São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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Executivas liberam seu lado feminino

Profissionais deixam de imitar homens para assumir estilo próprio de gestão, que valoriza a intuição e a sensibilidade

Mudança de atitude das mulheres é percebida também no vestuário, com maior uso de maquiagem, peças coloridas e jóias

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando as mulheres começaram a desbravar o mercado de trabalho, naturalmente espelharam-se nos modelos de autoridade que conheciam: o pai, o professor, o chefe. E trataram de esconder muito bem, debaixo do terno preto e da camisa branca, todas aquelas qualidades tipicamente femininas que eram consideradas sinal de fraqueza. Para conquistar um lugar e construir uma carreira, ensinaram-lhes, deveriam ser competitivas, individualistas, independentes ao extremo, duras, agressivas e agir sempre de acordo com a razão. Como um homem, em resumo.
Neste início de século, porém, cada vez mais elas têm percebido que não precisam imitar. Assumindo as suas características peculiares, impõem o próprio estilo de gestão. A feminilidade, agora, é valorizada no mundo corporativo.
"Na cópia, exageram-se os trejeitos do original. Foi isso o que aconteceu com as mulheres, elas acabaram abandonando a sua autenticidade, desempenhando um papel que não era delas", comenta Robert Wong, presidente da empresa de recrutamento de executivos que leva o seu nome. "Mas profissionais descobriram que o sucesso está no equilíbrio, que tanto o seu lado feminino como o masculino devem ser desenvolvidos porque são complementares. Melhor do que ser normal, seguir os padrões vigentes, é aprimorar os seus aspectos intrínsecos."
Wong, na verdade, não gosta dos termos "feminino" e "masculino", pois acha que remetem a estereótipos. Prefere lançar mão dos conceitos chineses de yin e yang. "O yin é o intuitivo, colaborativo, que ouve as suas emoções, interdependente. É a força criadora. Altamente desejadas em líderes, tais propriedades também têm que ser cultivadas pelos homens."
Para Fernando Braga, consultor da empresa de recrutamento Robert Half, as empresas estão aprendendo a aproveitar as habilidades das suas colaboradoras. "Somos especializados em mercado financeiro e notamos que há tantas mulheres quanto homens em cargos de liderança. Disputam posições de igual para igual e ganham salários iguais", diz. "A sensibilidade faz com que elas tenham um trabalho em equipe muito forte. Claro, não se pode ser super-sensível porque é necessário suportar pressões. O processo de autoconhecimento evidencia quais são os seus pontos fortes e o que ela tem que aprimorar."
Em meio a essa transformação, até mesmo chorar no escritório, o que antes era visto como o pecado capital das mulheres, está sendo mais tolerado. "Acontece. Em um momento em que ela está desestabilizada, é a válvula de escape que encontra, da mesma maneira que há homens que dão um soco na mesa. Não podemos ser radicais, isso não desabona a profissional. Eu até prefiro quem chora a quem bate na mesa", diz Braga.

Estampa
A atitude mais feminina tem levado as mulheres a mudar até o seu guarda-roupa, deixando de lado algumas das regras rígidas que anteriormente cerceavam a sua personalidade. "O visual é parte importantíssima da comunicação da identidade da executiva", afirma a consultora de imagem paulistana Patricia Tucci. "Hoje em dia, as unhas podem ser pintadas de vermelho, uma maquiagem leve é recomendável -com parcimônia-, o vestido é usado com freqüência. Assim, a mulher coloca-se como uma boa profissional preservando a sua personalidade", acrescenta Andrea Azevedo, consultora mineira.
Os trajes servem até para corrigir mensagens passadas pelas atitudes. No caso de uma mulher que julgue que as suas maneiras estão masculinizadas demais, a sugestão de Tucci é que ela passe a usar peças claras para suavizar a aparência. Já as executivas que falam docemente têm que investir em um vestuário sóbrio.
A fim de ajudar as funcionárias a afinar a maneira de se apresentar, algumas empresas até contratam os serviços de especialistas. Tucci, por exemplo, deu palestras e assessoria individual para as executivas da GRSA, que administra restaurantes em empresas. "A imagem projetada por um profissional inclui estética e conteúdo. Funciona como um cartão de visitas da empresa", justifica Márcia Cubas, diretora de recursos humanos da companhia.
Maria Cristina de Souza Azevedo, 31, gerente de marketing da divisão saúde e empresas da GRSA, diz que as lições a deixaram mais segura. "Ficar pensando se estamos vestidas adequadamente para uma reunião fora da empresa desvia a atenção", observa.
Sua colega Viviane Caputo, 37, gerente de operações, até pouco tempo atrás não se preocupava com o que vestir. "Mas entendi que isso é relevante para aqueles com quem nos relacionamos no ambiente de trabalho. Mostra de fato quem somos e queremos ser."


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