São Paulo, sexta-feira, 03 de julho de 2009

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Corte de vagas nos EUA volta a se acelerar

Após recuo no número de demissões, resultado de junho surpreende e põe em dúvida previsões de recuperação da economia

Crise já eliminou 6,5 milhões de postos de trabalho e levou taxa de desemprego a 9,5%, a maior desde 1983; dados derrubam Bolsa

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

A economia dos EUA perdeu mais 467 mil postos de trabalho em junho, elevando para 14,7 milhões o total de desempregados no país. Maior desde agosto de 1983, a taxa de desemprego atingiu agora 9,5%.
No mês de maio, as demissões somaram 322 mil, e a expectativa era a de que ficariam em um patamar próximo a isso em junho. O número, porém, veio pior do que as projeções mais pessimistas.
O resultado caiu como uma ducha de água fria entre os que vinham apostando em uma saída breve da atual recessão.
A Bolsa de Nova York caiu quase 3%, colocando em xeque a tendência de alta do trimestre entre abril e junho. No período, a valorização das ações foi a maior em dez anos.
Iniciado em dezembro de 2007, o atual ciclo recessivo nos EUA já ceifou 6,5 milhões de vagas. Os piores meses para o emprego foram entre janeiro e março, com média de cortes de 691 mil postos de trabalho.
Como ocorre há vários meses, os empregos industriais (mais bem remunerados) lideraram os cortes, com a eliminação de 136 mil vagas. Outros 79 mil empregos desapareceram na construção civil, e 21 mil, no setor comercial.
Na Casa Branca, o presidente Barack Obama afirmou estar "profundamente preocupado" com o mercado de trabalho. "Levou anos até chegarmos a essa situação, e ainda vai demandar alguns meses para sairmos dela", disse.
Politicamente, o resultado do emprego em junho é grande má notícia para Obama. Além de ter gasto parte de seu capital político inicial na aprovação de um pacote de estímulo fiscal de US$ 787 bilhões (com o objetivo principal de criar empregos), algumas pesquisas mostram um início de descontentamento em relação a medidas tomadas pelo presidente.
Parte das críticas é dirigida a suas ações em relação ao sistema financeiro. Apesar de terem sido injetadas centenas de bilhões de dólares dos contribuintes para evitar a falência de bancos, o volume de crédito disponível na economia não vem aumentando.
Os bancos, por sua vez, estão elevando juros e tarifas e voltaram a anunciar bônus totais a funcionários entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões neste ano, casos do Goldman Sachs e Morgan Stanley, por exemplo.
Obama também não teve sucesso ainda no ataque às duas principais frentes da crise. A sua causa: o estouro da "bolha imobiliária" e a avalanche de despejos. E a consequência disso: o que fazer com os chamados "ativos tóxicos" nos bancos, que comprometem o crédito e que são resultado de empréstimos malfeitos no sistema de financiamentos residenciais.
Outro fracasso, ao menos por enquanto: em março, Obama anunciou um plano para ajudar até 5 milhões de mutuários a refinanciar suas dívidas e evitar ordens de despejo por não pagamento.
Até meados de junho, segundo o próprio governo, apenas 20 mil pessoas conseguiram renegociar os débitos. Já as ordens de despejo continuam batendo recordes: somaram 321,5 mil em maio.
Ao mesmo tempo, as famílias vêm poupando mais. Para pagar dívidas ou temendo o desemprego, elas hoje economizam 6,9% da renda disponível -a maior taxa em 15 anos. O que só contribui para deprimir o consumo, responsável por cerca de 70% do PIB dos EUA.
Até a divulgação do resultado do emprego, ontem, vinha prevalecendo a visão, explicitada na Bolsa, de que os chamados "brotos verdejantes" na economia dos EUA estavam se fortalecendo. E a de que o "ritmo da piora" havia diminuído.
"Vínhamos assistindo a uma melhora temporária e substancial. Mas, mais à frente, vamos para baixo de novo", prevê o economista da Universidade Harvard Martin Feldstein, membro do comitê independente (o NBER) que determina nos EUA se a economia está ou não em recessão.
Muitos atribuem a recuperação recente em várias áreas a uma significativa reposição dos estoques de indústrias e comércio após os terríveis três últimos meses de 2008. Mas esperam, como o economista Nouriel Roubini, da RGE Monitor, uma recessão em forma de "W" (com queda, recuperação, nova queda e só então uma recuperação consistente).


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