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Corte de vagas nos EUA volta a se acelerar
Após recuo no número de demissões, resultado de junho surpreende e põe em dúvida previsões de recuperação da economia
Crise já eliminou 6,5 milhões de postos de trabalho e levou taxa de desemprego
a 9,5%, a maior desde 1983; dados derrubam Bolsa
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
A economia dos EUA perdeu
mais 467 mil postos de trabalho
em junho, elevando para 14,7
milhões o total de desempregados no país. Maior desde agosto
de 1983, a taxa de desemprego
atingiu agora 9,5%.
No mês de maio, as demissões somaram 322 mil, e a expectativa era a de que ficariam
em um patamar próximo a isso
em junho. O número, porém,
veio pior do que as projeções
mais pessimistas.
O resultado caiu como uma
ducha de água fria entre os que
vinham apostando em uma saída breve da atual recessão.
A Bolsa de Nova York caiu
quase 3%, colocando em xeque
a tendência de alta do trimestre
entre abril e junho. No período,
a valorização das ações foi a
maior em dez anos.
Iniciado em dezembro de
2007, o atual ciclo recessivo
nos EUA já ceifou 6,5 milhões
de vagas. Os piores meses para
o emprego foram entre janeiro
e março, com média de cortes
de 691 mil postos de trabalho.
Como ocorre há vários meses, os empregos industriais
(mais bem remunerados) lideraram os cortes, com a eliminação de 136 mil vagas. Outros 79
mil empregos desapareceram
na construção civil, e 21 mil, no
setor comercial.
Na Casa Branca, o presidente
Barack Obama afirmou estar
"profundamente preocupado"
com o mercado de trabalho.
"Levou anos até chegarmos a
essa situação, e ainda vai demandar alguns meses para sairmos dela", disse.
Politicamente, o resultado do
emprego em junho é grande má
notícia para Obama. Além de
ter gasto parte de seu capital
político inicial na aprovação de
um pacote de estímulo fiscal de
US$ 787 bilhões (com o objetivo principal de criar empregos), algumas pesquisas mostram um início de descontentamento em relação a medidas
tomadas pelo presidente.
Parte das críticas é dirigida a
suas ações em relação ao sistema financeiro. Apesar de terem
sido injetadas centenas de bilhões de dólares dos contribuintes para evitar a falência de
bancos, o volume de crédito
disponível na economia não
vem aumentando.
Os bancos, por sua vez, estão
elevando juros e tarifas e voltaram a anunciar bônus totais a
funcionários entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões neste
ano, casos do Goldman Sachs e
Morgan Stanley, por exemplo.
Obama também não teve sucesso ainda no ataque às duas
principais frentes da crise. A
sua causa: o estouro da "bolha
imobiliária" e a avalanche de
despejos. E a consequência disso: o que fazer com os chamados "ativos tóxicos" nos bancos,
que comprometem o crédito e
que são resultado de empréstimos malfeitos no sistema de financiamentos residenciais.
Outro fracasso, ao menos por
enquanto: em março, Obama
anunciou um plano para ajudar
até 5 milhões de mutuários a
refinanciar suas dívidas e evitar
ordens de despejo por não pagamento.
Até meados de junho, segundo o próprio governo, apenas
20 mil pessoas conseguiram renegociar os débitos. Já as ordens de despejo continuam batendo recordes: somaram 321,5
mil em maio.
Ao mesmo tempo, as famílias
vêm poupando mais. Para pagar dívidas ou temendo o desemprego, elas hoje economizam 6,9% da renda disponível
-a maior taxa em 15 anos. O
que só contribui para deprimir
o consumo, responsável por
cerca de 70% do PIB dos EUA.
Até a divulgação do resultado
do emprego, ontem, vinha prevalecendo a visão, explicitada
na Bolsa, de que os chamados
"brotos verdejantes" na economia dos EUA estavam se fortalecendo. E a de que o "ritmo da
piora" havia diminuído.
"Vínhamos assistindo a uma
melhora temporária e substancial. Mas, mais à frente, vamos
para baixo de novo", prevê o
economista da Universidade
Harvard Martin Feldstein,
membro do comitê independente (o NBER) que determina
nos EUA se a economia está ou
não em recessão.
Muitos atribuem a recuperação recente em várias áreas a
uma significativa reposição dos
estoques de indústrias e comércio após os terríveis três últimos meses de 2008. Mas esperam, como o economista
Nouriel Roubini, da RGE Monitor, uma recessão em forma
de "W" (com queda, recuperação, nova queda e só então uma
recuperação consistente).
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