São Paulo, terça-feira, 03 de julho de 2007

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Desvalorização do dólar é um problema dos EUA, diz Lula

Presidente afirma que moeda norte-americana perde valor para todas as demais

Lula descarta intervenção ao dizer que, se dólar voltar a subir, inflação aumenta e trabalhador perde poder aquisitivo

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O presidente Lula em evento de comemoração dos 50 anos da Scania no Brasil, em São Bernardo


CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem a desvalorização do dólar ao déficit fiscal dos Estados Unidos e deu sinais de que não está disposto a promover uma valorização da moeda que, em benefício dos exportadores, venha a punir o trabalhador brasileiro.
"O real", disse Lula, "não está valorizado em relação ao euro, o real está valorizado em relação ao dólar, porque o dólar está desvalorizado em relação a todas as moedas do mundo", disse, em cerimônia em comemoração dos 50 anos de instalação da Scania no Brasil, em São Bernardo do Campo (SP). Neste ano, o dólar acumula queda de 10,29% ante o real, cotado a R$ 1,917.
"O problema do câmbio é um problema de um débito fiscal nos EUA, que eles precisam consertar. Como eles são muito grandes, as pessoas não têm coragem de falar e ficam achando que poderemos encontrar um dólar que seja do interesse de quem vende", disse, ao acrescentar: "Mas, se o dólar atender a quem vende, prejudica quem compra e, sobretudo, prejudica o trabalhador. Porque, quando o dólar subir, sobe a inflação, e, subindo a inflação, cai o poder aquisitivo do trabalhador. E isso nós não vamos permitir".
Foi uma resposta ao presidente da Scania na América Latina, Michel de Lambert, que, minutos antes, apontara o câmbio como determinante para a estratégia da empresa: transformar a unidade brasileira numa plataforma de exportação para 50 países.
"As pessoas falam do câmbio como se o presidente pudesse inventar um número mágico e dizer: "O dólar vai valer tanto", disse. "Todo mundo que está aqui é favorável ao câmbio flutuante. O problema do câmbio flutuante é que ele flutua, ele não fica estagnado, porque, se não, vou ter que criar um câmbio para a indústria automobilística, um para a agricultura, um para a soja. Não existe essa possibilidade. Vocês sabem que estamos comprando quase US$ 12 bilhões por ano, intervenção do Banco Central", discursou.
Ao dizer que se comeu "o pão que o diabo amassou" para chegar a uma condição única de crescimento, Lula apontou a indústria automobilística como prova do cenário positivo. O momento, disse, deve-se também ao maior número de parcelas para a compra de carros.
"O trabalhador, para comprar um carro, muitas vezes não olha o preço final. Quem olha são aqueles que pertencem à classe média alta. O trabalhador que vive de salário vai olhar se a prestação cabe dentro do seu contracheque."
Na solenidade, Lula lembrou que aquele pátio foi, em 1978, palco da primeira greve do país desde 1964.


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