São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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Adolescente faz empreendimento próprio em buraco "independente"

DA AGÊNCIA FOLHA, NO PIAUÍ

Josué de Paula Silva Souza, 16, conquistou há uma semana o seu primeiro emprego. Ele disse estar feliz porque, afinal, abriu o seu próprio negócio: um buraco no chão, na periferia de Esperantina (a 183 km de Teresina, PI).
O rapaz começou a retirar lama e a produzir seus tijolos. Filho único, ele estuda à noite na 6ª série e trabalha de manhã e à tarde. A mãe, empregada doméstica na cidade, ganha R$ 200 mensais.
Sua perspectiva com a atividade é, no mínimo, dobrar a renda familiar. Há três dias, ele fechou seu primeiro negócio. Vendeu R$ 30 em tijolos ainda não queimados nos fornos de lenha.
Com o dinheiro, comprou uma bermuda por R$ 20 e entregou o restante do dinheiro à mãe, para ajudar nas despesas da casa. Quase escondido atrás de um monte de barro, disse que estava contente com o seu desempenho.
Souza vende mil tijolos não-queimados por R$ 20. O dinheiro é dividido com um "sócio", que o ajuda nas tarefas mais difíceis, como cavar a terra e amassar o barro. A produção diária da dupla é de 500 tijolos por dia.
O buraco onde o garoto trabalha fica próximo a outros, abertos por amigos. Nessa pequena área alagadiça, o grupo formou uma espécie de "pólo teen" da extração de lama, com muita animação, risos e brincadeiras.
Um rádio-gravador de pilha, ligado em alto volume, embala o trabalho dos jovens. A preferência deles é pela axé music. "Ouvindo um som, isso aqui vira um passatempo", afirma. Quando as pilhas acabam, uma "vaquinha" é providenciada entre eles para comprar outras novas.
Souza diz que gosta do que faz. "Ninguém me obrigou, nem me convidou", afirma. "Vim para cá porque sempre pensei em trabalhar assim." O garoto, entretanto, acredita que, no futuro, terá uma profissão "melhor".
"Ainda não pensei no que fazer", disse. Souza não conhece nenhum programa oficial de geração de emprego ou de inserção.
Assim como Souza, muitos jovens desempregados trabalham na produção de tijolos, no Piauí. "É melhor do que ficar parado ou na roça", disse o ex-agricultor Marcos Roberto Alves, 18.
"Na olaria é melhor, porque a gente pega o dinheiro mais fácil", afirma. "Na roça, depende da chuva, e o que nasce é só comida. Dinheiro ninguém vê." (FG)


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