São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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Autopeças demitem em conta-gotas

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo após a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), os metalúrgicos da CUT enfrentam a ameaça de demissões que começaram a ocorrer a conta-gotas nas fábricas de autopeças do ABC paulista. Pelo menos 150 trabalhadores perderam o emprego na Mahle/Metal Leve, na Cofap, na Usimatic e na Rolls-Royce nos últimos 15 dias. Os sindicalistas acreditam que essa tendência deve se manter e se acentuar nos próximos meses.
"Em julho, não havia incentivos, ocorreram cortes em função da crise no setor, com quedas acentuadas nas vendas. As montadoras usaram todos os recursos de que dispunham: férias coletivas, licença remunerada, jornada menor. O problema é que, em agosto, houve redução de impostos, mas a recuperação não é como se esperava. E isso já está trazendo reflexos para as autopeças", disse Adi dos Santos Lima, presidente da FEM-CUT (Federação Estadual dos Metalúrgicos). A entidade representa 250 mil metalúrgicos no Estado.
Dados do Sindipeças, que reúne 650 autopeças no Estado de São Paulo, mostram que cerca de 500 dispensas ocorreram de junho para julho no setor. Mais de 70% das autopeças paulistas trabalham em função das montadoras. Em relação a julho de 2001, foram cortadas 3.300 vagas. Nesse período, o número de empregados passou de 173,3 mil para 170 mil.
"Quem não demitiu já discute reduzir a jornada para frear a produção. Caso da Kostal, em São Bernardo", afirmou Lima. "O problema das autopeças é que elas não podem acompanhar as montadoras concedendo coletivas, por exemplo. Uma montadora pára, mas a outra não. Isso encarece o custo da produção."
Para José Paulo da Silva Nogueira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as demissões atrapalham a campanha salarial. "Teremos dificuldades nas negociações salariais porque a prioridade será a luta pela manutenção dos empregos."
No sábado, a categoria definiu que fará uma campanha pela redução de 10% da jornada como alternativa à dispensa de pessoal, além de reivindicar reposição de 9,33% de inflação (estimativa feita pelo Dieese para repor perdas de novembro de 2001 a setembro deste ano) e aumento real.

Fábricas fechadas
No interior do Estado, as dispensas têm ocorrido principalmente nas metalúrgicas que fornecem equipamentos para as empresas de telecomunicações. De janeiro a julho, na região de São José dos Campos, foram dispensados 2.500 trabalhadores e seis empresas fecharam as portas, segundo o departamento econômico do Sindicato dos Metalúrgicos da região. "Em 2001, de janeiro da julho foram geradas 2.271 vagas na região, que de certa forma evitaram o impacto das 4.866 demissões que ocorreram no segundo semestre do ano passado. Mas em 2002 não houve criação de postos, e as dispensas continuaram", disse Paulo Xavier de Oliveira, coordenador do departamento.
Na base da Força Sindical, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo informou que as demissões nas autopeças ficaram dentro da "rotatividade normal" do setor.
Para Drausio Rangel, negociador salarial do Sindipeças, as demissões em agosto são pontuais. "A crise continua preocupante, mas não é alarmante."


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