São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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FINANÇA

Em 94, tarifas cobriam 45% da folha de pagamento; agora, cobrem 93%

Tarifas já cobrem quase todo gasto com salário dos bancos

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

As receitas dos bancos com a cobrança de tarifas já cobrem praticamente o total das despesas com com pessoal. Em junho deste ano, as tarifas bancárias representaram 92,7% das despesas com folha de pagamento.
Em alguns bancos, como no Itaú e no Unibanco, as tarifas foram suficientes para pagar a folha e ainda sobrou bastante dinheiro. O levantamento foi feito pela consultoria Austin Asis com base nos balanços dos bancos relativos ao primeiro semestre deste ano.
A evolução do desempenho dos bancos na cobrança de tarifas foi veloz. Em 2000, a receita das tarifas cobradas pelos serviços correspondia a 79,9% da folha de pagamento desses 20 bancos. No ano passado, esse total atingia 84,6%. No ano da criação do Plano Real, em 1994, as tarifas não representavam 45% da folha de pagamento.
Ao mesmo tempo, as despesas com pessoal dos bancos são cada vez menores. No primeiro semestre deste ano, segundo o levantamento da Austin Asis, a folha de pagamento dos 20 bancos pesquisados cresceu apenas 0,2% da receita. No ano passado, em junho, as despesas com pessoal tinham crescido 14,8%.

Real e tarifas
O presidente da Austin Asis, Erivelto Rodrigues, avalia que esses números mostram que os bancos foram bem sucedidos na estratégia que adotaram após o fim da inflação -de desenvolver um sistema eficiente de cobrança de tarifas.
No período da inflação, os bancos praticamente não cobravam tarifas pelos serviços bancários. Até os talões de cheque eram de graça. Os bancos ganhavam no chamado "floating" (ganhos com a inflação) ao investir os depósitos à vista dos clientes, que não eram remunerados ou recebiam remuneração abaixo daquela obtida pelos bancos.
Rodrigues calcula em US$ 15 bilhões ao ano, cerca de 5% do PIB da época, essa receita inflacionária obtida pelos bancos. "Uma boa parte da ineficiência dos bancos se escondia na receita inflacionária", diz Rodrigues.
Com o fim da inflação, os bancos tiveram de começar a cobrar pelos serviços. O objetivo é o de diminuir a dependência dos lucros obtidos com a receita financeira.

Juros e tarifas
Os ganhos relativos à cobrança pelos serviços bancários são mais sólidos do que aqueles obtidos com os juros, já que são muito menos sujeitos às intempéries da economia. A carteira de crédito dos bancos sempre corre o risco de sofrer, por exemplo, com uma onda de inadimplência provocada por uma crise na economia.
Apesar de toda essa evolução na cobrança dos serviços, os bancos ainda estão longe do que planejam. O diretor corporativo e de relações com os investidores do Unibanco, Geraldo Travaglia, diz que hoje, por exemplo, o Unibanco conseguiu que 60% de suas despesas administrativas sejam cobertas com tarifas. Pode parecer um número elevado, mas ainda está distante da meta.
O ideal, segundo o Unibanco, é que os bancos atinjam o padrão dos cinco maiores bancos americanos, que obtêm 82% de suas despesas por meio da cobrança de serviços. Para isso, os bancos brasileiros estão procurando cada vez mais criar novos serviços.
Travaglia diz que, no início, quando os bancos começaram a cobrar pelos serviços, houve uma reação negativa dos clientes. Hoje, segundo ele, a relação é muito menos tensa, principalmente no caso dos grandes bancos.
Além da criação de novos serviços, os bancos também estão usando outra estratégia para aumentar a receita com o aumento do número de clientes, por meio da aquisição de novas instituições. Só o Itaú comprou quatro bancos: Banerj, Bemge, Banestado e BEG. "O crescimento da base de clientes também é uma forma de aumentar a receita com as tarifas", diz Rodrigues.
O interessante, no entanto, é que os bancos brasileiros não deixaram de continuar ganhando com a intermediação financeira. De acordo com o estudo da Austin Asis, apesar de todo o aumento na cobrança dos serviços, em junho deste ano as tarifas representaram uma fatia de apenas 13,1% da receita com a intermediação financeira. No ano passado, essa relação era de 19,5%, e, em 2000, de 16,2%.
Rodrigues diz que esse crescimento da receita com a intermediação financeira se deve a dois fatores. Em primeiro lugar, ao aumento de juros. Depois, aos "spreads" (taxas de risco) elevados cobrados pelos bancos.


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