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Adolescente faz empreendimento
próprio em buraco "independente"
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PIAUÍ
Josué de Paula Silva Souza, 16,
conquistou há uma semana o seu
primeiro emprego. Ele disse estar
feliz porque, afinal, abriu o seu
próprio negócio: um buraco no
chão, na periferia de Esperantina
(a 183 km de Teresina, PI).
O rapaz começou a retirar lama
e a produzir seus tijolos. Filho
único, ele estuda à noite na 6ª série e trabalha de manhã e à tarde.
A mãe, empregada doméstica na
cidade, ganha R$ 200 mensais.
Sua perspectiva com a atividade
é, no mínimo, dobrar a renda familiar. Há três dias, ele fechou seu
primeiro negócio. Vendeu R$ 30
em tijolos ainda não queimados
nos fornos de lenha.
Com o dinheiro, comprou uma
bermuda por R$ 20 e entregou o
restante do dinheiro à mãe, para
ajudar nas despesas da casa. Quase escondido atrás de um monte
de barro, disse que estava contente com o seu desempenho.
Souza vende mil tijolos não-queimados por R$ 20. O dinheiro
é dividido com um "sócio", que o
ajuda nas tarefas mais difíceis, como cavar a terra e amassar o barro. A produção diária da dupla é
de 500 tijolos por dia.
O buraco onde o garoto trabalha fica próximo a outros, abertos
por amigos. Nessa pequena área
alagadiça, o grupo formou uma
espécie de "pólo teen" da extração
de lama, com muita animação, risos e brincadeiras.
Um rádio-gravador de pilha, ligado em alto volume, embala o
trabalho dos jovens. A preferência
deles é pela axé music. "Ouvindo
um som, isso aqui vira um passatempo", afirma. Quando as pilhas
acabam, uma "vaquinha" é providenciada entre eles para comprar
outras novas.
Souza diz que gosta do que faz.
"Ninguém me obrigou, nem me
convidou", afirma. "Vim para cá
porque sempre pensei em trabalhar assim." O garoto, entretanto,
acredita que, no futuro, terá uma
profissão "melhor".
"Ainda não pensei no que fazer", disse. Souza não conhece nenhum programa oficial de geração de emprego ou de inserção.
Assim como Souza, muitos jovens desempregados trabalham
na produção de tijolos, no Piauí.
"É melhor do que ficar parado ou
na roça", disse o ex-agricultor
Marcos Roberto Alves, 18.
"Na olaria é melhor, porque a
gente pega o dinheiro mais fácil",
afirma. "Na roça, depende da
chuva, e o que nasce é só comida.
Dinheiro ninguém vê."
(FG)
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