São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008

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Sem atuação do governo, Varig não teria sobrevivido, diz ex-dirigente da Infraero

EM SÃO PAULO

O ex-presidente da Infraero José Carlos Pereira afirma que as irregularidades cometidas pela Varig no pagamento de tarifas aeroportuárias eram de tal ordem durante o auge da crise da empresa que ele teve de recorrer à Polícia Federal para cobrar o repasse de taxas de embarque para a estatal.
"Mandei carta para a PF acusando a Varig de apropriação indébita. Isso é crime e popularmente chamamos isso de roubo. Entrei com três ações judiciais, mas havia sempre aquela orientação do governo: salvem a Varig", disse.
A tarifa da estatal responsável pela administração dos aeroportos é cobrada com o preço do bilhete, e as companhias depois repassam a quantia para a Infraero.
De acordo com Pereira, o quadro à época era caótico. "A Varig não pagava as tarifas de quarta e quinta-feira. Chegava na sexta, eu dizia que ela teria de fazer pagamento à vista no fim de semana e na segunda eu pediria a falência. Aí eles pagavam na segunda-feira", contou.
O ex-presidente da Infraero estima que a dívida da Varig com a estatal era da ordem de R$ 700 milhões em 2006.
Para o ex-presidente da Infraero, caso não houvesse a orientação do governo no sentido de salvar a Varig, a companhia aérea não teria resistido muito tempo.
"Ela não teria durado isso tudo, a dívida era grande demais. O governo dizia que era preciso salvar a companhia. A BR jogava muito mais duro do que nós. Era uma questão de poder. Se a Infraero impede um avião de pousar, ele cai. O poder de pressão da Petrobras com o fornecimento de combustível era muito maior", afirmou.

Pressão
Em reportagem publicada pela Folha no dia 25 de junho de 2006, Pereira classificou como "impatriótica" a decisão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) que permitiu a compra da VarigLog pela Volo. Na ocasião, afirmou que dava margem à competição predatória contra as companhias aéreas nacionais e que era um risco para a aviação civil permitir a entrada de capital estrangeiro daquela forma, em referência à participação do fundo de investimento americano Matlin Patterson.
"Precisava ver a esculhambação que levei da Dilma [Rousseff] por ter chamado de impatriótico. Ela me telefonou e disse que eu estava me metendo onde não devia, que não sabia qual era o meu lugar e que estava atrapalhando o caso", disse.
Pereira disse que nunca recebeu uma ordem específica da Casa Civil para aprovar o plano de recuperação, mas que recebeu a instrução de que era preciso salvar a Varig, dentro da lei, e que se concentrou em preservar o recebimento das dívidas da empresa. Ele tinha dúvidas em relação à viabilidade da recuperação dos créditos da estatal com a aprovação do plano de recuperação judicial da companhia. "O ambiente da recuperação judicial me deixava apreensivo. Tinha receio de alguma coisa estar errada e prejudicar a Infraero. Não tenho capacidade técnica para dizer se os meios utilizados para a recuperação da Varig eram certos ou errados, mas tenho certeza de que não foi o melhor caminho", disse.
(JL)


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