São Paulo, domingo, 03 de julho de 2005

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Mulheres, idosos e crianças levam tijolos na cabeça por R$ 9 ao dia

DA AGÊNCIA FOLHA, NO PIAUÍ

Sexo e idade avançada não são obstáculos para quem trabalha nas atividades ligadas à produção de tijolos no "mar de lama" piauiense. Mulheres e idosos não participam da extração do barro e da confecção dos produtos, mas nem por isso deixam de executar tarefas pesadas e penosas.
É o caso de Rosileine Silva Santos, 30, que carrega em média 2.000 tijolos por dia na cabeça. Sobre um pedaço de pano, empilha 12 deles em duas fileiras e os leva até a área onde serão queimados em um forno de barro.
O vaivém começa às 7h e termina às 17h, com um intervalo de duas horas para o almoço. Pelo serviço, Rosileine recebe R$ 9 por dia. Para conseguir cumprir a meta diária, ela conta com a ajuda da mãe, Maria do Socorro, 66.
"É o que eu sei fazer", diz a mulher, mãe de três filhos, de 14, 6 e 3 anos de idade. Ela conta que começou a carregar tijolos aos sete anos, para ajudar os parentes que já trabalhavam na atividade.
Rosileine não quer o mesmo futuro para os filhos, mas acha que a falta de oportunidades no mercado de trabalho poderá conduzi-los a esse caminho.
As crianças não trabalham, mas, às vezes, a acompanham na olaria porque não há com quem deixá-los. Os mais novos correm entre pilhas de tijolos e brincam de imitar a mãe, equilibrando um pedaço de pedra na cabeça.

Lucro pequeno
Dono da olaria onde trabalha a mulher, Salomão Fortes da Costa, 56, reconhece a dificuldade do serviço e a baixa remuneração. Afirma, entretanto, que não pode alterar os valores pagos porque seu lucro "é pequeno".
Segundo ele, descontadas as despesas, seu ganho por lote de mil tijolos é de R$ 10. Costa chega a contratar 30 pessoas e vende 700 mil tijolos por temporada -em torno de seis meses por ano.
O milheiro do produto é vendido aos intermediários por R$ 80. Na cidade, ele sai por até R$ 120. O dono da olaria considera os preços atuais "satisfatórios", mas acredita que, com o fim do período de chuva, a atividade aumentará e os valores cairão.
Costa fixou um limite de R$ 70 para manter a venda. Se o valor cair mais, avisou, será obrigado a paralisar a produção ou a negociar com os trabalhadores a redução dos seus proventos. "No prejuízo não é possível viver." (FG)


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