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AGROFOLHA
GRÃOS
Alto custo dos atuais componentes para ração animal poderá favorecer a evolução da safra do cereal nos próximos anos
Soja e milho caros dão mais espaço ao sorgo
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O custo da ração animal poderá
diminuir nos próximos anos com
a esperada expansão da lavoura
de sorgo no Brasil. Um produto
típico dos países tropicais, o sorgo
entrou em escala comercial no
mercado brasileiro na década de
70, mas ainda não deslanchou como se esperava.
A evolução da produção de sorgo deverá trazer mais renda para
os produtores e menos gastos para os fabricantes de ração. Esse
produto é uma das saídas para o
avanço da safra total brasileira de
grãos, que atualmente está próxima a 100 milhões de toneladas, e
servirá para o barateamento da
produção de carnes, na opinião
de analistas de grãos.
O Brasil já domina a técnica do
cultivo do sorgo, e os produtores
têm à disposição boas sementes,
que são, inclusive, exportadas para vários países da América Latina. O sorgo nacional é de boa qualidade, e já atrai a atenção dos japoneses, os mais rígidos no controle das importações de grãos.
A produção, no entanto, ainda é
pequena. Neste ano, a safra brasileira deverá ficar um pouco acima
de 1 milhão de toneladas, segundo
estimativas do Pró-Sorgo, entidade que reúne pesquisadores, produtores e representantes da indústria de sementes.
Paulo Motta Ribas, consultor
para o agronegócio do sorgo da
Embrapa Milho e Sorgo, diz que a
produção deverá avançar nos
próximos anos. O sorgo começa a
ser visto como um complemento
do milho. A queda de produção
desse cereal e os elevados preços
deverão abrir caminho para o sorgo. Ribas espera que em três anos
o Brasil já esteja produzindo 3 milhões de toneladas.
A produção de sorgo tem tudo
para deslanchar, segundo a expectativa do mercado. As indústrias de ração estão se conscientizando de que, por um preço menor, conseguem um produto de
qualidade semelhante à do milho.
Essa nova posição das indústrias
poderá incentivar os agricultores
a plantar mais.
O aumento da área plantada vai
permitir a utilização de mais tecnologia na lavoura, elevando a
produtividade. Com mercado garantido e preços melhores, os produtores vão elevar a produção e
aumentar os investimentos, segundo Ribas. Esse círculo de
maior demanda pelo produto e
maior produtividade poderá colocar o Brasil entre os principais
produtores mundiais.
Os brasileiros ainda têm uma
participação pequena no quadro
mundial de oferta do produto. A
safra mundial deste ano ficará em
54 milhões de toneladas. Os números mostram que a safra desse
grão diminui nos Estados Unidos,
o líder mundial, mas cresce nos
países tropicais.
Os Estados Unidos são os principais exportadores mundiais,
com 6 milhões de toneladas. O
México lidera a lista dos importadores, com 4,5 milhões de toneladas por ano. O país utiliza o sorgo
para fabricar ração e deixa o milho para o consumo humano. No
México é proibida a importação
de milho para a produção de ração, diz Ribas.
Produtividade
A elevação da produção brasileira passa por um aumento da
produtividade média. Atualmente em 2.000 quilos por hectare, o
Brasil poderá atingir a média de
4.000 quilos em pouco tempo, diz
o consultor da Embrapa. Em algumas áreas, onde é utilizada
mais tecnologia e maiores cuidados no plantio e na colheita, a produtividade é de 5.000 a 6.000 quilos por hectare.
A produtividade brasileira está
longe da dos líderes. Os produtores norte-americanos, mexicanos
e argentinos colhem pelo menos
3.000 quilos por hectare.
Uma maior produtividade gera
mais rentabilidade para o produtor. Ribas diz que o preço do sorgo no mercado internacional vale
de 10% a 15% menos do que o do
milho. No mercado nacional, esse
percentual é de 20%. Os custos de
produção, no entanto, são 15% inferiores aos do milho, o que compensa um pouco os preços menores na hora da comercialização.
Ribas diz que não há razão para
o produto brasileiro valer menos
no mercado interno. Uma das
causas é o desconhecimento dos
produtores quanto ao valor do
produto. Outra é que as indústrias
têm conhecimento do produto,
mas mesmo assim pagam menos.
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