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LUÍS NASSIF
O jogo bate no Citi
A enxurrada de denúncias da semana passada,
muitas irrelevantes, acabou
deixando para segundo plano
um episódio que poderá ter
largas conseqüências sobre o
mercado em futuro próximo.
Trata-se da decisão da Corte
de Apelações das Ilhas Cayman de remeter para o Privy
Council of Her Majesty -a
Suprema Corte Britânica- a
apelação do Opportunity em
relação ao processo que move
contra o ex-sócio Luiz Demarco.
A guerra mortal entre os
dois lados resultou em dois
processos: um de Demarco
contra o Opportunity, sobre o
cálculo da indenização a que
teria direito quando se desligou da empresa; outro do Opportunity contra Demarco.
Demarco venceu o primeiro
em sentença definitiva. No segundo, recebeu sentença favorável em primeira instância,
com decisão dura contra Daniel Dantas e sua irmã Verônica Dantas, na qual o juiz os
acusa de falsificação de documentos e de conta bancária.
Na apelação, em vez de discutir o mérito da sentença, os
advogados do Opportunity
gastaram suas fichas pedindo
a anulação do processo. Em
vez de se apelar contra a sentença, apelou-se contra o juiz.
Na quinta-feira passada, a
Corte remeteu a decisão para
a instância superior, cujas
sentenças definem a jurisprudência não apenas da Inglaterra mas de um conjunto de
países, como Austrália, Nova
Zelândia, Canadá, Jamaica,
Cayman, Índia, Hong Kong. É
uma corte de cinco juízes, cujas sentenças são pessoalmente assinadas pela rainha do
Reino Unido.
A questão é que não se trata
de análise do mérito, mas do
direito ou não de uma das
partes de obter a anulação do
julgamento e um novo processo. É sim ou não. Se aceitar os
argumentos do Opportunity,
começa um novo processo. Se
não aceitar, a sentença já está
dada. E, estando dada, os desdobramentos serão imprevisíveis, especialmente por expor
de forma clara os problemas
de governança que afetaram o
maior banco do planeta, o Citiroup.
Até agora, o Privy só concedeu o "re-trial" em casos de
sentença de morte. Não há notícias em outros temas, porque
significaria abrir a guarda para algo comum na Justiça brasileira -as apelações visando
procrastinar sentenças.
Nos últimos anos, teve início
minucioso processo de levantamento da atuação do Citi na
América Latina, especialmente nos processos de privatização. Na Argentina, acaba de
ser lançado o livro "Citibank
vs Argentina, História de um
País em Bancarrota", de Marcelo Zlotogwiazda e Luis Balanguer, em que a participação do Citigroup na privatização da telefonia local guarda
semelhanças estupendas com
o caso Brasil Telecom. Cria-se
um emaranhado de holdings,
que dificulta encontrar o fio
da meada, há um sócio local,
que comete atos pouco ortodoxos, e o envolvimento de inúmeras autoridades no episódio. Ricardo Handley, o sócio
argentino, terminou na cadeia.
Esse episódio exporá, em toda sua plenitude, a face mais
obscura do processo de globalização financeira dos anos 90,
os problemas de governança
dos grandes grupos americanos e as alianças que montaram ao sul do continente.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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