São Paulo, terça-feira, 03 de setembro de 2002

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AGROFOLHA

GRÃOS

Alto custo dos atuais componentes para ração animal poderá favorecer a evolução da safra do cereal nos próximos anos

Soja e milho caros dão mais espaço ao sorgo

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O custo da ração animal poderá diminuir nos próximos anos com a esperada expansão da lavoura de sorgo no Brasil. Um produto típico dos países tropicais, o sorgo entrou em escala comercial no mercado brasileiro na década de 70, mas ainda não deslanchou como se esperava.
A evolução da produção de sorgo deverá trazer mais renda para os produtores e menos gastos para os fabricantes de ração. Esse produto é uma das saídas para o avanço da safra total brasileira de grãos, que atualmente está próxima a 100 milhões de toneladas, e servirá para o barateamento da produção de carnes, na opinião de analistas de grãos.
O Brasil já domina a técnica do cultivo do sorgo, e os produtores têm à disposição boas sementes, que são, inclusive, exportadas para vários países da América Latina. O sorgo nacional é de boa qualidade, e já atrai a atenção dos japoneses, os mais rígidos no controle das importações de grãos.
A produção, no entanto, ainda é pequena. Neste ano, a safra brasileira deverá ficar um pouco acima de 1 milhão de toneladas, segundo estimativas do Pró-Sorgo, entidade que reúne pesquisadores, produtores e representantes da indústria de sementes.
Paulo Motta Ribas, consultor para o agronegócio do sorgo da Embrapa Milho e Sorgo, diz que a produção deverá avançar nos próximos anos. O sorgo começa a ser visto como um complemento do milho. A queda de produção desse cereal e os elevados preços deverão abrir caminho para o sorgo. Ribas espera que em três anos o Brasil já esteja produzindo 3 milhões de toneladas.
A produção de sorgo tem tudo para deslanchar, segundo a expectativa do mercado. As indústrias de ração estão se conscientizando de que, por um preço menor, conseguem um produto de qualidade semelhante à do milho. Essa nova posição das indústrias poderá incentivar os agricultores a plantar mais.
O aumento da área plantada vai permitir a utilização de mais tecnologia na lavoura, elevando a produtividade. Com mercado garantido e preços melhores, os produtores vão elevar a produção e aumentar os investimentos, segundo Ribas. Esse círculo de maior demanda pelo produto e maior produtividade poderá colocar o Brasil entre os principais produtores mundiais.
Os brasileiros ainda têm uma participação pequena no quadro mundial de oferta do produto. A safra mundial deste ano ficará em 54 milhões de toneladas. Os números mostram que a safra desse grão diminui nos Estados Unidos, o líder mundial, mas cresce nos países tropicais.
Os Estados Unidos são os principais exportadores mundiais, com 6 milhões de toneladas. O México lidera a lista dos importadores, com 4,5 milhões de toneladas por ano. O país utiliza o sorgo para fabricar ração e deixa o milho para o consumo humano. No México é proibida a importação de milho para a produção de ração, diz Ribas.

Produtividade
A elevação da produção brasileira passa por um aumento da produtividade média. Atualmente em 2.000 quilos por hectare, o Brasil poderá atingir a média de 4.000 quilos em pouco tempo, diz o consultor da Embrapa. Em algumas áreas, onde é utilizada mais tecnologia e maiores cuidados no plantio e na colheita, a produtividade é de 5.000 a 6.000 quilos por hectare.
A produtividade brasileira está longe da dos líderes. Os produtores norte-americanos, mexicanos e argentinos colhem pelo menos 3.000 quilos por hectare.
Uma maior produtividade gera mais rentabilidade para o produtor. Ribas diz que o preço do sorgo no mercado internacional vale de 10% a 15% menos do que o do milho. No mercado nacional, esse percentual é de 20%. Os custos de produção, no entanto, são 15% inferiores aos do milho, o que compensa um pouco os preços menores na hora da comercialização.
Ribas diz que não há razão para o produto brasileiro valer menos no mercado interno. Uma das causas é o desconhecimento dos produtores quanto ao valor do produto. Outra é que as indústrias têm conhecimento do produto, mas mesmo assim pagam menos.


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