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LUíS NASSIF
Os matadores de empregos
O desfecho do caso Mappin é
uma lição ampla de como o Brasil
não é um país em que o emprego
seja prioridade. Nove mil empregos foram jogados pela janela, R$
500 milhões (correspondentes a
marca, estrutura de pessoal, práticas comerciais, pontos etc.) viraram pó, em um caso inconcebível
de desperdício, em um país com
crise de emprego.
Responsável 1 - Ricardo Mansur, empresário aventureiro, cuja
irresponsabilidade criou o maior
rombo da história comercial do
país, dificultou ainda mais a concessão de crédito bancário e prejudicou a caminhada de alguns
bancos em direção a participações de risco em projetos de reestruturação.
Responsável 2 - Os membros
de Conselhos de Administração e
de acionistas do Mappin -basicamente representantes de bancos credores, que aceitaram transformar os créditos em participação acionária-, ao permitir a escalada de aquisições de uma empresário como Mansur, sem sequer avaliar seu potencial. E, depois, ao não identificar a tempo a
explosão de endividamento das
companhias.
Há vários anos, as lojas de departamento já se constituíam em
um modelo em crise, atropeladas
pelos shopping centers, explica o
consultor Nelson Barrizzelli. As
lojas de departamento que sobreviveram especializaram-se no
chamado ramo "mole" (fundamentalmente moda e seus complementos), com poucas incursões
em utilidades domésticas e brinquedos.
O Mappin tinha o desafio da
reestruturação, quando Mansur
se aventurou com a Mesbla, episódio tão obscuro na história das
empresas nacionais como foi o da
Casa Centro. Empresa do ano da
revista "Exame" em 1988, poucos
anos depois aparecia com um
passivo total de R$ 820 milhões,
sem que analistas de mercado,
Bolsas e Comissão de Valores Mobiliários (CVM) detectassem o
processo de deterioração da companhia.
Com a reestruturação, créditos
são transformados em ações. A
questão é que a nova empresa necessitava de capital de giro para
começar a nova etapa. Esse capital teria que ser bancado pelos
novos acionistas ou oferecido pelos fornecedores -exatamente
aqueles que tinham levado um
calote de R$ 500 milhões e tinham
agora, como prêmio de consolação em seus ativos, ações de pouco
valor. Juntou-se uma empresa
precisando de uma reestruturação total com outra falida.
Responsável 3 - Órgão de regulação do mercado acionário, como a CVM, que não identificou a
tempo a explosão de endividamento da empresa, com desvio de
recursos -ao que tudo indica.
A operação de salvamento do
Mappin consistia, primeiro, em
separar a empresa do empresário.
Este ficaria com os passivos, seria
alvo de ações de ressarcimento e
tudo mais. A empresa seria vendida, o dinheiro arrecadado serviria para amortizar dívidas antigas. Para manter a empresa funcionando no período de venda,
havia a necessidade de R$ 100 milhões, que os credores emprestariam a uma empresa de propósito
definido, para que adquirisse produtos e os entregasse em consignação ao Mappin. Portanto o risco era mínimo.
Responsável 4 - Analistas de
extrato ideológico e pouco conhecimento prático de processos de
reestruturação, que confundiram
com operação hospital e passaram a pressionar o Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) para que não aderissem
à operação de salvamento, que já
tinha a adesão dos credores privados.
Responsável 5 - Autoridades
do governo federal, do BB e do
BNDES que fugiram das suas responsabilidades para não ter que
enfrentar o desafio de explicar
uma operação complexa para
uma opinião pública contaminada pelas primeiras avaliações sobre a operação.
Responsável 6 - O próprio Judiciário. Enquanto se negociava o
arrendamento das principais lojas do Mappin, um juiz decreta
sua falência. Numa ponta, tinha-se a rede Pão de Açúcar tentando
o arrendamento -e pagando ao
Mappin. Na outra, a Carrefour
negociando diretamente com os
donos dos imóveis -para não ter
que pagar o fundo de comércio ao
Mappin. Decretando a falência,
todo o ativo representado pelo
fundo de comércio virou pó. Agora há 9.000 desempregados, duas
empresas extintas, passivos fiscais
e trabalhistas que jamais serão
quitados, nem parcialmente.
É o preço do subdesenvolvimento cultural de um país que só defende o emprego no gogó.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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