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Empresas reduzem investimento no ano
Balanços de 300 companhias mostram que gastos na produção caíram de 8% para 6%; rentabilidade líquida diminuiu
Empresários afirmam que
expectativa de retorno
sobre os investimentos e
dúvidas sobre economia
tendem a retardar decisões
DA REPORTAGEM LOCAL
Balanços de mais de 300 empresas de capital aberto revelam queda nos investimentos,
perda de rentabilidade e aumento no endividamento no
primeiro semestre de 2006 em
relação ao mesmo período do
ano passado.
Os números das empresas relativos aos investimentos seguiram a tendência captada pelo IBGE para o PIB.
Os dados, analisados a pedido da Folha pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em
Administração), mostram que,
de um ano para o outro, os investimentos das empresas sobre seu ativo total caíram de
7,8% para 5,9%.
A rentabilidade líquida diminuiu de 4,4% para 3,1%, e o endividamento aumentou, de
40,4% para 44,9%.
"Houve uma piora geral, e a
principal preocupação hoje é
com um caixa reforçado, e não
com os investimentos", afirma
Alberto Borges Matias, presidente do Inepad.
A liquidez geral das empresas foi o único dado que melhorou, ao passar de 69,2% para
78,8% (veja quadro abaixo).
Para Roberto Teixeira da
Costa, do conselho de administração da Sul América, Itaú e
BNDESpar (com participação
em diversas empresas), é "pequeno" o apetite atual dos empresários por investimentos.
"O empresário é um "ser animal", mas ele olha para investimentos sempre com a expectativa de retorno. Com uma taxa
de juros real ao redor de 10%, é
difícil tomar a decisão de investir na produção", afirma.
Como comparação, a rentabilidade mediana projetada para as 300 empresas analisadas
é de 6,2% em 2006, abaixo dos
10% reais da taxa Selic -com
baixo risco a quem investe.
Newton de Mello, presidente
da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas
e Equipamentos), vê com "pessimismo" o horizonte para os
investimentos.
"Por ser de base, nosso setor
é uma espécie de torre de observação do que vem por aí. E a
expectativa é ruim", afirma.
Nos primeiros sete meses do
ano, o consumo aparente de
máquinas no país (incluindo
importações) recuou 0,8%, e o
faturamento caiu 3%.
Além dos juros, o real valorizado, conforme demonstrou o
PIB, fez a indústria pisar forte
no freio dos investimentos no
primeiro semestre.
Rodrigo da Rocha Loures, do
conselho da empresa de alimentos Nutrimental e presidente da Fiep (Federação das
Indústrias do Estado do Paraná), afirma que, como o crescimento em 2006 decorre basicamente da demanda interna,
dificilmente haverá novos investimentos voltados ao setor
mais rentável -o externo.
"A demanda está muito calcada sobre produtos básicos e
populares, o que não estimula
áreas com potencial de maiores
investimentos e crescimento",
afirma Loures.
Segundo os dados do PIB do
2º trimestre, o consumo das famílias subiu 4% em relação a
igual período de 2005 e é um
dos principais "motores" do
crescimento atual.
É duvidoso, no entanto, que
esse ritmo continue acelerado
mais adiante, já que não se espera que o governo tenha fôlego para manter aumentos reais
no salário mínimo a partir de
2007 ou para a ampliação de
gastos nos programas sociais.
Segundo Mário Luiz Grieco,
presidente da multinacional
farmacêutica Bristol-Myers
Squibb, "embora o governo desenvolva uma série de programas sociais, também no sentido de angariar votos, o volume
de recursos injetado na economia não é suficiente para estimular investimentos para fabricação de produtos mais sofisticados".
Os investimentos do Bristol
neste ano serão 50% menores
do que em 2005, quando foram
"atípicos".
(FERNANDO CANZIAN)
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