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Autopeças demitem em conta-gotas
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo após a redução do IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados), os metalúrgicos da
CUT enfrentam a ameaça de demissões que começaram a ocorrer a conta-gotas nas fábricas de
autopeças do ABC paulista. Pelo
menos 150 trabalhadores perderam o emprego na Mahle/Metal
Leve, na Cofap, na Usimatic e na
Rolls-Royce nos últimos 15 dias.
Os sindicalistas acreditam que essa tendência deve se manter e se
acentuar nos próximos meses.
"Em julho, não havia incentivos, ocorreram cortes em função
da crise no setor, com quedas
acentuadas nas vendas. As montadoras usaram todos os recursos
de que dispunham: férias coletivas, licença remunerada, jornada
menor. O problema é que, em
agosto, houve redução de impostos, mas a recuperação não é como se esperava. E isso já está trazendo reflexos para as autopeças", disse Adi dos Santos Lima,
presidente da FEM-CUT (Federação Estadual dos Metalúrgicos). A
entidade representa 250 mil metalúrgicos no Estado.
Dados do Sindipeças, que reúne
650 autopeças no Estado de São
Paulo, mostram que cerca de 500
dispensas ocorreram de junho
para julho no setor. Mais de 70%
das autopeças paulistas trabalham em função das montadoras.
Em relação a julho de 2001, foram
cortadas 3.300 vagas. Nesse período, o número de empregados passou de 173,3 mil para 170 mil.
"Quem não demitiu já discute
reduzir a jornada para frear a produção. Caso da Kostal, em São
Bernardo", afirmou Lima. "O
problema das autopeças é que
elas não podem acompanhar as
montadoras concedendo coletivas, por exemplo. Uma montadora pára, mas a outra não. Isso encarece o custo da produção."
Para José Paulo da Silva Nogueira, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as demissões
atrapalham a campanha salarial.
"Teremos dificuldades nas negociações salariais porque a prioridade será a luta pela manutenção
dos empregos."
No sábado, a categoria definiu
que fará uma campanha pela redução de 10% da jornada como
alternativa à dispensa de pessoal,
além de reivindicar reposição de
9,33% de inflação (estimativa feita
pelo Dieese para repor perdas de
novembro de 2001 a setembro
deste ano) e aumento real.
Fábricas fechadas
No interior do Estado, as dispensas têm ocorrido principalmente nas metalúrgicas que fornecem equipamentos para as empresas de telecomunicações. De
janeiro a julho, na região de São
José dos Campos, foram dispensados 2.500 trabalhadores e seis
empresas fecharam as portas, segundo o departamento econômico do Sindicato dos Metalúrgicos
da região. "Em 2001, de janeiro da
julho foram geradas 2.271 vagas
na região, que de certa forma evitaram o impacto das 4.866 demissões que ocorreram no segundo
semestre do ano passado. Mas em
2002 não houve criação de postos,
e as dispensas continuaram", disse Paulo Xavier de Oliveira, coordenador do departamento.
Na base da Força Sindical, o Sindicato dos Metalúrgicos de São
Paulo informou que as demissões
nas autopeças ficaram dentro da
"rotatividade normal" do setor.
Para Drausio Rangel, negociador salarial do Sindipeças, as demissões em agosto são pontuais. "A crise continua preocupante, mas não é alarmante."
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