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LATINOS EM TRANSE
Governo admite pela primeira vez que irá restringir saques para evitar quebra generalizada de bancos
Uruguai anuncia que vai instituir "corralito"
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O governo uruguaio admitiu
ontem pela primeira vez que vai
estabelecer restrições para para
conter os saques de depósitos
bancários e evitar a quebradeira
do sistema financeiro local.
Rumores de que o país teria um
"corralito" (nome dado pelos argentinos às restrições para saques) já vinham circulando há diversos dias no país devido à fuga
de quase 40% dos depósitos bancários neste ano, mas só foram
confirmadas ontem pelo vice-presidente Luis Hierro López.
As restrições uruguaias, no entanto, serão bem mais flexíveis
que as existentes no país vizinho e
passarão a valer a partir de segunda-feira, quando, segundo ele,
"seguramente" terminará o feriado bancário vigente desde a última quarta-feira.
O vice-presidente -que participou da reunião de anteontem
do presidente Jorge Batlle com as
principais lideranças políticas do
país- não foi claro ao afirmar
que restrições deverão enfrentar
os correntistas.
Segundo a imprensa local, seriam congelados apenas os depósitos a prazo fixo (espécie de CDI)
feitos em bancos públicos ou nos
quais o Banco Central interveio.
Esses recursos seriam devolvidos na moeda original -o país
permite depósitos em dólar- e
em várias parcelas, nos próximos
três anos. Além disso, o governo
pagaria juros para os depósitos a
cada três meses.
As restrições não valeriam para
contas correntes e para a poupança e nem para os bancos estrangeiros e para os nacionais saudáveis, que continuariam responsáveis por honrar os depósitos dos
clientes com recursos próprios.
Procurados pela Folha, tanto o
BC brasileiro quanto o uruguaio
informaram não saber o montante de dinheiro de brasileiros que
poderia ficar preso no país vizinho. Segundo o BC uruguaio,
não-residentes possuíam US$ 3,1
bilhões no país ao final de junho,
sendo que a maioria -US$ 2,2 bilhões- pertenciam a argentinos.
As restrições devem fazer parte
do projeto de lei que será discutido pelo ministro Alejandro Atchugarry (Economia) com parlamentares hoje pela manhã.
Segundo o vice-presidente, o
projeto seria aprovado "em sessão extraordinária" durante o fim
de semana. Dessa forma, o país
receberia US$ 1,5 bilhão do FMI
(Fundo Monetário Internacional)
e do G-7 (grupo dos sete países
mais ricos do mundo) já na segunda-feira, o que possibilitaria a
reabertura dos bancos.
Descontentamento
O governo uruguaio destacou
5.000 policiais e pediu ajuda a helicópteros da Forças Armadas para garantir a segurança e evitar a
concentração de pessoas em
Montevidéu ontem.
Temendo nova onda de saques
-como a que sacudiu o país na
última quinta-feira e deixou um
saldo de 20 pessoas presas- muitos comerciantes fecharam as
portas de seus negócios.
Não houve violência ontem,
mas por falta de policiais a Federação Uruguaia de Futebol decidiu adiar a rodada do campeonato local marcada para hoje. O
mesmo poderia acontecer com
todos os jogos d fim de semana.
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