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OPINIÃO ECONÔMICA
Que venha a primavera!
BENJAMIN STEINBRUCH
A gosto é considerado fatídico na cultura latina. Os mais
supersticiosos evitam tomar qualquer decisão importante nesse
mês. Não promovem casamentos,
mudanças de residência ou novos
negócios. A Primeira Guerra
Mundial, por exemplo, começou
em 1º de agosto de 1914.
No Brasil, agosto é mês de cachorro louco, porque as condições
climáticas comprovadamente favorecem a propagação do vírus
da raiva entre os animais. Na política, é o mês em que ocorreram
algumas grandes tragédias: o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954,
a renúncia de Jânio Quadros, em
1961, e o acidente em que morreu
Juscelino Kubitschek, em 1976.
Grandes artistas brasileiros
morreram em agosto, entre eles
Carmen Miranda, Orlando Silva,
Vicente Celestino e Luiz Gonzaga.
Agosto deste ano começou
ameaçador. No fim de julho, o dólar havia subido para quase R$
3,50 e o Brasil enfrentava uma
grave crise de credibilidade externa. Parecia que o mundo iria desabar. De fato, no mês passado, o
país andou conturbado, com a
crise externa e com os solavancos
da campanha eleitoral. Mas,
olhado deste início de setembro,
agosto parece ter terminado melhor do que se esperava. Afinal,
bem ou mal, saiu o acordo de US$
30 bilhões com o FMI, caiu o risco
Brasil e o dólar acabou o mês
mais barato do que em julho. Até
a Bolsa de Valores subiu.
Passado o mês de cachorros loucos, é hora de acalmar também as
neuroses em relação à sucessão
presidencial. O Brasil continuará
a ser um país viável, seja lá quem
for o candidato eleito em outubro.
Até prova em contrário, temos de
acreditar nas propostas de governo já apresentadas pelos principais presidenciáveis. Todas apontam para o caminho da esperança: preocupação com a área social, atenção ao crescimento da
economia e do emprego, estímulo
aos investimentos, responsabilidade fiscal e cuidados com a segurança.
Ou seja, a julgar pelos programas, temos razões para crer que o
país continuará num rumo seguro. Então, por que cultivar essa
neurose da transição? Sim, o Brasil tem um problema grave de financiamento externo. Ainda deve precisar de uns US$ 40 bilhões
em 2003 para financiar o balanço
de pagamentos. Mas também há
avanços na área externa: está em
curso um amplo processo de substituição de importações, as exportações em vários setores estão em
forte expansão e a balança comercial pode ter superávit de até
US$ 10 bilhões no próximo ano.
Quantos países podem se dar ao
luxo de ter uma enorme produção de alimentos baratos, uma estrutura produtiva competitiva,
um sistema financeiro moderno e
eficiente e uma razoável ordem
social, a despeito das diferenças
culturais e das desigualdades de
renda?
O Brasil se alinha entre as grandes potências emergentes deste
início de século, ao lado da China,
da Índia e da Rússia. A transição
de poder, em vez de provocar histeria, deveria ser encarada como
uma oportunidade. Legitimado
pelo voto, o novo presidente poderá tomar medidas que, mantida a
estabilidade conquistada nos
anos FHC, criem uma espiral ascendente alimentada por ela mesma. A ansiedade por crescimento
econômico e por empregos é tamanha que dois mais dois podem
somar cinco se as medidas do novo presidente atenderem às demandas da população.
O presidente Fernando Henrique Cardoso passou seus dois
mandatos cuidando da estabilidade e tentando equilibrar as
contas públicas. Foi bem-sucedido, mas deixou de propor algumas reformas necessárias para
impulsionar a economia a um
crescimento sustentado. Espero
que o presidente que será eleito
em outubro tenha credibilidade e
autoridade para cuidar delas.
Agosto terminou. Que venham
a primavera e as flores!
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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