São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Empresas reduzem investimento no ano

Balanços de 300 companhias mostram que gastos na produção caíram de 8% para 6%; rentabilidade líquida diminuiu

Empresários afirmam que expectativa de retorno sobre os investimentos e dúvidas sobre economia tendem a retardar decisões

DA REPORTAGEM LOCAL

Balanços de mais de 300 empresas de capital aberto revelam queda nos investimentos, perda de rentabilidade e aumento no endividamento no primeiro semestre de 2006 em relação ao mesmo período do ano passado.
Os números das empresas relativos aos investimentos seguiram a tendência captada pelo IBGE para o PIB.
Os dados, analisados a pedido da Folha pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração), mostram que, de um ano para o outro, os investimentos das empresas sobre seu ativo total caíram de 7,8% para 5,9%.
A rentabilidade líquida diminuiu de 4,4% para 3,1%, e o endividamento aumentou, de 40,4% para 44,9%.
"Houve uma piora geral, e a principal preocupação hoje é com um caixa reforçado, e não com os investimentos", afirma Alberto Borges Matias, presidente do Inepad.
A liquidez geral das empresas foi o único dado que melhorou, ao passar de 69,2% para 78,8% (veja quadro abaixo).
Para Roberto Teixeira da Costa, do conselho de administração da Sul América, Itaú e BNDESpar (com participação em diversas empresas), é "pequeno" o apetite atual dos empresários por investimentos.
"O empresário é um "ser animal", mas ele olha para investimentos sempre com a expectativa de retorno. Com uma taxa de juros real ao redor de 10%, é difícil tomar a decisão de investir na produção", afirma.
Como comparação, a rentabilidade mediana projetada para as 300 empresas analisadas é de 6,2% em 2006, abaixo dos 10% reais da taxa Selic -com baixo risco a quem investe.
Newton de Mello, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), vê com "pessimismo" o horizonte para os investimentos.
"Por ser de base, nosso setor é uma espécie de torre de observação do que vem por aí. E a expectativa é ruim", afirma.
Nos primeiros sete meses do ano, o consumo aparente de máquinas no país (incluindo importações) recuou 0,8%, e o faturamento caiu 3%.
Além dos juros, o real valorizado, conforme demonstrou o PIB, fez a indústria pisar forte no freio dos investimentos no primeiro semestre.
Rodrigo da Rocha Loures, do conselho da empresa de alimentos Nutrimental e presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), afirma que, como o crescimento em 2006 decorre basicamente da demanda interna, dificilmente haverá novos investimentos voltados ao setor mais rentável -o externo.
"A demanda está muito calcada sobre produtos básicos e populares, o que não estimula áreas com potencial de maiores investimentos e crescimento", afirma Loures.
Segundo os dados do PIB do 2º trimestre, o consumo das famílias subiu 4% em relação a igual período de 2005 e é um dos principais "motores" do crescimento atual.
É duvidoso, no entanto, que esse ritmo continue acelerado mais adiante, já que não se espera que o governo tenha fôlego para manter aumentos reais no salário mínimo a partir de 2007 ou para a ampliação de gastos nos programas sociais.
Segundo Mário Luiz Grieco, presidente da multinacional farmacêutica Bristol-Myers Squibb, "embora o governo desenvolva uma série de programas sociais, também no sentido de angariar votos, o volume de recursos injetado na economia não é suficiente para estimular investimentos para fabricação de produtos mais sofisticados".
Os investimentos do Bristol neste ano serão 50% menores do que em 2005, quando foram "atípicos". (FERNANDO CANZIAN)


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