 2010.
Mas, segundo Rodrigues, esse aumento de volume será insuficiente para atender à demanda interna projetada e as exportações que deverão dobrar até lá. "Com os investimentos em curso, estaremos moendo 80 milhões de toneladas de cana a mais. Seria preciso o dobro disso", diz.
O risco de escassez de álcool -que fez abortar o Proálcool, a partir de 1990- não existe, segundo Rodrigues. "Há investimentos em ampliação de usinas e em ganhos de produtividade."

Crescimento contínuo
O setor alcooleiro não parou de crescer nos últimos anos -quando o petróleo ainda girava em torno de US$ 30 o barril. "O álcool produzido no país é competitivo com o petróleo entre US$ 35 e US$ 40 o barril. Abaixo desse patamar, a política tributária pode mantê-lo competitivo também", observa Rodrigues.
A expectativa do setor é que a reforma tributária estabeleça que o combustível da cana não poderá ter a alíquota do ICMS superior à de outros combustíveis fósseis. No diesel, por exemplo, o imposto é de 12%. Atualmente, o ICMS para o álcool está nessa faixa em São Paulo, mas em outros Estados chega a 30%. "Por isso, o álcool não é competitivo no Brasil todo", acrescenta Rodrigues.
O crescimento da produção acompanhou a ampliação da frota de veículos bicombustíveis e a álcool. Somados, eles já representam 51,5% dos novos automóveis e utilitários produzidos pelas montadoras brasileiras, segundo a Anfavea (dados até maio).
A tendência, segundo os fabricantes, é continuar aumentando o número de carros bicombustíveis. Hoje, dos mais de 200 modelos fabricados no país, apenas 24 são "flex fuel".
Esses modelos não são exportados, pois foram desenvolvidos para atender a especificações locais e rodar com gasolina que pode ter até 22% de álcool. Como vários países devem passar a misturar álcool à gasolina nos próximos anos, por questões ambientais, a tecnologia desenvolvida pelas montadoras no país poderá ser adotada lá fora.

Mercado internacional
A expectativa dos produtores brasileiros é que, com a redução das reservas de petróleo e seu alto preço, o álcool venha a se tornar uma commodity internacional. Além do fator econômico, questões ambientais podem ajudar a criar um mercado mundial para o álcool, dizem os analistas.
Estima-se que o consumo global possa chegar a 30 bilhões de barris anuais. "Muitos países passarão a produzir álcool", afirma Rodrigues.
O petróleo na casa de US$ 60 pode viabilizar a produção de outras matérias-primas, como o álcool americano, feito de milho. Hoje, o custo de produção do álcool nos Estados Unidos é de US$ 0,34 por litro, o que corresponde a US$ 50 o barril -abaixo da atual cotação do óleo.
A formação de um mercado internacional para o álcool poderá impulsionar as exportações brasileiras. O esforço do Japão, da Coréia e da China para se adaptar ao Protocolo de Kyoto -tratado internacional que prevê a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa-, que entrou em vigor em fevereiro deste ano, põe esses países na mira dos produtores brasileiros.
"Nos países asiáticos, o Brasil pode entrar como o principal fornecedor", diz Rodrigues. De acordo com projeções da Unica, a entidade dos usineiros paulistas, as exportações brasileiras deverão dobrar até 2010 e chegar a 5 bilhões de litros anuais.
Segundo Pires, do CBIE, o problema do álcool carburante está definitivamente resolvido. "Não precisa mais de subsídio, pois os custos de produção são competitivos com o petróleo a US$ 25 o barril e com o gás natural a US$ 30 o barril. E esses preços não voltarão mais", diz ele.


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